Jovem enfrenta dilema ao desejar sair da primeira relação amorosa
por Nahman Armony* Publicado em 15/03/2010, às 15h45 - Atualizado às 15h48
N o final da adolescência ou início da idade adulta, alguns rapazes e moças abrem espaço para a entrada de uma namorada ou namorado em sua vida. É a transição do mundo pós-infantil para o préadulto. Na infância e na puberdade, eles tinham garantido o apoio dos pais. Chegada a idade de se lançar em voo solo, sentem falta dessa proteção. O espaço aberto pelo processo de maturação faz com que o jovem procure um complemento que o faça sentir-se abrigado.
Essa busca de um namorado ou de uma namorada para trocar intimidades físicas e psíquicas está alicerçada em especial na lembrança inconsciente da relação afetiva e corporal mais primitiva com a mãe, quando vigorava a sensação de "dois em um", extremamente prazerosa e tranquilizadora. É por isso que não basta um amigo para preencher o espaço deixado pelo afastamento dos pais. Falta ao amigo a relação física, que elevaria à potência máxima possível os afetos de proteção, confiança e segurança. O jovem adulto acaba, pois, se ligando amorosamente a uma pessoa com a qual tem afinidades intelectuais, culturais e afetivas, mesmo que não esteja presente a atração física e psíquica ligada a fatores mais viscerais, talvez hormonais, genéticos e outros a que chamamos "química".
Tudo corre bem até que aparece uma terceira pessoa que se apossa do corpo e da psique do jovem. É a flechada de Cupido, um deus implacável, que não respeita desejos conscientes. A despeito do amor nutrido pela namorada ou namorado, é impossível negar essa nova atração irresistível. Ela é tão intensa que provoca uma cegueira ética, impelindo-o para um relacionamento amoroso clandestino. Vêm então a sensação de culpa e a tentativa de negar a força da nova relação, reafirmando o amor incondicional e infinito pela pessoa com quem já vinha se relacionando. Mas aos poucos a intensidade inusitada do que sente se impõe e joga o jovem num dilema: com quem ficar? Ele se sente comprometido com a primeira pessoa que entrou em sua vida, pelas promessas já feitas, próprias e inevitáveis das relações amorosas. Por essa culpa e em nome da ética, poderá, com muita dor, renunciar ao novo amor e aprisionar-se em um casamento que poderá até ser feliz, mas que presumivelmente não terá a alegria e a vitalidade que haveria na outra relação. Outro fator que pesa é a sensação de segurança resultante do tempo de convivência, dos planos para o futuro a dois, das redes familiares que se formam, das reafirmações de um amor verdadeiro que se pretende indestrutível. Mesmo com todas essas sensações será uma escolha acompanhada de terrível sentimento de perda de algo novo, que poderia ser muito bom. A opção pela segunda relação também traz sofrimento, pela perda de uma ligação boa, carinhosa e confiável, pela culpa e também pelo sentimento de ser um canalha que coincidirá com o julgamento social.
O dilema é de difícil solução e será preciso esperar um tempo para que nessa dinâmica a três apareça uma escolha. Quando falo de dinâmica, penso nas diferentes reações possíveis de cada um dos componentes do trio em suas interações. Não há o que fazer a não ser esperar que a situação se desenvolva de modo que, por seu movimento próprio, venha a apresentar uma saída. Esta, porém, nunca será inteiramente satisfatória.
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