Em entrevista à CARAS Brasil, Diego Martins e Amaury Lorenzo, intérpretes de Kelvin e Ramiro de Terra e Paixão, falaram sobre a química do casal e repercussão da dupla
Kelvin e Ramiro estão longe de ser os protagonistas de Terra e Paixão, atual novela das nove da Globo. O casal homoafetivo, no entanto, tem se tornado a sensação da trama de Walcyr Carrasco (71), garantindo cada dia mais cenas que vão de momentos cômicos a expectativas suspirantes no principal produto da emissora carioca.
Em entrevista à CARAS Brasil, Diego Martins (26) e Amaury Lorenzo (35), intérpretes dos personagens, falaram sobre a química do casal em cena e avaliaram os impactos da repercussão da dupla e da experiência dos papéis em suas carreiras, enquanto atores.
Abraçando os figurões com muito amor e carinho, os dois artistas, confessam que vivem debatendo e estudando sobre os personagens que encarnam e o que eles os ensinam. Para Diego Martins, um dos maiores ensinamentos tem sido sobre a complexidade do ser humano.
“A gente vê dois personagens com muitas camadas. Os dois têm muito medo e se encontram e no lugar de solidão veem uma conexão entre eles”, avalia o artista, que enquanto ator afirma aprender que nada é uma única coisa. “A gente está longe disso de bem e de mal”.
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De acordo com o artista, a conexão entre os dois está dentro e fora de cena, o que surge do amor que eles têm pelos personagens e pela profissão. “É um respeito mútuo entre a gente, é um amor, é um carinho. A gente fica animado de se ver, de criar nossas cenas juntos, de estudar nossas cenas, realmente é uma parceria mesmo, essa é a palavra”, afirma.
- Vocês torcem para o casal? E de que modo torcem? Desse jeito que se desenvolve ou para aquela virada assumida e tudo mais? Como é a visão de cada um sobre isso?
Amaury Lorenzo: Torço muito para o casal, torço muito para que eles se encontrem e se percebam elementos que se perseguem. São dois personagens solitários, tanto o Kelvin como o Ramiro, que se encontram, se completam e se entendem. O Kelvin é o motivo de transformação do Ramiro. Primeiro uma amizade, aí o Ramiro vai percebendo que ele é um ser humano, é um indivíduo. O Kelvin teve uma cena que ele disse “Ramiro você tem um coração de ouro, você não pode deixar que as pessoas te humilhem”. Então o Kelvin faz o Ramiro se sentir um individuo com cidadania e eu torço muito para que eles fiquem juntos, não só no fim da novela, mas logo e que o público comece a ver este casal se construindo, seja da maneira que for, mas com muito afeto. Torço para que a amizade se fortaleça; Se eles tiverem um relacionamento, se eles namorarem, se casarem ao fim da novela também acho bom, mas mesmo que não tenham, torço para que continuem amigos, se entendendo se apoiando um no outro.
Diego Martins: A gente tem uma visão muito parecida: nós dois torcemos para que os dois sejam muito felizes porque a gente sabe que Ramiro e Kelvin são dois personagens que já sofreram muito e continuam sofrendo. O Kelvin sofrendo por já se entender quem é, mas não saber lidar com o amor. Acho que o Kelvin sempre teve relações, mas casuais, relações que não falam sobre afeto, mas falam sobre prazer carnal, sobre prazer descartável pras pessoas. E do outro lado a gente tem o Ramiro, que é um cara que não entende bem sua sexualidade, ou melhor, acho que sempre entendeu de um jeito e agora está entendendo de outro e não está entendendo nada e não é nem um pouco acostumado com amor e afeto. Então em primeiro lugar, a gente torce para que os dois sejam felizes e se entendam e consigam se liberar pras coisas, mas é claro que a gente torce pros dois ficarem juntos porque a gente sabe que tem muito amor, cumplicidade, desejo, amizade, vontade, acho que tem tudo pra dar certo. Os dois são assim um casalzão que a gente torce muito pra ficar junto, sair junto pelo mundo...se são trambiqueiros, que continuem trambiqueiros, mas sei lá, em Paris.
- De onde veio a inspiração de vocês para cada um do personagem e até mesmo quando estão juntos em cena? Existe algo que surgiu a partir de uma criação de vocês dois juntos?
Amaury Lorenzo: Eu gosto de pensar nos meus perosnagens não olhando pra fora, senão vira uma cópia. Eu gosto de olhar pra dentro de mim pra ficar verdadeiro. Então o Ramiro eu fui buscando dentro de mim, nas minhas memórias deste homem rústico, sem oportunidade, sem afeto, nas minhas memórias do interior de Minas, muitos peões...Eu tentava lembrar dessas imagens, dessas pessoas e fui também olhando pra dentro de mim e tentando entender o sentimento mais profundo do Ramiro que é a solidão, o abandono, o desprezo, a ausência do afeto e fica verdadeiro, porque estou trazendo de dentro de mim. Agora juntos eu e o Diego eu acredito que este afeto de dois seres humanos que se amam. Logo no primeiro instante a primeira leitura que a gente fez pra equipe a gente já imprimiu este afeto mútuo, esse lugar. Por mais que o Ramiro seja um bronco e por mais que o Kelvin seja um personagem de muita sensibilidade, eles têm a afetividade entre eles desde o primeiro momento, então criamos juntos este afeto.
Diego Martins: Eu trouxe o Kelvin de muitas pessoas que eu conheço. Não só porque eu sou gay e me entendo como parte da comunidade LGBTQIA+, me entendo como gay há muito tempo e tenho muitos amigos, mas tenho muitos seguidores e conheço muita gente, conheço muitos Kelvins. A diferença é como a gente compõe, cada um tem sua particularidade. Quis muito trazer um alguém que fugisse do caricato, do estereótipo, porque acho que a gente está muito cansado de ser representado da mesma maneira, sempre só aquilo, não, eu não quis trazer isso...o Kelvin é divertido, engraçado, é pra ser um ser mais caricato, debochado, tudo bem, mas vamos brincar com outras coisas, não com a sexualidade. Vamos ser caricato em outro lugar, vamos brincar com o sotaque dele que é uma delicia. Eu me inspirei na Nicole Bahls por ter um sotaque realmente muito puxado e gostoso de ouvir e ela é muito espontânea, ela é muito sem filtro. Eu trouxe muito dela e enfim a gente se inspirou nesses lugares. A gente cria muito junto e uma das criações é nossa partitutra corporal. O Amaury tem uma coisa de puxar as calças assim pra cima, que veio vindo da nossa relação. Eu tenho uma coisa de tremer quando ele está perto, os apertãozinhos. A gente foi criando, a gente faz o outro repete. O outro faz eu repito e a gente vai criando pra gente.
- Qual é a maior torcida ou o maior pedido que vocês escutam/sentem do público?
Amaury Lorenzo: A maior torcida disparado é para que eles fiquem juntos. As pessoas também pedem muito pro Ramiro não fazer ele [Kelvin] sofrer. Agora, particularmente eu ouço de todas as pessoas, de todas as idades, gêneros, classes sociais, que elas amam o Ramiro, mas digo que ele é assassino e elas "mas ele vai melhorar" e tem um pedido sempre para que eu dê um apertãozinho "pode dar igual você dá no Kevinho?"
Diego Martins: Ah a maior torcida que a gente escuta por ai é o beijo. Todo mundo quer que eles se beijem em primeiro lugar. Todos torcem pra ficarem juntos, mas o maior pedido é o beijo. Todo mundo que me vê fala "E aí, você não vai beijar aquele peão não?"
- Por que vocês acham que se tornaram um dos casais mais sensação da novela? O que cativou?
Amaury Lorenzo: Eu acredito que por identificação. O público se identifica com o Ramiro, que é um homem controverso, que a gente não sabe se é bem ou mal. É muito mais que isso. É um homem com muitas camadas, como todo ser humano. E ao mesmo tempo que ele é capaz de cometer um assassinato, ele é capaz de ter um afeto profundo e verdadeiro. Então essas camadas gigantescas fazem o público se identificar. E também o caminho do homem que vai ter uma redenção. O público torce pra que ele melhore. O público gosta de ver esse homem melhorar, se esforçando pra parar de cometer crimes. Isso de casal sensação, isso por conta do Ramiro e do Kevinho também, o público se identifica com as trambicagens do Kevinho e o público olha como duas pessoas solitárias se ajudando a se tornar melhores. O público consegue ver verdade e afeto . Acho que é por isso. Mas me chama muito a atenção que são personagens controversos, polêmicos e o público torce. O público tornou esse casal no casal sensação porque o público está ávido por ver histórias polêmicas, de tranformação, o público gosta de ver personagens se transformando e são dois personagens sempre em transformação, o lado leve, cômico mas não caricato. O público percebe que a gente está fazendo de verdade. Então é um encontro muito poderoso de nós atores.
Diego Martins: Eu nunca esperei na minha vida que eles fossem se tornar o casal sensação da novela e realmente são. A gente foi pra São Paulo gravar o encontro, então a gente viajou junto de avião, foi pro aeroporto, pro hotel, passou o dia inteiro juntos e a gente foi parado muitas vezes e todo mundo com muito carinho, muita felicidade de ver a gente juntos. As pessoas gostam de ver a gente juntos e é muito interessante como dois personagens que têm a índole meio torta, vamos dizer assim, porque um é um assassino de aluguel que não faz por prazer, mas faz por sobreviver, e o outro é um ambicioso, fofoqueiro, trambiqueiro, que apesar de ser mto amigo das pessoas não esconde que quer chegar num lugar, quer se dar bem na vida e vai fazer o que for preciso, mas ao mesmo tempo ele tem muita empatia do povo, eles têm uma humanidade muito grande. Acho que são dois personagens muito humanos, muito reais sabe...Eu já vi essas pessoas, eu já conheci essas pessoas, então isso aproxima muito essas pessoas e para além daquilo que as pessoas consideram maldade do Ramiro, falta de caráter do Kelvin, as pessoas entendem que eles se amam e que eles fazem aquilo por razões alheias.
- Vamos fazer um "troca-troca"? Assim...se o Diego fosse o Ramiro, o que ele faria de diferente com o Kelvin e se o Amaury fosse o Kelvin o que ele faria de diferente com o Ramiro?
Amaury Lorenzo: Eu se fosse o Kelvin teria mais paciência com o Ramiro, não desistiria do Ramiro. Eu se fosse o Kelvin teria mais paciência pra emntender que o Ramiro tem o tempo dele. Ele não foi criado com afeto e devagarinho vai se desabrochando. Eu teria mais paciência e jamais abandonaria o Ramiro porque ele tem o tempo dele e devagarinho vão se acertar.
Diego Martins: Nossa! Eu não faço a menor ideia do que eu faria porque eu acho que o que o Amaury faz é tão polido, é tão minucioso. Ele faz escolhas que eu admiro tanto, eu respeito tanto o trabalho, tanto. Às vezes eu tô em cena, trabalhando com ele e eu me pego assistindo as escolhas dele e e eu me pego admirando o trabalho dele. Então não sei. Sinceramente eu não faria nada de diferente, até porque em time que está ganhando não se mexe...nem sei se a frase é assim porque não entendo nada de time, muito menos de futebol, mas não faria nada de diferente.
- Em apenas dois meses de novela, vocês já levam consigo alguma história curiosa/momento que guardarão para sempre envolvendo o dia a dia ou os perrengues de Kelvin e Ramiro? Contem-nos
Amaury Lorenzo: Teve um momento recente em São Paulo quando fomos gravar no Encontro. Quando terminamos o programa fomos comer algo no Centro e caminhando pela rua Augusta uma mulher trans veio em nossa direção tremendo, chorando, com palpitação nervosa, pegou na minha mão, pegou na mão do Diego e disse "Eu vim correndo quando eu vi que era o Ramiro e o Kelvin porque a história de vocês é a minha história. Eu sou o Kelvin e me relacionava com o Ramiro. Vocês estão contando a minha história”. Ela tremia muito, eu peguei na mão dela, dei um abraço, o Diego também, pedimos calma, falamos que ia ficar tudo bem e ela contou que não morava mais no Brasil e estava passando férias aqui e assistindo a novela pela internet. Ofereci uma foto, mas ela não quis, porque quis guardar a memória e agradeceu. "Obrigado por contar minha história", disse. Isso foi tão rico, poderoso...Eu e o Diego presenciamos isso juntos, foi tão poderoso pra gente porque a genty pode observar que estava chegando de verdade no coração das pessoas. A gente já tem certeza da responsabilidade que é fazer esses personagens, mas ali legitimou.
Diego Martins: A gente tem muita história juntos já, realmente. Nunca vou esquecer da primeira vez que a gente foi pego por paparazzi e começaram a soltar nota de que a gente estava tendo alguma coisa e a gente ficou "Meu Deus, as pessoas atrapalhando a gente e a gente estava tomando uma cerveja".
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