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Caso venha a saber de uma traição, pense bem antes de contar à vítima

por <b>Leniza Castello Branco</b>* Publicado em 14/09/2009, às 14h56

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Esta é uma situação delicada, que pode ocorrer a qualquer um - e ocorre mesmo, vez ou outra, infelizmente. Susana vai a um restaurante e lá encontra o marido de Carla, sua amiga, acompanhado de uma mulher, em atitude romântica. Ela leva um susto, porém não faz escândalo, afinal é uma mulher sensível. Mas acaba se perguntando: "Devo contar para Carla?" Outra situação nada incomum: alguém conta para Marta que sua melhor amiga, Lúcia, trai o marido. Ela se pergunta de novo: "Que faço? Conto ou não para ela que sei?" São circunstâncias desconfortáveis, sem dúvida, e que colocam os envolvidos em um dilema ético. Susana deve ser fiel a Carla e contar-lhe o que viu? Mas e se ela já souber, ou preferir não ficar sabendo? E se, ao ouvir o relato da amiga, sentir-se obrigada a tomar uma atitude? Por outro lado, ter a informação de que a amiga está sendo enganada e ficar quieta não seria omissão? Não há saída fácil. Susana sente-se dividida entre esconder a verdade e o risco de provocar uma catástrofe. Ficará mal de todo jeito. Talvez deva perguntar-se o que gostaria que fosse feito caso ela é que estivesse no lugar Carla. Além disso, questionar-se sobre se não existe algo escondido em seu íntimo que secretamente está gostando do que viu. Se não pensa em contar apenas porque tem inveja da relação de Carla com o marido e se alegra com a sua infelicidade. Claro que não é simples obter essa resposta de si mesma, pois é bem possível que essa inveja, caso exista, seja inconsciente. Conscientemente, ela acredita que quer contar para ser solidária com a amiga, vítima de um canalha traidor. O resultado de sua atitude, no entanto, pode ser a perda da amizade. O marido com certeza vai jurar que há um engano, que era um sósia, ou que estava apenas consolando a Mariazinha, vítima de uma paixão não correspondida, e é bem possível que Carla acabe direcionando sua raiva para Susana. As mesmas reflexões seriam bem-vindas na resolução do dilema de Marta - contar ou não para Lúcia que sabe de seu caso extraconjugal. Será que a ideia de contar não é uma vingança inconsciente provocada pelo ciúme ou competição que, mesmo sem se dar conta, ela sente em relação à amiga? Será que Marta, no fundo, também não gostaria de trair o marido? Se forem realmente amigas e Lúcia confiar nela, um dia lhe falará sobre seu caso. Ou não. O segredo é dela. A confidência deve partir dela. Agora, vamos pensar do ponto de vista masculino. Estou quase certa de que um homem contaria ao amigo caso tivesse visto a mulher dele com outro. Porém, se encontrasse um amigo traindo a mulher, isso não contaria nem sob tortura. É possível que nem enfrentasse dilemas éticos. O amigo não pode ser traído, mas pode trair - coisas das diferenças entre os sexos. Claro que falo de maneira geral, pois eu mesma vi homens sensíveis em dúvida sobre qual atitude tomar em circunstâncias semelhantes. A verdade é que nossos comportamentos muitas vezes são ditados por motivos inconscientes - e precisamos nos lembrar disso. O melhor mesmo talvez seja deixarmos que cada um viva seu casamento ou namoro como quiser. Afinal, como escreveu o poeta mineiro Carlos Drummond de Andrade (1902-1987), "o que se passa na cama é segredo de quem ama...".