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Quem se anula e vira "sombra" de seu par pode acabar por perdê-lo

por <b>Luisa Mascarenhas</b>* Publicado em 26/05/2009, às 11h09 - Atualizado em 08/06/2012, às 09h37

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Há uma clássica dinâmica amorosa que me intriga. Trata-se dos casais em que um se torna a "sombra" do outro, abandonando a própria vida e passando a viver a do parceiro. Sombra é aquele homem ou aquela mulher que, numa união, não expressa seus desejos e passa a identificar os desejos do outro como seus, delegando ao parceiro a missão de viver e se ausentando de tudo que não diga respeito à parceria amorosa. Não sabe mais do que gosta, não resolve nada antes de consultar aquele que tem a liderança do casal. A sua religião muitas vezes passa a ser a do outro, seu time, seu gosto musical, suas preferências, tudo é adaptado de acordo com o universo daquele a quem dedica seu amor. A sombra pode afastar-se até de seu núcleo familiar, fechandose em seu mundo dual. Mas nem sempre esse formato de relação implica que o parceiro seja autoritário, opressor ou uma figura dominante no sentido negativo. A figura da sombra pode, portanto, ser par de alguém que considera cativante, carismático, cheio de energia e brilho, o que pode levá-la a sentir-se inferior e insegura. Algo nessa dinâmica deixa a sombra fascinada pelo outro que tem ao lado e esvaziada de seu amor por si mesma. Nem toda sombra, porém, passou a vida na escuridão. Existem muitos casos de pessoas que antes eram luminosas, repletas de vida e de desejo. Como é possível, então, abrir mão de sua energia vital e passar a ser uma extensão escura de um outro alguém? Cada sombra tem uma forma única e uma história singular. Porém, ao colocar-se num lugar remetido permanentemente a um outro, parece querer se esconder ou evitar algo. É provável que tema ver expostas ao mundo (e a si mesma) suas falhas e fraquezas, tão pesadas e devastadoras sob seu olhar. Também pode estar aterrorizada pelo medo de perder o amor do parceiro, ou talvez oprimida por seu brilho. Seguir os passos do outro e abdicar da própria identidade não pode ser confundido com amor ou doação. É, sim, uma forma de parasitar a energia alheia e de terceirizar a responsabilidade pela própria experiência e felicidade. Por isso, após certo tempo, a sombra torna-se um fardo e deixa de inspirar sentimentos ternos e sensuais, passando, ao invés disso, a despertar ressentimento, raiva e desprezo. Se assumir o papel de sombra é assim tão catastrófico, como sair disso? O ideal é protegerse dessa possibilidade logo que os primeiros sinais apareçam, buscando preservar e cultivar seus afetos, sua identidade, seu tempo e espaço. Aqueles que se tornam apenas uma plateia para seu parceiro estão em perigo. Em algum momento, aquele que está nos holofotes vai se cansar de se apresentar sempre para o mesmo público e vai partir para novos desafios. Aí, quem está assistindo, torna-se uma triste plateia sem espetáculo, esperando que o astro retorne ou outro resolva se apresentar e salvar sua noite. Sugiro evitar chegar neste ponto. Para os que já se encontram nele, minha sugestão é: levantese da poltrona, saia do teatro e vá para a praia. Num dia iluminado, você vai encontrar um monte de gente como você, que já esteve na escuridão, mas preferiu sair em busca do sol. Um dia ensolarado faz você perceber que ninguém é assim tão perfeito, que você não é tão imperfeito e que a vida pode ser bela.