Arco-íris: de arco, do Latim arco, e de Íris, deusa mensageira que tinha o mesmo nome da membrana que cobre a pupila, também chamada menina dos olhos porque pupila em latim é menina. Já o étimo remoto de arco está presente no grego árkeo, eu protejo, pois quem protege como que se dobra ou se inclina sobre o protegido. Designa um “composto de faixas coloridas, que aparece no céu em consequência da dispersão da luz solar em gotículas de chuva”, segundo o dicionário Aulete. É conhecido também por arco-celeste, arco da aliança, arco da chuva, arco de deus e arco-da-velha. O Grupo Arco-Íris e o Instituto Arco-Íris, que combatem a homofobia, organizaram neste mês, em Copacabana, no Rio de Janeiro, evento com mais de 1 milhão de pessoas. Celebraram a diversidade de orientação sexual com muita festa, mas lembraram também que homófobos assassinaram 266 homossexuais em 2011. Muitos deles continuam impunes, talvez repetindo os crimes.
Cano: do Grego kánna pelo latim canna, junco, tubo, flauta, mas também cajado e caniço, este do Latim cannitius. Passou a denominar objetos em forma cilíndrica, desde o cano da bota ou de outro calçado similar até o cano da arma ou da tubulação. A expressão “entrar pelo cano”, indicando dificuldades, alude ao cano de esgoto. Entrar pelo cano é, por engano ou fracasso na empreitada, terminar o caminho ali. O cronista e dramaturgo carioca Nelson Rodrigues (1912-1980) aperfeiçoou o ditado popular e adjetivou de deslumbrante o cano, como ironia.
Galinheiro: de galinha, mais o sufixo “eiro”, indicativo de lugar ou de ofício. Ao receber o sufixo, a vogal final, no caso o “a”, vai embora. Galinha veio do Latim gallina. O Latim diferenciava gallinarium, galinheiro, local onde as galinhas dormiam, de gallinarius, o criador dessas aves. Comquanto recurso importante na economia rural antiga, galinheiro, antes de ser substituído pela granja, que é um galinheiro em larga escala, se prestou a metáforas pejorativas, como nesta crítica de Nelson Rodrigues ao pessimismo do jornalista carioca Paulo Francis (1930-1997): “Paulo Francis é ressentido como um Raskólnikov de galinheiro”. A referência é ao personagem do escritor russo Fiódor Dostoiévski (1821-1881), que no romance Crime e Castigo assassina uma idosa e o faz de forma tão perfeita que só por remorso acaba revelando às autoridades o pavoroso crime.
Mensageiro: de mensagem, do Francês message, já alteração do Francês antigo mes, do Latim missus, particípio passado do verbo mittere, enviar. O Hino da Proclamação da República diz: “Mensageiro de paz, paz queremos,/ É de amor nossa força e poder/ Mas da guerra nos transes supremos/ Heis de ver-nos lutar e vencer!”. É um hino de letra e música muito bonitas, embora de difícil compreensão. A letra é de José Joaquim de Campos da Costa de Medeiros e Albuquerque (1867-1934) e a música, de Leopoldo Miguez (1850-1902).
Reversível: do Latim reversibile, declinação de reversibilis, o que pode ser mudado, em domínio conexo com reversus, de trás para a frente, em sentido contrário ou diferente. O mais comum é qualificar pistas que mudam de sentido de acordo com as conveniências dos horários no trânsito. Reversível é adjetivo de dois gêneros. São reversíveis porque, passada a necessidade, podem voltar ao estado anterior. Em Química, a definição é mais complexa, pois, ao voltar ao estado anterior, não se dá o mesmo que ocorre no trânsito. O estado anterior não volta a ser exatamente o mesmo.
Tranco: de palavra préromana, provavelmente adaptada do Gaélico tarrang, cravilha, que deu tranca em Português, designando o objeto que precedeu a chave das portas. Com a porta fechada, eram interrompidas a entrada e a saída das pessoas e de animais. Ao passar para o masculino, veio a indicar interrupção de novo e com este significado apareceu em entrevista do ministro Ayres Britto, presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), sobre o julgamento da Ação Penal 470, mais conhecida por Mensalão: “Este julgamento deu um tranco na corrupção.” Ao aposentar-se, por completar 70 anos, ele reconheceu que as graves decisões tomadas, com a condenação à prisão de personalidades referenciais da vida política, o grande problema não foi resolvido, mas arrefeceu um pouco.