Etimologia
por <b>Deonísio da Silva</b>* Publicado em 08/09/2009, às 18h40
Arrematar: de étimo presente nos verbos latinos mactare, honrar, engrandecer, prover, e mattare, golpear, matar, que mesclaram os sentidos, já que no altar de sacrifícios, nos cultos da Roma antiga, o sacerdote golpeava o animal para oferecê-lo em honra da divindade. O segundo prefixo, "a", levou a dobrar o erre do primeiro, "re". Com este sentido migrou para os leilões, nos quais os bens oferecidos são arrematados por quem faz a melhor oferta.
Brejal: de origem controversa, provavelmente do céltico bracum, lama, lodo. Brejal dos Guajas, livro de contos de José Sarney (79), publicado em 1985, mereceu de Millôr Fernandes (86) a seguinte crítica por ocasião do lançamento: "A cidade, que não tem escola, tem professora e alunos, não tendo telégrafo transmite telegramas, não possuindo edifícios públicos tem prefeitura, câmara de vereadores, juizados de casamento, dois cartórios, ostenta uma força policial de pelo menos 12 homens (relativamente, o Rio teria que ter uma força policial de quase meio milhão de policiais), é dominada por dois primos por pais diferentes (!!!!),'ricos e poderosos', e, tendo só duas ruas (quase uma impossibilidade urbanística; eu sei como desenhar uma cidade de duas ruas, ele não sabe), tem duas orquestras (ele quer dizer bandas), e comporta ainda mercado, lojas, igrejas matriz, etc. O verdadeiro milagre brasileiro!" E acrescentou: "Sarney escreve obras extraordinárias. Quem as larga uma vez, não consegue mais pegar". A crítica fez bem ao escritor e político! O livro seguinte, de qualidade bem superior, foi Saraminda, romance em que a moça do título, "crioula de sangue quente", é arrematada em leilão por um rico garimpeiro da fronteira da Guiana Francesa com o Brasil, que diz à vítima recém-comprada: "Arrematei você por preço alto e quero receber a mercadoria. Sou assim e não sei esperar. Pago mulher para ela ser como eu quero. Deixa de sestro".
Cabeça de bagre: da junção de cabeça, do latim vulgar capitia, plural de capitium, capuz, que passou, por metonímia, a designar a cabeça, e bagre, de origem obscura, provavelmente do grego phágros, pelo latim pagrus, designando peixe que no árabe hispânico era conhecido por bâgar e no castelhano por bagra. O tamanho diminuto de seu cérebro, incrustado na enorme cabeça, desproporcional ao resto do corpo, serviu de metáfora para que o povo identificasse o imbecil como cabeça de bagre, sem hífen, depois do Acordo Ortográfico. A expressão é usada no futebol para designar o mau jogador, sem inteligência.
Dermatologista: do radical dermato, do grego dermatos, caso genitivo de derma, pele, e logista, do pospositivo logía, tratado, estudo, ciência, médico que trata da pele. O escritor Eduardo Almeida Reis (72), um dos mais criativos cronistas, em Amor Sincero Custa Caro (Editora Garamond), dá versão bem-humorada da profissão: "Ninguém telefona para o dermatologista, de noite, por causa de uma perebinha. Perebas e sua sinonímia bereva, bereba e pereva não matam, daí que o sujeito não é obrigado a assinar atestados de óbito".
Falo: do grego phallós, pelo latim phallus, falo, pênis. Na Antiguidade greco-romana, sua imagem era carregada nos festivais aos deuses do sexo, do vinho e dos prazeres - Dionísio, na Grécia; Baco, em Roma. O falo é ainda destaque em várias culturas do Oriente, de que é exemplo a procissão em que o órgão é exaltado no Festival do Falo de Aço, que se realiza anualmente no Japão, na cidade de Kawasaki, onde está um templo, cujos monges assim explicam o folclore deste deus local: " Um demônio com dentes afiados teria se escondido na vagina de uma jovem e castrado dois homens durante a noite de núpcias. Então, um ferreiro teria construído um falo de aço para quebrar os dentes do demônio".
Vaquinha: de vaca, do latim vacca, que para fazer o diminutivo teve de trocar a letra "c" por "qu", mais o sufixo inha. A expressão "fazer uma vaquinha" tem a ver com o futebol e com o jogo do bicho. Até 1920, os torcedores pagavam os jogadores com arrecadações voluntárias. Se conseguissem apenas 5 mil-réis, o bicho era o cachorro, quantia arrecadada por poucos ou oferecida por um doador apenas. Para arrecadar 25 mil-réis, correspondente ao grupo da vaca, era necessária a participação de muitos. Era, então, necessário "fazer uma vaca", no sentido de completar maior quantia. E virou "fazer uma vaquinha", pelo costume brasileiro de privilegiar o diminutivo. Um dos primeiros clubes a adotar o costume foi o Vasco da Gama, do Rio de Janeiro. Por influência do futebol, a expressão passou a outros campos e "fazer uma vaquinha" veio a designar não só a ação de angariar recursos para pagar os jogadores, como também financiar qualquer outra coisa que requeresse a participação de várias pessoas.