EM CASA RECUPERANDO-SE DA PERDA DE BEBÊ, A PAULISTA TEM PERFORMANCE PREMIADA EM CANNES
Redação Publicado em 28/05/2008, às 13h39
por Alberto Santiago
Batendo Angelina Jolie (32), por The Exchange, Julianne Moore (47), por Ensaio Sobre a Cegueira, do paulistano Fernando Meirelles (52), e Catherine Deneuve (64), por Un Conte de Noël, Sandra Corveloni (43) foi a Melhor Atriz no 61º Festival de Cannes. Além destas três estrelas, estavam no páreo a argentina Martina Gusman, por Leonera, a espanhola María Onetto, por La Mujer Sin Cabeza, e a albanesa Arta Dobroshi, por Le Silence de Lorna. Com sua contundente interpretação da doméstica Cleuza, mãe de quatro filhos e grávida de um quinto, em Linha de Passe, dos cariocas Walter Salles (52) e Daniela Thomas (48), Sandra foi eleita pelo júri presidido por Sean Penn (47) e quebrou jejum na categoria 22 anos após Fernanda Torres (41) levar o mesmo troféu pelo belo Eu Sei Que Vou te Amar.
"Achava que o filme ia ganhar algo, mas não imaginava que iria ser eu. Mas claro que, nas filmagens, brincávamos. Quanto mais me 'enfeiavam' para o papel, mais piadas do tipo 'o que uma pessoa não faz para ir a Cannes?' eram feitas", contou Sandra, nascida em Flórida Paulista (SP). "Estou muito feliz, claro, mas, mais que um prêmio para mim, este é um reconhecimento ao nosso cinema", afirmou ela, que recebeu a notícia em casa, em São Paulo. Casada há dez anos com o italiano Maurizio De Simone (50) e mãe de Orlando (6), ela não foi à França pois, no dia 6, perdera o bebê que esperava, Ana Clara, no quinto mês de gestação. "Em um mês minha vida deu um looping. Perdi um filho e ganhei este prêmio", avaliou ela. Ao receber o troféu em seu nome ao lado de Salles, Daniela disse, em português: "Querida, você não pôde vir com a gente, mas seu espírito sempre esteve conosco."
Formada pela PUC-SP e atriz há 23 anos, Sandra pertence à elite do teatro nacional, integrando há 15 anos o Grupo Tapa, de Eduardo Tolentino (53), com quem divide a direção de Amargo Siciliano, em cartaz em SP. Entre outras montagens com o grupo estão as memoráveis Contos de Sedução e Do Fundo do Lago Escuro. Seu teste para Linha de Passe, filmado na Cidade Líder, periferia na região leste da capital paulista, durou um ano. "Eles sabiam o que queriam: que a família parecesse real. Por isso, demoraram para escolher. Mas valeu a pena", lembrou ela, que, antes do longa-metragem, havia feito os curtas Flores Ímpares, de Sung Sfai, e Amor, de José Roberto Torero (44).
O Brasil brilhou ainda na 40ª Quinzena dos Realizadores, mostra do festival, com o diretor pernambucano Bruno Bezerra, o Tião (25) recebendo o prêmio Olhar Novo pelo curta Muro, que traz no título o mesmo substantivo que nomeia o vencedor da Palma de Ouro de Melhor Filme, o francês Les Murs. Sandra e Tião passam a integrar o panteão brasileiro consagrado no festival. A linhagem foi aberta em 1953, com O Cangaceiro, de Lima Barreto (1906-1982), Prêmio Internacional de Melhor Filme de Aventura. A Palma de Ouro, o prêmio máximo, veio em 1962, com O Pagador de Promessas, de Anselmo Duarte (88). Cinco anos anos depois Glauber Rocha (1939-1981) levou o Prêmio da Federação Internacional de Imprensa Cinematográfica por Terra em Transe. Em 1969, Glauber foi o Melhor Diretor por O Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro. Em 1977, seu curta Di Cavalcanti também foi laureado. Em 1982, Marcos Magalhães levou prêmio pelo curta-metragem de animação Meow. Em 2002, Eduardo Valente (32) ganhou o Cinéfondation por Um Sol Alaranjado.
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