Nos arredores de Florença, na Itália o estilista ergueu seu templo de luxo e prazer
Redação Publicado em 10/08/2010, às 15h26 - Atualizado às 19h04
Uma noite, no começo de janeiro, Roberto Cavalli se deitou em sua cama de veludo vermelho às 2h30 da manhã, depois de terminar uma longa sessão de fotos em seu novo estúdio particular, em casa, na Itália. "Estou cansado", murmurou o designer de 68 anos no dia seguinte, com um cigarro Dunhill pendurado nos lábios. Enquanto atacava mais um maço novo, o impressionantemente bronzeado Cavalli arrumou seu estúdio revestido de resina que estava cheio de vestígios da noite anterior: um urso de pelúcia gigante "descansava" ao lado de uma Harley-Davidson e uma máquina de bronzeamento artificial, no formato de uma cadeira de dentista, pingava um líquido em vestidos de festa Cavalli descartados.
O estúdio serve de entrada para a moderna e fascinante casa de um único quarto, recém construída em um terreno de 130 mil m2, que ele já tinha na área rural de Florença. A construção é uma caixa de vidro e folhas de bétula amareladas, cuja fachada de telas de malha de aço se abre como um livro e é controlada remotamente.Os outros três lados da residência foram erguidos em uma colina inclinada, dando a impressão de estarem submersos em uma caverna subterrânea e futurística.
Cavalli contratou o arquiteto italiano Italo Rota, com quem já havia trabalhado antes em outros empreendimentos, como lojas e boates, para cuidar da construção que levou um ano para ficar pronta. "Quando começamos, pensamos 'o que poderemos fazer'", relembra Cavalli, bebericando em um pequeno copo da coleção 2005, de um vermelho intenso e um rótulo de zebra. "Vamos fazer algo forte!". O mundo do "não" é para os tolos nas terras de Cavalli. Com uma eficiência de tirar o fôlego, o designer acertou em cheio as paredes impregnadas de burocracia italiana e surgiu triunfante com uma licença para construir uma das mais modernas casas já erguidas na imaculada região montanhosa. O design inovador de Rota fez com que a casa fosse escavada na pedra de arenito. Isso permitiu a criação de uma adega e de uma queda d'água, que irriga plantas e ervas que crescem ao lado da casa (e também alimenta uma jacuzzi externa). A estrutura original da construção é naturalmente isolante e o aço usado na magnífica escadaria escultural, que exigiu quatro meses de trabalho artesanal de seis homens, foi obtido localmente. Quando abertos, os adornos nas placas de metal evocam oliveiras; quando fechados, a casa parece desaparecer na paisagem. O teto do estúdio é perfurado com janelas retráteis. E logo ao lado da porta, fica o heliponto para viagens rápidas entre Florença e Milão.
"Eu me divirto e me sinto como uma criança aqui", diz Cavalli. Ele usa o espaço como um laboratório de fotografia e design de moda e um lugar para brincar com a decoração, mudando frequentemente a combinação do mobiliário de total vermelho ou indiano para a atual mistura de rico veludo roxo, tapetes persas e exuberantes estampas animais, bem ao estilo Cavalli. O que parece ser mais permanente, no entanto, é uma rajada de excesso de prazer. A casa, construída de acordo com os princípios da perspectiva renascentista, é um verdadeiro "antro" de deleites. Entre as tentações estão uma picape de D.J., que aparenta ter sido arrancada das vigas da Pachá, um projetor de cinema, uma cama feita sob medida "apimentada"
com animais empalhados e um sistema de iluminação inteligente, que permite que Cavalli
troque a cor das varandas de vidro e da fachada de verde para hot pink apenas com um clique.
Todas essas maravilhas tecnológicas dividem espaço com antiguidades arrasadoras: bustos
romanos, esculturas persas do século 4 e pinturas medievais a óleo que conquistam uma harmonia inusitada em relação à casca moderna da construção.
A casa tem uma atmosfera tão forte de clube nortuno que Cavalli nem precisa mais sair.
De fato, ele diz que está cansado do circuito de festas e que vai entrar em uma espécie de disco rehab. "Começou a ser como um trabalho", diz, deixando escapar um suspiro profundo. "Hoje estou tentando encontrar outros valores". "Estou um tanto solitário neste momento", ele continua. "As pessoas gostam de me ver como o grande homem das festas. Se digo que estou aqui sozinho, elas não gostam". Dito isso, ele não está exatamente só. Cavalli mantém um macaco em miniatura em uma gaiola do tamanho do King Kong e um pastor alemão que corre solto por todo o lugar. "Fique longe do macaco - ele é mau com as mulheres", avisa, enquanto dá um beijo na boca do animal peludo. E, quando a sua criatividade acaba, sempre existe o bronzeamento para mantê-lo ocupado.
"Quando os jornalistas dizem, 'que cor bonita
você tem!' eu posso dizer, 'oh, estava na África. Foi lindo - só festas'. Eles simplesmente amam
isso", diz Cavalli, caindo na gargalhada para, logo em seguida, se acalmar. Inclinando-se para perto, ele acrescenta, "a coisa mais importante, querida, é saber como vender a si mesmo. E saber como fazer os outros sonharem. Eu faço as pessoas sonharem. E é por isso que eu não quero ser muito sincero com você hoje". Mais tarde, ele me acompanhou até a escada de aço em formato de pétalas que leva aos seus cômodos particulares. "Amo meus banheiros", ele comenta mostrando uma pedra oblonga no box do chuveiro, com três cabeças gigantes em uma fileira. "Venha cá", ele diz meio brincando. "Quero te apresentar à verdadeira senhora desta casa". Entramos no quarto dele e, atrás do tapete de pele, uma gata persa descansava sobre um alto-falante. "O nome dela", ele murmura com maldade, "é Pussy".
Este site utiliza cookies e outras tecnologias para melhorar sua experiência. Ao continuar navegando, você aceita as condições de nossa Política de Privacidade