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Etimologia

Redação Publicado em 03/07/2012, às 11h53 - Atualizado às 11h57

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Colina: do latim tardio collina, de collis, morro, outeiro, pelo italiano collina e pelo espanhol colina, designando pequena elevação, de declive suave, com menos de 50 metros de altura. Roma é a cidade das sete colinas, uma das quais é o Vaticano, sede da menor nação do mundo, com 44000 metros quadrados e 800 habitantes. As outras são o Capitólio, o Janículo, o Aventino, o Célio, o Esquilino e o Píncio. Os papas moram ali há vários séculos, mas, quando o imperador Constantino (272-337) lhes cedeu as primeiras terras e os primeiros prédios, a morada deles foi a colina Célio, e o primeiro a ocupá-la foi o papa Milcíades (270-314). Vaticano é nome de origem etrusca, cujo étimo está também em vate, poeta, e em vaticínio, profecia.

Etnia: do grego éthnos, povo que tem o mesmo éthos, costume, incluindo língua, lugar onde mora, usos, hábitos. Algumas etnias têm no Brasil designação pejorativa. Uma delas é a que qualifica o “polaco”. Para evitar isso, desde fins do século XIX “polaco” vem sendo substituído por “polonês”. Mas “polaco” chegou antes à língua portuguesa. O primeiro registro escrito é de 1562. Era tão pejorativo no Brasil que prostitutas europeias, de qualquer etnia, eram chamadas “polacas”. O preconceito tem a ver com o étimo do vocábulo, porque Polônia quer dizer rural, da roça, em oposição ao urbano.

Fumar: do latim fumare, queimar, fazer fumaça. No sentido de queimar cigarro ou charuto à boca provavelmente veio do francês fumer. Já as expressões “a cobra vai fumar” e “a cobra está fumando” procedem de frase lendária da II Guerra Mundial. Um soldado está fumando quando aparece o superior. O soldado joga o cigarro no chão, pisa nele, mas a guimba continua deitando fumaça. O general pergunta em que ele pisa e o subordinado responde que é uma cobra e ela está fumando. Dali por diante, em clima bem-humorado, sempre que se anunciava a batalha a cobra ia fumar, expressão que passou a indicar depois momento decisivo.

Neve: do latim nive, declinação de nix. A neve, no sentido literal, é o cristal de gelo que, agrupado em flocos pelo congelamento do vapor de água, está suspenso na atmosfera. Quando se precipita, cai a neve. No sentido metafórico designa qualquer coisa com tal aparência, como a clara de ovo batida até que ganhe consistência semelhante a um bloco de neve. O sobrenome de pessoas está no plural, Neves, por alusão a Nossa Senhora das Neves, pois teria caído neve para marcar o terreno onde, em Roma, seria erguida a Basílica de Santa Maria Maior. A expressão “até aí morreu o Neves” refere a morte trágica imposta por índios do Rio Grande do Norte a Joaquim Pereira Neves (século XIX), assessor do padre Diogo Antônio Feijó (1784-1843), regente do Império. No Rio, o assunto passou a dominar as conversas, mas, quando se procurava por novidades e vinham notícias velhas, o povo passou a dizer “até aí morreu o Neves”, isto é, disso eu já sei, quero saber de outras coisas.

Polaco: do polonês polak, de pole, campo, área rural. Os versos do poeta paranaense Paulo Leminski (1944-1989) são um exemplo desta desconfiguração. A aparência do poeta, declamando seus versos diante das câmeras do cineasta catarinense Sylvio Back (76), no filme Vida e Sangue de Polaco, reforça os vínculos inseparáveis do autor e seus versos. Ele é polaco na aparência e no sobrenome. O tema remete aos imigrantes. O cineasta que o filma descende de judeus húngaros que também vieram para a terra onde vivia o poeta, o Paraná, e onde ele fez a maior parte de sua obra poética, e o cineasta seus filmes. 

Volta: da raiz indoeuropeia wel-/welw, rodar, rolar, presente no étimo de voltar, do latim voltare. Paulo Leminski fala no coração de polaco que voltou. Mas por que voltou se já estava nele, que o  herdara dos avós pelos pais? Voltou porque, assim como o sangue circula no corpo, dando os sinais essenciais da vida, os sinais vitais, o poeta redescobre sua etnia, sua origem, sua cultura. E antigos temas voltam a circular em sua cabeça, a sede do coração no sentido metafórico tal como o entendemos. O poeta não diz “meu coração de polonês”, mas “meu coração de polaco”, orgulhoso dessa herança.