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Crescimento dos centenários traz novos desafios para a Oftalmologia

por <b>Rubens Belfort Jr.</b>* Publicado em 08/09/2009, às 15h13

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Aumenta em todo o planeta o número de pessoas com 80 anos ou mais, a chamada "quarta idade". Aumenta também o número dos que passam dos 100 anos. Como não poderia deixar de ocorrer, a Medicina como um todo e a Oftalmologia, em especial, se voltam para esse novo grupo. A questão, aliás, esteve em pauta no XIX Congresso Mundial de Gerontologia e Geriatria, em Paris, entre 5 e 9 de julho. A Medicina e a Oftalmologia precisam mesmo rearranjar-se diante deste grande número até de centenários. Os idosos da "quarta idade" em geral se comportam, na vida e sobretudo quando vão ao médico, como criancinhas órfãs. Comparecem diante do médico, conversam e recebem a receita, mas não conseguem entender as orientações e reproduzilas em sua vida. Também não têm condições de usar os remédios que prescreve. Se o oftalmologista lhes indica, por exemplo, três colírios que devem usar em horários diferentes, têm dificuldade de identificar o correto e até de pingá-los nos olhos, porque, em função das alterações neurológicas, suas mãos tremem. E ainda esquecem se se utilizaram dos colírios ou não. Os olhos são fundamentais, então, porque tais idosos já não andam bem e precisam da comunicação visual. Nesta fase, quase sempre a catarata - opacidade do cristalino, que altera a qualidade da visão - já deixou de ser problema, porque foi corrigida com cirurgia. Mas outras doenças se tornam muito importantes, como a degeneração macular, o glaucoma e a alteração da qualidade da lágrima, doença conhecida como olho seco. Como constatou pesquisa da médica oftalmologista Marcela Cypel, da Unifesp e do Instituto da Visão, apresentada no congresso de Paris, praticamente todos, a partir dos 90 anos, têm degeneração da mácula - parte da retina que permite uma visão central detalhada -, doença que interfere na visão. Após a catarata, é a principal causa de cegueira e a Medicina ainda não tem remédio para 95% dos casos. Já o glaucoma - aumento da pressão intraocular pelo acúmulo do humor aquoso, danificando o nervo óptico e levando à perda da visão - começa aos 50 anos em 1% da população e atinge 10% dos idosos com mais de 90 anos. E o pior é que, no caso dessas pessoas, não se pode mais evitar a cegueira: como têm a doença faz muito tempo, mesmo quando tratadas continuam perdendo a visão. As alterações na qualidade da lágrima, enfim, que resultam tanto de doenças como do próprio envelhecimento, também interferem na qualidade da visão. O tratamento é feito com colírios que os idosos têm de pingar várias vezes ao dia pelo resto da vida. Todo o setor de saúde, como se vê, terá de rever seus procedimentos atuais com o objetivo de fornecer maior suporte às pessoas da "quarta idade". Uma alternativa, já em uso em países mais avançados, é a instituição do cuidador profissional, pessoa que até sociabiliza o idoso, levando-o ao teatro e ao cinema, por exemplo, subvencionado pelos seguros privados ou pelo SUS. À Oftalmologia, finalmente, caberá buscar a cura ou pelo menos formas mais efetivas de controle em especial das três moléstias citadas para garantir comunicação visual, mobilidade e independência aos idosos, proporcionandolhes, naturalmente, melhor qualidade de vida.