Compromissos são fortes porque envolvem princípios e valores
por Rosa Avello* Publicado em 24/01/2011, às 20h01
Uma cliente prometeu ao namorado ajudá-lo a pagar um curso. Após alguns meses pagos, o namoro se rompeu e ela entrou em conflito: "Tenho ou não o compromisso de continuar pagando?" Outro dia ouvi jovens falando que "assumir compromisso" é brega. "Eu assumo um namoro, um rolo, até um casamento, mas não essa obrigatoriedade de assumir compromisso."
O assunto é nebuloso no cenário das relações afetivas. Alguns honram compromissos inexistentes, outros desrespeitam os existentes, há os que franzem o nariz frente à ideia de se compromissar e os que ficam indiferentes a ela, como se fossem imunes às consequências.
Para jogar alguma luz nesse cenário confuso, convido o leitor a me acompanhar por este e pelos próximos textos que publicarei nesta página.
De saída, é preciso pontuar que a palavra compromisso significa "com mais promessa". Talvez por isso o senso comum confunda uma coisa com a outra. No entanto, a diferença entre eles é grande: a promessa é verbalizada e se sustenta enquanto houver o desejo que deu origem a ela. Compromisso é uma postura interna que precede a ação e lhe dá um rigoroso sentido.
Promessas são resultado de intenções surgidas em determinadas circunstâncias. Se a ocasião muda, o desejo de cumpri-las pode acabar. Por isso é relativamente fácil quebrar promessas - a não ser que sejam garantidas por compromissos, que se apoiam em princípios ancorados em valores e os valores de uma pessoa são quase imutáveis (exceto em casos especiais), o que torna os compromissos mais consistentes do que as promessas.
Em outras palavras, compromissos são acordos que se faz em primeiro lugar consigo mesmo (em respeito aos próprios princípios e valores) e depois com os outros. É por isso que costumam gerar expectativas, mesmo que não sejam enunciados. Pressupõe-se que, se alguém tem caráter, valoriza os compromissos e sempre irá honrá-los.
Quanto mais consciência se tem dos próprios princípios e valores, mais consistentes e confiáveis são os compromissos estabelecidos. Por exemplo: alguém que tem consciência de seu princípio de ser livre, bem como do valor que dá à própria autonomia, desejará não comprometer-se com pessoas cujos princípios e valores contemplem uniões afetivas duradouras. Pode-se dizer que essa pessoa é egoísta, uma vez que vive apenas em função de si mesma, contudo não se pode dizer que seja descompromissada, pois é o compromisso que tem consigo mesma que a impede de comprometer-se com os outros. Por outro lado, se ela valorizar também a transparência e tiver como princípio ser honesta com o outro, vai fazer questão (se comprometer) de que não haja dúvidas sobre seu desapego afetivo. Neste caso, embora o senso comum rotule a pessoa de descompromissada, ela na verdade se compromete, pois age de modo a evitar que o outro crie expectativas de envolvimento e termine por se desiludir.
Infelizmente, esse grau de consciência é raro. No geral, as pessoas não se percebem e quando fazem escolhas egoístas tendem a negá-las. Ao desrespeitar a si mesmas, têm ações incoerentes que confundem e magoam quem nelas confia. Mas isso já é tema para nossa próxima reflexão.
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