Solidão protege das dores do amor, porém impede a alegria da entrega

Maria Vilela Nakasu Publicado em 23/10/2013, às 18h59 - Atualizado em 10/05/2019, às 11h20

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A solidão é, para muitas pessoas, uma companheira fiel. Ela pode derivar de uma escolha, uma opção consciente. É o caso daquele solitário que diz, sem titubear: “Eu quero ficar só”. Mas a solidão também pode implicar uma falta de opção. Diante da dificuldade de lidar com os sofrimentos potenciais que podem advir de um relacionamento, a pessoa simplesmente vai se deixando ficar sozinha. De qualquer forma, seja qual for o motivo para perpetuar uma situação de solidão, uma coisa me parece certa: goza-se, nessas circunstâncias, de uma zona de conforto.

“Quer dizer, então, que é bom ficar sozinho?”, você deve estar se perguntando. Não é bem isso. Ao classificar essa situação como “zona de conforto” não me refiro necessariamente a uma condição de bem-estar. Refiro-me apenas a uma estratégia de controle e, claro, de proteção.

Estar só é ser o único autor de suas experiências; estar só é não depender do outro; estar só é, finalmente, ter amplo controle da situação. Isso é habitar uma zona de conforto. Em seu texto clássico O Mal-Estar na Civilização, de 1937, o psicanalista austríaco Sigmund Freud (1856-1939) afirma que muitas pessoas buscam a felicidade por meio do distanciamento dos focos de conflito. A figura do ermitão é eleita pelo criador da Psicanálise como a figura paradigmática desse comportamento. O ermitão se afastaria dos conflitos como meio de encontrar a tranquilidade. Isolando-se dos estímulos do mundo, ele se eximiria de enfrentar os conflitos inerentes à vida em sociedade.

No campo do amor, a opção pela “solteirice” pode seguir um mecanismo semelhante àquele usado pelo ermitão. O solteiro de carteirinha poderia dizer: “Recuso qualquer tipo de envolvimento amoroso para não correr riscos de me frustrar e de sofrer”. Ou: “Prefiro ficar só a ter que me ver com um outro diferente de mim, que pode me desagradar, me decepcionar e me  machucar”. Ou ainda: “Refugio-me no campo dos sentimentos conhecidos, em um mundo emocional que posso controlar”.

Porém, escolher a solidão e perpetuá-la, como tudo nesta vida, implica ganhos e perdas. Ganha-se certa garantia de que tudo ficará como está. No entanto — e agora, caro leitor, preste bastante atenção —, com este comportamento é possível que a pessoa perca a chance de experimentar um sentimento de felicidade muito particular, e que é impossível de se alcançar enquanto se vive esse “distanciamento protetor”.

Esse sentimento particular de satisfação e alegria de que falo pode ser obtido somente a partir de atitudes de entrega amorosa. E, como sabemos, a entrega e a confiança andam sempre lado a lado. Entregar-se é poder confiar — não falo necessariamente em confiar no outro, mas na possibilidade de que o ato de entrega possa ser bemsucedido, possa trazer essa “felicidade-de-amor” à qual me refiro. É verdade que entregar-se ao outro pode também ser uma ação malograda e fazer sofrer, sofrer muito, até, mas se der certo... ah..., aí, aquela sensação de que sua vida está sendo bem vivida pode advir, e perpetuar-se. Você tem coragem de tentar? Ou prefere ficar na segurança da solidão?

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