Em entrevista à CARAS Brasil, a psicóloga Letícia de Oliveira reforça a importância da rede de apoio no puerpério após caso de abandono de Giselle Itié vir à tona
Giselle Itié (42) participou do podcast Exaustas, na última segunda-feira, 18, e relembrou um momento difícil que enfrentou após o nascimento de seu filho, Pedro Luna, em 2020. A atriz contou que não teve apoio do então companheiro, o ator Guilherme Winter (45). Em entrevista à CARAS Brasil, a psicóloga Letícia de Oliveira comenta o caso da artista e reforça a importância da rede de apoio no puerpério.
Dez dias após o parto, o ator teria deixado Gisele sozinha em meio ao isolamento da pandemia, uma experiência que a atriz descreveu como assustadora. "Entendi o que era rede de apoio quando eu senti falta de rede de apoio. Muita solidão porque eu morava no Rio, mas foi uma gestação muito difícil, e meu pai e minha mãe morando em São Paulo. O tempo que eles tinham, eles iam para o Rio ficar comigo. Foi muito difícil, aí eu tive a grande ideia de parir em Florianópolis e eu fiquei mais sozinha ainda", contou.
"Resumindo, pari em São Paulo. Entrou a pandemia e depois de dez dias o pai do meu filho decidiu ir para o Rio de Janeiro. E minha irmã ligou para minha mãe e disse: 'Pega qualquer mala e pelo amor de Deus vai com a Gi'. O mundo estava fechando. Eu com aquele bebê ali, foi assustador e minha mãe foi o maior apoio que eu poderia ter. Ela aguentou uma puérpera totalmente violentada. Foi horrível", disse Gisele sem conseguir segurar as lágrimas.
Para a psicóloga, as fases da gravidez e do pós-parto, são a de maior vulnerabilidade de uma mulher. “Apesar do filho ser do casal, todas as mudanças físicas, hormonais, emocionais, toda a dinâmica e as abdicações são feitas únicas e exclusivamente pela mulher. É a mulher que engravida, que ganha peso, que tem as mudanças corporais, que deixa de comer algumas coisas, de beber, é a mulher que tem que se preocupar com qual produto ela pode passar – talvez um repelente que precise passar -, uma vacina que tem que tomar (...) O parto, a dor do parto, o pós-parto, a amamentação; é uma carga emocional muito solitária”, reforça Leticia.
E, segundo a especialista, muitos homens não conseguem ter dimensão de tudo isso. “E só veem a chegada do filho como a chegada de um cachorrinho novo. Que chegou, que tem que colocar ração, e não se preocupam com o bem-estar da mulher. Acredito que é uma fase muito vulnerável, muito solitária, que a gente, como mulher, perde identidade porque a gente não se reconhece mais nas nossas atitudes, nas nossas falas, escolhas e no nosso corpo. A gente se sente muito sozinha. E essa solidão aumenta se o parceiro não tem a capacidade de empatizar, de cuidar, de se preocupar”, explica.
“Muitos pais olham só para a criança e deixam de olhar para a genitora da criança. Não olham todo o processo de doação, de abdicação. Olham simplesmente como um fruto que chegou sem ter custo algum. E tem muitos homens que também não conseguem olhar aquela mulher e se identificar. E acabam rejeitando; o que deixa a sensação de solidão, de despertencimento ainda maior. Então, infelizmente, a gente descobre quem é um parceiro, quem é um homem pronto para ser homem – porque o cara pode ser pai, mas ele não necessariamente é um homem”, emenda.
Ser pai e homem é complexo em uma geração onde se vê o nível de egocentrismo e de machismo ainda muito instituído, diz Letícia. “São poucos os homens que conseguem ser parceiros e pais. Alguns conseguem ser parceiros e não conseguem exercer o papel de pai. Outros conseguem ser bons pais, mas não conseguem exercer o papel de um bom parceiro, de um bom companheiro. E isso acaba deixando muito trauma para a história da mulher”, finaliza a psicóloga.
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