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Nelson Sargento: o vovô do samba

<i>Por Thayana Nunes</i><br><br> Publicado em 26/07/2009, às 13h08 - Atualizado às 17h09

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Nelson Sargento integra a Velha Guarda da Mangueira - Reprodução
Nelson Sargento integra a Velha Guarda da Mangueira - Reprodução
Com uma voz rouca e melódica, um dos maiores sambistas do Brasil atendeu ao telefone ontem, sábado, 25. Era seu aniversário, e em uma conversa breve, Nelson Sargento, contemporâneo de Cartola e Nelson Cavaquinho, resumiu 85 anos de vida em poucas palavras: "toda vez que faço samba fico contente". Nelson, que também comemorou a data em grande estilo no Rio de Janeiro, dia 21, em show no Teatro Carlos Gomes, estava em casa, onde celebrou mais uma vez a vida, com sua esposa Evonete Belizario, 11 filhos (sete naturais e quatro adotados), 18 netos, cinco bisnetos e o primeiro tataraneto, que já está a caminho. Mas mesmo sabendo que faz parte da história do samba no Brasil, e sendo patriarca de cinco gerações, ele revelou que ainda não se sente realizado. "O que me deixa feliz é continuar fazendo o que sei fazer. Eu não me sinto realizado, porque senão não tem mais sentido viver. Quero aprimorar ainda mais o que sei", disse o integrante da Velha Guarda da Mangueira. Autor de clássicos como Agoniza Mas Não Morre, eternizado na voz de Beth Carvalho, em 1978, Nelson também é ator, escritor e pintor, atividade que começou na época que era pintor de paredes na cidade carioca. Atuando, ele já ganhou um documentário homônimo com direção de Estevão Pantoja, e participou nos filmes O Primeiro Dia, de Walter Salles e Orfeu do Carnaval, de Cacá Diegues. E até o final do ano, ele lançará o seu quarto livro, com análises e comentários de sambas atuais e clássicos, onde destacará as frases mais importantes, que celebram a vida. Neste domingo, 26 de julho, comemora-se o Dia dos Avós. Confira aqui no Portal CARAS, trechos da entrevista com o maior vovô do samba no Brasil: - Dia 26 de julho comemora-se o Dia dos Avós. O senhor tem muitos netos. Qual o significado de família na sua vida? - Tenho 18 netos, 5 bisnetos e sou quase tataravô. Família grande. A gente se visita sempre, mais quando tem um aniversário, que é quase toda semana (risos). Neste sábado, todos estavam em casa para um grande almoço de família, e muito samba. - O senhor comemorou 85 anos de idade. Como se sente? - Estou muito feliz. Nesta vida aprendi muito. A vida é cheia de acontecimentos. A gente precisa ter muito otimismo. Nesses 85 anos, passei por muita coisa, vivi muita coisa. Na música posso falar que passei do samba de terreiro ao CD player. - E como foi essa transformação? Muita coisa mudou no samba? - O samba é o mesmo ontem, hoje e amanhã. Ele tem a mesma estrutura, que jamais mudará. O ritmo ganhou muito com orquestras, instrumentos, há novas maneiras de apresentar o samba. É como uma criança: tem aquela pobrinha, que não tem nada, aí você coloca um monte de enfeite, roupinha nova. A essência continua a mesma. - Qual seria a sua roda de samba perfeita? - A roda de samba perfeita é a que se faz com cunho comercial, pela estrutura que tem, equipamentos, instrumentos. Mas a melhor roda de samba é a do 'butiquim', de esquina, de fundo de quintal, aquela sem compromisso. Aí a gente faz com prazer. - O samba tinha um apelo social? E hoje ainda tem? - O compositor tem a obrigação de denunciar as coisas que são erradas, porque o samba agoniza mais não morre, como eu escrevi. Como Chico Buarque também mostrou, como tantos outros. - O que mais te deixa feliz? O que me deixa feliz é continuar fazendo o que sei fazer. Eu não me sinto realizado, porque senão não tem mais sentido viver. Quero aprimorar ainda mais o que sei. Tudo é aprendizado. Sempre digo que o cego é aquilo que só a vista alcança. Eu era pintor de parede, fiz um quadro e Sérgio Cabral viu. E falou: 'pinta mais, ficou bom'. Isso foi em 1973. Não parei de pintar mais. Minha primeira galeria foi na casa dele. - O samba trouxe alegria à sua vida. O senhor agradece à vida? - Eu agradeço quando acordo, todas as manhãs. Eu agradeço a Deus. Agradeço meus 85 anos de vida, por estar lúcido, presente. O que eu mais tenho saudade sãos dos meus entes queridos que se foram. Mas sei que eles ainda vivem em mim. - Com tanta disposição, quais são seus planos para esse ano? - Além do livro que vou lançar quero me dedicar ainda mais ao cinema. Já participei de um curta-metragem que levou meu nome, em filmes de Walter Salles e Cacá Diegues. Tenho muito o que aprender ainda. E é essa mensagem que gosto de passar para meus amigos, para que possam viver bem. Se ajudem, que Deus fará o resto.