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Pares relutam em chamar relação de namoro com medo de compromisso

Redação Publicado em 22/01/2013, às 11h18 - Atualizado em 10/05/2019, às 11h20

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Tenho frequentemente me deparado com a seguinte configuração: um rapaz e uma moça sentem-se atraídos e começam a se encontrar. Desde o início afirmam que querem uma relação “aberta”, em que teriam a liberdade de estar juntos ou separados, de acordo com o desejo de cada um e preservando a independência de ambos. Quando, no entanto, os encontros revelam-se crescentemente agradáveis e estimulantes, o desejo que passa a predominar é o de estarem juntos a maior parte do tempo. Embora neguem, tornamse um casal de namorados,  com todos os significados que a expressão pode ter, até mesmo um denegado sentimento de propriedade. A palavra namoro é evitada porque eles se consideram pessoas livres, que não querem se amarrar, mas, a despeito de seu discurso, o desejo de pertença acaba por se revelar através de atos falhos. Isso provoca conflito e ansiedade, principalmente no rapaz. 

Nos jovens, ou pelo menos na maioria deles, pululam desejos múltiplos, contraditórios,  paradoxais. Ao mesmo tempo em que desejamaventura, querem segurança. A nomeação de uma relação amorosa como “namoro” está na direção da segurança e provoca o receio de aprisionamento. A não nomeação, por seu lado, traz o sentimento de liberdade, mas provoca insegurança quanto à continuidade da relação. O sexo feminino opta mais rapidamente pela segurança, alegrando-se com a formalização da relação. Os rapazes resistem ao seu próprio desejo de estabilidade, assustando-se com qualquer coisa que cheire a compromisso, a posse. Apegam-se ao desejo de liberdade negando vigorosamente a ânsia por segurança.

Esta é uma situação que encontramos ao longo da História: o homem com tendências mais poligâmicas que monogâmicas e a mulher pendendo mais para a monogamia do que para a poligamia. No século XIX e em grande parte do século XX o homem pôde desfrutar ao mesmo tempo da segurança, através do casamento com uma mulher “do lar”, submissa, e da aventura, experimentada em discretos encontros com amantes e “damas da noite”. A mulher, mesmo sofrendo com essa situação, se calava, pois dependia do casamento para a sua sobrevivência física e social. Com a ampliação da independência feminina a situação mudou. Hoje, social e economicamente, a mulher se iguala ao homem e isso lhe dá poder e voz na relação. Permanece uma diferença atávica entre os sexos que vai além das convenções sociais e que cria ainda um descompasso de expectativas.

De início, o desejo por liberdade predomina em todos, homens ou mulheres jovens, e por isso eles concordam em estabelecer relações livres de qualquer compromisso. O desejo de estabilidade surge após algum tempo de relação trazido com mais força pela mulher, o que cria conflitos, pois o homem apega-se por mais tempo ao polo da liberdade/ aventura, só mais tarde se dobrando ao desejo de estabilidade. Trata-se de uma questão de tempo para que as disposições convirjam em direção à segurança. Se não houver nenhum acidente de percurso, as relações caminharão para a formação de pares amorosos comprometidos e, na melhor das hipóteses, gentilmente, disfarçadamente, levemente possessivos.