Quando as pessoas resolvem conversar sobre a relação que as une, o resultado em geral são discussões, brigas, conflitos. O que deveria ser uma oportunidade de entendimento apenas agrava os problemas. É por isso que discutir a relação virou piada e ganhou até apelido: “DR”. Então deveríamos viver nossos relacionamentos sem falar sobre eles? Será que o problema está mesmo no ato de conversar sobre esse assunto ou na forma como ele é abordado? Convido o leitor a me acompanhar em uma reflexão sobre o tema, neste e nos próximos três textos que assinarei neste espaço.
Em primeiro lugar, pensemos em qual é o objetivo de fazer a DR. Entre duas pessoas que se unem há semelhanças e diferenças e pressupõe-se que haverá trocas. Só que no dia a dia, quando as diferenças afloram, vem a desarmonia. Um passa a achar que o outro não o entende, não o respeita ou não o considera. O outro passa a ser o culpado por impedir o idílio com que se sonhou. Uma confusão.
É aí que a conversa sobre a relação se torna essencial. Ao falar abertamente sobre como interpretamos determinada situação, que fantasias nutrimos e que ações e sentimentos elas mobilizam em nós, permitimos que o outro nos conheça, nos entenda e, se for o caso, nos perdoe. Além disso, ao confrontar nossas fantasias com a realidade, percebemos eventuais preconceitos e crenças por trás de nossas ações e podemos assumir nossa parcela de responsabilidade pelos problemas da relação. Por último, ao abrir esse espaço, estimulamos e permitimos que o outro faça o mesmo, se quiser. A comunicação pode ajudar a diminuir o impacto das diferenças e minimizar os efeitos das interpretações que um tem das intenções e do comportamento do outro, facilitando assim a construção conjunta de soluções para os problemas do casal.
Mas essa comunicação limpa e tranquila está longe de ser a prática mais comum. Quando um parceiro resolve chamar o outro para falar da relação, muitas diferenças já foram negadas, os problemas se acumularam e fantasias negativas rondam a cabeça de ambos, gerando sentimentos de disputa e competitividade. Assim, a escuta do casal fica comprometida e, em vez de ouvir para entender, ouve-se com a intenção de rebater. Nesse clima, dificilmente a conversa será livre de cobranças e queixas. O que predomina é a disputa pela razão e as acusações, numa escalada de agressões que elimina a chance de entendimento.
Para fugir a esse desfecho e transformar a DR numa conversa produtiva, o casal pode seguir estas cinco regras:
l Definir qual é o problema e partir logo para a construção da solução. Nada de ficar detalhando a questão exaustivamente. Isso irrita e torna a conversa improdutiva.
l Nunca misturar problemas. Se o assunto for falta de carinho, não falar da toalha molhada na cama.
l Eliminar da conversa dramas, queixas, cobranças e ordens. Falar sobre soluções e alternativas de entendimento de modo preciso, claro, generoso, equilibrado e sereno.
l Agradecer a escuta e a paciência um do outro. Isso tem efeito apaziguador.
l Deixar o passado no passado! Se algum problema não foi resolvido no momento oportuno, ele deve ser perdoado e esquecido. Quem não consegue perdoar o passado deve procurar ajuda para fazê-lo.