Vírus da encefalite de Saint Louis chega ao homem pelos pernilongos
Artur Timerman Publicado em 21/09/2006, às 16h08
A mídia divulgou a ocorrência de dez casos de encefalite de Saint Louis em São José do Rio Preto (SP) nos últimos seis meses. A doença ganhou esse nome porque foi descoberta em 1933 em Saint Louis, no Missouri, Estados Unidos. Encefalite é inflamação do tecido encefálico, ou cerebral. A encefalite de Saint Louis é causada por um vírus. Faz parte de um grupo de encefalites chamadas arboviroses, ou seja, viroses transmitidas por mosquitos. São cerca de 150 os vírus que podem ser passados aos humanos por aqueles insetos. O da encefalite de Saint Louis vive sobretudo em animais silvestres. Provoca a doença também neles. Os pernilongos, um tipo de mosquito, picam animais doentes e, em seguida, um ou vários humanos, passando-lhes o vírus. Para que a doença se espalhe é preciso que o pernilongo pique um doente e depois pique pessoas sadias, infectando-as com o vírus. Isso tem ocorrido cada vez mais facilmente devido ao desequilíbrio ecológico. Os homens destroem florestas e constroem casas até no meio delas, invandindo áreas que não deveriam receber moradias. Outro hábito que põe os humanos sob a ameaça de doenças de animais silvestres é o chamado naturismo. As pessoas entram no mato em busca de aventura quase sempre despreparadas para enfrentar os perigos que esconde. É comum não se preocuparem nem em utilizar repelente de insetos, muitos deles transmissores de doenças como a febre amarela e a própria encefalite de Saint Louis.
O período de incubação do vírus é de até três semanas. Ele se multiplica no organismo, que produz anticorpos para tentar neutralizar sua ação. Os sintomas são: febre, mal-estar e dores pelo corpo. O vírus cai na correntesanguínea e, como tem predileção pelas células do sistema nervoso central, chega ao cérebro. Penetra em suas células e as inflama. O tecido cerebral incha. O sintoma é dor de cabeça intensa. Aumenta a pressão no interior do crânio e a pessoa tem turvação da visão, vômitos e alteração do nível de consciência. Fica sonolenta, confusa, às vezes apresenta convulsões. Se o inchaço não é controlado, pode ocorrer "engasgamento", ou seja, aumento da pressão sobre a base do cérebro, onde estão os centros de controle da respiração e do coração. Nos casos mais graves, é comum haver parada respiratória ou cardíaca, freqüentemente fatais. A encefalite de Saint Louis mata 40% a 50% dos doentes.
Felizmente, é possível evitar a contaminação pelo vírus com medidas básicas. Procure não penetrar fundo em florestas, em especial nas regiões com maior risco de contrair doenças, como Centro-Oeste, parte do Nordeste e Norte. Em porções do litoral do país e no sul do Pará, sobretudo em Marabá, há casos da chamada encefalite do litoral, ou encefalite de Marabá, variedade da de Saint Louis, porque quem isolou o vírus pela primeira vez nessas regiões lhe deu nomes diferentes. Na verdade, é o mesmo vírus. Se você vai entrar numa floresta, também deve proteger-se com roupas e usar repelente. Aliás, o ideal é entrar em matas até as 15h00, pois a partir desse horário os mosquitos ficam muito mais ativos. Pessoas com sintomas devem consultar o clínico geral ou infectologista. Os sintomas iniciais da encefalite, vale destacar, se confundem com os da dengue. Dependendo da gravidade da encefalite, o médico pode determinar que o doente seja internado para observação. É possível identificar a moléstia com exame de sangue. Mas é feito apenas em laboratórios de referência, como o Instituto Adolfo Lutz, na capital paulista, e os resultados demoram semanas. Não há remédio para combater o vírus. Desse modo, o médico controla sintomas e conseqüências da doença para manter a vida o portador. O inchaço no cérebro, por exemplo, pode ser detectado com tomografia computadorizada e combatido com antiinflamatórios de cortisona. Também se pode evitar as convulsões com remédios. Um controle rigoroso do quadro permite que o doente se recupere. Mas, dependendo do dano que a inflamação causou ao cérebro, às vezes há seqüelas, como a perda de movimentos.
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