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Se existem dúvidas e desconfiança, é preciso mesmo discutir a relação

por <b>Leniza Castello Branco</b>* Publicado em 02/11/2009, às 01h33

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Quando, em um relacionamento, um dos dois acha que não recebe o que merece ou não se sente mais amado, um pensamento fixo toma conta de seus dias: "Devo terminar?" Muitas vezes não há um motivo concreto, apenas o sentimento de que a relação vai mal. Não acontecem brigas, falta de respeito ou violência, nem há uma traição comprovada, apenas a desconfortável sensação de que já não é mais amado, ou de que há outra pessoa no pedaço. Uma certa intuição o faz pensar que está sendo traído, chama sua atenção para pequenas mentiras e desculpas: "Hoje não tenho tempo, estou muito ocupado", quando no início sempre arranjava tempo; "não deu para ligar, a bateria do celular descarregou"; "claro que respondi ao torpedo, você não recebeu a mensagem?" Sinais como diminuição do desejo, o celular que toca em horas impróprias e a impressão de estar sendo alvo de mentiras são percebidos o tempo todo. Numa situação assim, o ideal é ter uma conversa franca, mas, paradoxalmente, o parceiro que age dessa forma em geral não tem intenção de terminar, mesmo que já não ame o outro. Talvez não queira perder as comodidades e vantagens de ter um parceiro fixo, embora ao mesmo tempo deseje ter a liberdade de sair com outros (as). Então, quem está do outro lado é que fica com a missão de terminar, embora não seja fácil, pois aquele que engana, abandona, também tende a estimular a manutenção do compromisso. O casal fica junto menos tempo, mas ainda fica; faz menos sexo que antes, mas ainda faz. Tudo isso leva ao célebre refrão: "Ruim com ele..." Mas a dúvida entre separar-se ou não permanece, torna-se até uma obsessão, um pensamento que não dá trégua, que invade o dia, atrapalhando a concentração, o trabalho, como se pedisse: "resolva", "decida-se". Se a pessoa opta por calar ou fingir que não percebe a própria ansiedade, é pior. Suas desconfianças poderão aparecer de uma maneira arrevesada, com indiretas, piadas, cinismo, agressões e ataques sutis - ou não - na frente dos filhos ou dos amigos. Para evitar tal desfecho, o primeiro passo é encarar o problema, trazê-lo para a consciência, e se perguntar: "Qual é a minha responsabilidade no que está acontecendo?" É preciso tentar identificar os próprios erros, avaliar se não se está cobrando demais ou pressionando, ajudando o outro a se afastar. Em geral, isso não é muito simples. Temos facilidade para ver os erros dos outros, mas encontrar os nossos é um trabalho de coragem, que às vezes requer ajuda de terapia. Por fim, cá entre nós, não há, em situações desse tipo, como escapar do famoso DR (discutir a relação), que muitos temem, pois imaginam que, se não falarem do problema, será como se ele não existisse. Pura ilusão. Se as suspeitas não forem procedentes, na discussão o outro poderá esclarecer e explicar suas atitudes e, se existir amor, os dois irão retomar a união de um jeito melhor para ambos. Se não for esse o caso, a separação pode ser a solução. Quem tem boa autoestima não fica dependente do amor do outro e sabe que não vale a pena arrastar uma relação infeliz. Pode sofrer, sim, mas é um sofrimento que leva ao crescimento. Quando o amor acaba, o melhor é permitir que cada um retome a sua vida e tenha a chance de um novo encontro ou mesmo de ficar só. O tempo vai mostrar que foi a melhor solução.