A EMOÇÃO DA ATRIZ BETTY FARIA E DE MARIA CORTEZ, A FILHA CAÇULA DO ATOR
por Janaina Pellegrini e Maria Carolina Telles Dor e saudades no último adeus a Raul Cortez, que deixa órfã a cultura brasileira. A despedida ao premiado ator de teatro, cinema e TV ocorreu num dos palcos em que ele exibiu sua virtuose, o Theatro Municipal de São Paulo, na quarta-feira, 19. Parentes, amigos e multidão estimada em 10 000 pessoas - segundo a Guarda Civil Metropolitana - fizeram a última homenagem ao ator, que faleceu na noite do dia 18, aos 73 anos, em decorrência de um câncer no pâncreas. A pedido dele, seu corpo foi levado ao velório em urna lacrada, coberta com a bandeira do Estado de São Paulo. Raul queria que todos lembrassem dele em atividade, atuando, o que não será nada difícil. "Eu apenas queria agradecer em ter como pai esse grande homem, grande ator e grande cidadão", afirmou Maria Cortez (27). No final da tarde, sob aplausos dos fãs, o corpo de Raul Cortez foi levado para o Crematório de Vila Alpina, num carro do Corpo de Bombeiros. Também a pedido dele, suas cinzas seriam jogadas no sítio que ele possuía em Porto Feliz, no interior de SP. "Raul foi amigo de todas as horas, nunca me abandonava. Foi um ator maravilhoso, importante para o nosso país. Mas o amigo que eu tinha, isso nada vai substituir", lamentou Betty Faria (65), que recordou trabalhos ao lado do colega, como Água Viva (1980), primeira novela dele na Globo. Raul Cortez vinha lutando contra a doença desde dezembro de 2004. Nesse período, foi submetido a cirurgia e passou por várias sessões de quimioterapia. Mas, no dia 30 de junho, seu quadro de saúde se agravou e ele foi internado no Hospital Sírio-Libanês, onde morreu. Simpático, elegante e charmoso, o ator deixou escolhido o traje de sua despedida, um terno de seu estilista preferido, Ricardo Almeida (50), para quem desfilou na penúltima edição do SPFW. Paulistano de família espanhola, Raul era o mais velho de seis irmãos: Rui Celso (69), Regina, já falecida, Lúcia Mendonça (64), Pedro (62) e Jô Cortez (62). O ator deixa duas filhas - Lígia Cortez (42), fruto da relação do ator com Célia Helena (1936-1997), e Maria Cortez, de sua união de 10 anos com a promoter Tânia Caldas (52) -, além das netas, Clara (7) e Vitória (20), filhas de Ligia. Durante a missa de corpo presente celebrada pelo padre Salvador e acompanhada por monges do Colégio São Bento, onde Raul estudou, amigos e familiares não contiveram às lagrimas. "É um momento de tristeza, mas é preciso lembrar das alegrias que ele deu ao Brasil", disse Paulo Autran (83). "Ele era um amigo fiel e um homem de uma honestidade ímpar", enalteceu o diretor teatral José Possi Neto (68), sobre o amigo dos tempos da peça O Lobo de Ray Ban (1989). Marília Gabriela (58), Sérgio Mamberti (67) e Dan Stulbach (36) também se despediram do amigo. Raul Cortez iniciou a carreira de ator em 1955, no teatro, com um grupo de estudantes paulistas. E nunca mais parou. No cinema, estreou em O Pão que o Diabo Amassou. Colecionou prêmios, entre eles dois Molière, importante reconhecimento teatral. A última novela foi Senhora do Destino (2004), que teve de abandonar em razão da doença. O último trabalho na TV foi na minissérie JK, de Maria Adelaide Amaral (63). "Ele era um grande ator. Tínhamos vários projetos para fazer", contou a autora. Ator versátil, se dedicou ao teatro, TV e cinema com devoção, dando vida a mais de 120 personagens, muitos deles inesquecíveis como os italianos Jeremias Berdinazzi, em O Rei do Gado (1996), e Genaro, de Esperança (2002). São várias vidas representada por ele. Foi uma carreira e tanto: 66 peças, 29 filmes e 34 trabalhos na TV. "A pessoa mais intensa que conheci. Um ser humano fascinante, pleno de paixão e de energia", disse Maria Fernanda Cândido (31), que estreou na telinha, em Terra Nostra (1999), ao lado do veterano ator. Engajado politicamente, o ator participou das Diretas Já, em 1984. e fundou a Associação dos Produtores de Espetáculos Teatrais do Estado de São Paulo (Apetesp), que presidiu por anos, e venerava a capital paulista. "São Paulo é o amor da minha vida", repetia. "Raul foi companheiro de passeata, cidadão atuante. Fica uma lacuna na cultura", disse a atriz Irene Ravache (61). Guerreiro, Raul lutou até o último minuto contra a doença, sonhando em voltar a atuar. "O enfermeiro me disse que, uns três dias antes de morrer, fraquinho, ele falava: 'quero ir pro palco'", contou Lúcia Cortez. "A morte dele é uma perda para a arte brasileira", concluiu a atriz Denise Fraga (41). FOTOS: BRUNO BARRIGUELLI/MARTIM GURFEIN Veja também: O CÉU GANHA MAIS UMA ESTRELA...