ETIMOLOGIA
por <b>Deonísio da Silva</b>* Publicado em 02/09/2009, às 13h31 - Atualizado às 13h32
Borzeguim: do holandês antigo broseken, sapatinho, diminutivo de brosen, sapato, hoje rijglaars, pelo francês antigo brouzequin, depois brodequin, por influência de broder, bordar, designando calçado enfeitado, próprio de atores, tanto que, em francês, chasser le brodequin é expressão equivalente a representar comédias. No espanhol tornou-se borceguí, borzeguim, calçado de feitios diversos, cobrindo o pé e parte da perna. Há registros de que era usado desde os tempos dos assírios, passando pela Antiguidade clássica e pela Idade Média. Semelhava uma sandália e, de acordo com a classe social do indivíduo que o calçava, poderia ser bordado ou enfeitado de pedras preciosas.
Coturno: do grego,kóthurnos, pelo latim coturnus, calçado de sola alta, semelhante à do tamanco, cujos contornos, feitos também de tirinhas de couro, cobriam a perna até quase os joelhos. Era utilizado pelos atores trágicos, em oposição ao soccus, soco, borzeguim, de sola baixa, próprio dos atores cômicos. Na antiga Roma, este calçado, usado também por militares, era conhecido ainda como caliga, sandália.
Dó de peito: de do, sílaba inicial do latim dominus, senhor; de, indicando procedência; e pectus, peito. Designa nota extremamente aguda, proferida por alguns tenores. Dó, a primeira nota musical, recebeu inicialmente o nome de ut, para, advérbio latino. Foi o monge italiano Guido d'Arezzo (992- 1050), assim chamado por ser regente do coro da catedral de Arezzo, na Toscana, quem denominou todas as notas com as sílabas iniciais destes versos de um hino a São João: "Ut queant laxis/ Resonare fibris/ Mira gestorum/ Famuli tuorum/ Solve polluti/ Labii reatum,/ Sancte Ioannes". elepê, eram feitas em dó de peito, porque a gravação era mecânica e os cantores precisavam emitir todas excessivamente agudas.
Elepê: palavra formada da sigla LP, as iniciais da expressão inglesa long play, jogo ou entretenimento longo, designando o disco de 33 rotações por minuto, tornado popular a partir de 1950, por trazer gravadas várias músicas de ambos os lados, em substituição ao de 78 rotações, que trazia apenas duas.
Lundu: provavelmente do quicongo Lundu, nome de lugar, em Moçambique e em outros países africanos onde ainda hoje se falam diversas variações do quicongo, língua dos congos e bacongos. Foi dessas regiões que os negros trouxeram o lundu, dança acompanhada de música. Congo, que está no étimo de rios africanos e asiáticos muito conhecidos, quer dizer tributo porque era nesses rios que os soberanos cobravam dívidas e tributos. Luanda, capital de Angola, também tem o significado de tributo, segundo nos informa Nei Braz Lopes (67) em seu Dicionário Banto do Brasil. O primeiro lundu gravado em disco, em 1902, foi Isto É Bom, de Xisto de Paula Bahia (1841-1894), cantado por Manuel Pedro dos Santos, o Bahiano (1887-1944), que tem os seguintes versos: "O inverno é rigoroso,/ Bem dizia minha avó,/ Quem dorme junto tem frio,/ Quanto mais quem dorme só".
Virgular: de vírgula, do latim virgula, varinha, pequeno traço, diminutivo de virga, vara. Saber a correta colocação das vírgulas é, mais do que uma técnica, uma arte! Em Por Causa de uma Vírgula Mal-Encarada divertido trecho do livro Porque Lulu Bergantim não Atravessou o Rubicon, de autoria do escritor carioca José Cândido de Carvalho (1914-1964), lemos um sério conflito por causa de uma vírgula: "E na tarde que o Dr. Feitosa de Castro, diretor das Águas e Encanamentos de São João da Laje, pediu que o escrevente Porfírio Freixeiras retirasse certa vírgula de certo ofício, Freixeiras tremeu nos borzeguins. Espumou gramática, pronomes e crases. Em vinte anos de Águas e Encanamentos, de ofícios e pareceres, nunca chefe algum, em tempo algum, mandou que ele extraísse essa ou aquela vírgula de seus escritos. Com o papel na mão, ficou remoendo, remoendo, tira-a-vírgula, não-tira-a- vírgula. Até que tomou uma decisão definitiva. Chegou junto da mesa de Feitosa de Castro e expediu o seguinte ultimato: - Ou o doutor deixa a vírgula ou eu peço transferência de repartição. Feitosa, que era homem de pontos de vista firmados, foi claro: - A vírgula sai e o distinto amigo também." A conclusão: "O resto veio no Diário Oficial. Vejam que barbaridade! Por causa de uma simples vírgula, de uma inútil vírgula, Freixeiras foi redigir ofícios em Barro Amarelo. Lugar que não dava a menor importância às crases, quanto mais às vírgulas".