por Deonísio da Silva* Publicado em 14/02/2011, às 17h03
Aparição: do latim apparitione, declinação de apparitio, palavra ligada ao verbo parere, aparecer. É do mesmo étimo do nome próprio Aparício. São célebres as aparições de Nossa Senhora, fenômenos ocorridos em Lourdes, na França; em Fátima, em Portugal; e em Aparecida do Norte, no Brasil. Em Lourdes, ergueu-se um santuário no local onde Nossa Senhora apareceu à camponesa Bernadete Soubirous (1844-1879) e suas amigas a partir do dia 11 de fevereiro de 1858. Mas não foi fácil consolidar a crença de que as coisas ali havidas eram sobrenaturais. A gruta foi fechada e depois reaberta por Carlos Luís Napoleão Bonaparte, Napoleão III (1808-1873), por insistência de sua esposa, a imperatriz Eugénie de Montijo (1826-1920). As várias construções ao redor da gruta espalham-se por 51 hectares e ali são faladas seis línguas: holandês, alemão, francês, inglês, espanhol e italiano. Em 1943, Jennifer Jones (1919-2009) recebeu o Oscar de Melhor Atriz no papel da menina no filme A Canção de Bernadete. Linda Darnell (1923-1965) fez Nossa Senhora e não levou prêmio algum.
Baiana: de baía, do latim baia, étimo que aparece também no latim vulgar baiare, arredondar. É provável que tenha vinculação com a forma germânica baga, curva, em forma de arco. No português, baía veio a designar recôncavo onde navios pudessem aportar. Quem consolidou o nome do atual Estado como Bahia foi Américo Vespúcio (1454-1512), mas com o nome completo de Bahia de Todos os Santos, por ter sido descoberta, em 1501, no dia 1º de novembro. O Acordo Ortográfico de 1943 manteve Bahia, mas determinou que os compostos derivados do nome perdessem o "h". Por isso, baiano e baiana são escritos assim. Nem todos os baianos e baianas famosas nasceram na Bahia. Carmen Miranda (1887-1938), cujo nome completo é Maria do Carmo Miranda da Cunha, nasceu em Portugal, na freguesia de Marco de Canavezes, Província da Beira-Alta. Vendia gravatas, mas, como gostava de cantar no trabalho, perdeu o emprego: seus colegas paravam para ouvi-la. Por ser baixa, usava sapatos de saltos enormes. O radialista carioca César Ladeira (1910-1969) passou a chamá-la "A Pequena Notável", expressão agregada a seu nome. Ela cantava a música O que É que a Baiana Tem? e estava na plateia um empresário americano que a levou para a Broadway. As marcas de suas mãos e pés, além do autógrafo, estão na célebre calçada da fama, nos Estados Unidos.
Candelabro: do latim candelabrum, palavra ligada a candela, candeia, e a candere, arder, iluminar. O mesmo étimo está presente em candeeiro, candelária e candidato, dando ideia de clareza, brancura, iluminação. Candelária, por exemplo, designa a festa religiosa da Purificação da Virgem Maria, em 2 de fevereiro, durante a qual os participantes carregam velas, candeias e círios, às vezes em procissões que iluminam os caminhos por onde passa a multidão. Candelabro é um castiçal ou luminária com vários braços, na ponta de cada um dos quais há uma vela ou lâmpada. O primeiro registro aparece nos escritos do padre Antônio Vieira (1608-1697). Diz ele no Sermão da Sexagésima: "O candelabro, por exemplo, provia iluminação dentro do tabernáculo, já que não havia incidência de luz externa em seu interior. Isso significa que a compreensão das coisas de Deus não vem pela iluminação intelectual ou racional, mas pela iluminação dada pelo Espírito de Deus e nada mais".
Goró: de origem controversa, talvez derivação do quicongo ngolobo, caramujo, lesma, indivíduo molengão, misturado ao tupi rowa, amargo, veio a designar o trago de cachaça e, por extensão, qualquer bebida alcoólica.
Ousado: de ousar, do latim tardio ausare, ter coragem de dizer e de fazer. Sobre ousados e tímidos escreveu o maranhense Henrique Maximiano Coelho Neto (1864-1934): "O ignorante é ousado, o sábio é tímido. O que se vê é a mediocridade vencendo, por ser atrevida; o valor esquecido, por não querer afrontar".
Pagela: do latim pagella, prestação. O latim pagina, fila de parreiras e também coluna escrita que lembra a videira, influenciou outro sentido para pagela, conquanto presente em poucos dicionários, mas de uso amplo e irrestrito em calendários, as folhinhas. O étimo está presente no latim compaginare, reunir. Além de página, outras palavras vieram das vinhas para os livros, de que é exemplo vinheta, originalmente desenho de folhas de parreira para enfeitar a abertura de capítulos.
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