Em entrevista exclusiva à Revista CARAS, Edvana Carvalho vibra com oportunidades em Renascer e revela planos para depois da novela
Longe da TV, Edvana Carvalho (55) surge completamente diferente de Inácia, sua personagem na global das 9, Renascer. Em conversa exclusiva com CARAS, a baiana fala que em comum com a cozinheira do remake só tem a ligação com a religião e o cuidado com os filhos. Animada diante do reconhecimento, a atriz avisa que não deixa o sucesso subir à cabeça, celebra a diversidade na televisão e planeja voltar ao teatro com o solo Aos 50 – Quem Me Aguenta?. “Para aguentar uma mulher de 50 anos tem que ter tutano, tem que ser babado, porque nós somos exigentes e já estamos sem paciência para bofes ‘uós’, para gente hipócrita”, dispara ela, no Jo&Joe, no Rio de Janeiro.
– Inácia é seu maior destaque em novelas até agora. O que mudou, além do reconhecimento?
– Estou feliz com esse trabalho, recebendo muito amor do público, mas não tenho por que mudar. Eu quero que mude minha conta bancária, aí sim (risos)! O artista, para mim, não é glamour, ele é aquele soldado que fica de frente. Não tem por que o artista ser uma coisa metida a besta, esse não é o espírito da arte, a arte é o povo. Como você se sente próximo ao povo se você nem se sente povo? Não quer colocar o pé no chão porque fez uma novela, um filme? Não sei se é porque, para mim, isso está acontecendo agora, mas não acho que minha personalidade, meu caráter, tenha que mudar por estar fazendo sucesso, sou a mesma pessoa. O que quero que mude mesmo são os acessos, são as marcas, os produtos olharem para mim e ver que sou uma mulher que também posso vender, porque o meu povo consome. Então, é isso: reconhecimento de poder escolher o que eu quero fazer.
– A paixão pela arte começou pelo palco, não é?
– Eu queria ser artista porque é da minha essência. Eu nunca tinha pensado em vir para a TV, nem para o cinema, porque a minha vibe era fazer teatro, era dominar essa arte, fazer improviso, dançar, cantar. Cinema e TV são caminhos a que a minha trajetória me levou, mas não é a coisa mais importante da minha carreira.
– O Bando do Teatro Olodum te fez chegar até aqui.
– Claro! Eu já tinha oito anos de teatro quando fiquei sabendo da Oficina do Bando do Teatro Olodum. Eu sou parte da primeira turma, a que fundou, e quando a gente chega lá, já dá de cara com profissionais que vão nos oferecer uma formação mais profissional, tanto no canto, na dança, na interpretação, na criação de textos. É uma escola que fomentou o meu desenvolvimento crítico social, político, de mulher preta, de todas essas lutas, é uma formação completa. Eu sou bando de teatro até hoje. É um divisor de águas, porque o teatro era totalmente branco numa cidade totalmente preta e aí a gente disse: ‘A gente também é artista. A gente sabe fazer teatro’. As pessoas perguntam na internet: ‘Onde ela estava?’, ‘Como é que a gente não viu essa atriz?’. Eu já estava aí, as oportunidades é que demoram a chegar.
– Agora está feliz em Renascer! Você chegou a dizer que esta é a primeira vez que o País se vê de forma tão diversa na TV...
– É porque, queira ou não, nós somos um País bem sincrético e abraçamos várias religiões, isso é muito bonito. Só que, de umas décadas para cá, é como se isso tivesse acabado no Brasil e a gente está sendo violento uns contra os outros, porque cultuamos a nossa fé de forma diferente e acho que não tem Deus nessas coisas, porque Deus é um amor universal. Então, acho lindo quando tem na cena da novela o padre Santo, papel de Chico Diaz, ou o pastor Lívio, vivido por Breno da Matta, tomando um café com bolo com a Inácia, falando da vida ou falando das suas formas de cultuar Deus, não com preconceito, mas com curiosidade. Isso é diversidade.
– Além das religiões, a trama representa várias etnias...
– É óbvio que não pode mais ficar só passando pessoas brancas na televisão, porque não é assim que é constituído o povo brasileiro. Se qualquer um de nós, até os mais retintos brasileiros, for fazer um teste, vai ver que tem a mistura, a miscigenação no sangue. Chegou a hora, as pessoas querem se ver representadas e não só no noticiário com um traficante, malandro, estuprador, porque é só essa imagem que passam do povo preto na televisão; e o povo indígena é que são os coitados, analfabetos que estão morrendo de fome. A gente não sabe, não estuda na escola a grandeza da cultura dos povos originários da nossa terra.
– Você é religiosa?
– Sou muito religiosa. O candomblé está na minha vida por herança de família, minha mãe sempre me levou à umbanda quando eu era criança, uma tia me levava à igreja católica e sou batizada e crismada. Quando cresci, fiz curso de aprofundamento no espiritismo, quase estava fazendo um curso para dar passe, mas parei. Depois de um tempo, fui entender como funcionava o budismo. Na minha adolescência, quando estava entrando para o teatro, frequentei uma igreja evangélica em que as mulheres usavam véu, saião, uma coisa muito tradicional, mas tinha um órgão e uns cânticos tão lindos que aquilo me chamava atenção e comecei a frequentar.
– E por que parou de ir?
– Quando começaram a dizer: ‘Não pode fazer teatro.’ ‘Não pode ir a isso.’ Aí eu saía fora porque sempre acreditei que Deus é uma coisa tão maravilhosa que não é possível que ele tenha dado a inteligência ao ser humano de criar um instrumento musical ou de criar uma câmera de TV ou de criar, seja lá o que for, para a gente não poder usufruir. A gente pode usufruir sim, nada disso é pecado. Não pode é matar o outro, roubar dinheiro público, que deixa as pessoas morrendo à mingua na fila do hospital ou sem escola, sem comida, sem vacina, isso que não pode. Não pode matar mulher, porque ela não te quer mais, não pode cometer feminicídio, não pode mexer com as crianças, com os idosos. Essas coisas acho que Deus não gosta, mas no mais, a gente tem que aproveitar tudo!
– A Inácia cria a Ritinha nas rédeas curtas. Como você é como mãe e como avó?
– Como mãe, assim como a Inácia, fui terrível (risos). Agora, como avó sou ótima, deixo comer doce antes da comida, faço tudo o que o meu neto quer. Eu sou uma avó de 2024, é bem diferente. Sou vovógueti, mistura de avó com periguete (risos).
– Parafraseando a peça, aos 50, quem te aguenta?
– Para aguentar uma mulher de 50 anos tem que ter tutano, tem que ser babado, porque nós somos exigentes e já estamos sem paciência para bofes ‘uós’, para gente hipócrita. A gente não tem mais tempo para viver isso. Quando chega os 50 é preciso saber que seu passaporte está terminando, está quase expirando (risos). Você tem que ser prática, não dá mais para ter gente ‘uó’ na sua vida e nem no trabalho. Eu prefiro até perder dinheiro se for para trabalhar com gente assim!
FOTOS: ANDRÉ IVO; STYLING: RODRIGO BARROS; BELEZA: VIVI GONZO; ASSISTENTE DE BELEZA: CAMILA GONZO; AGRADECIMENTOS: JO&JOE RIO
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