Entrevista

Juliana Alves: 'Queria ter a tranquilidade de uma atriz branca'

A atriz Juliana Alves vibra com êxitos de Amor Perfeito e luta por representatividade

Por Daniel Palomares Publicado em 17/07/2023, às 09h29

Juliana Alves em entrevista na Revista CARAS - FOTOS: MARCELO SANTIAGO PAEZ, MAKE: TITTO VIDAL, STYLING: CARLA GARAN

Vinte anos separam a primeira e a mais recente novela de Juliana Alves (41), ambas exibidas em 2023 na Globo. Em Chocolate com Pimenta, de 2003, a atriz dava vida a Selma, uma moça ingênua em busca de oportunidades. Atualmente em Amor Perfeito, trama das 6, ela é Wanda, mulher madura, à frente de seu tempo e dona do próprio negócio. “É como se essas personagens simbolizassem a minha trajetória de alguma maneira”, fala Juliana, em papo exclusivo com CARAS, direto da exposição Mar de Espelhos, no AquaRio, centro da capital fluminense. “Há 20 anos, estava insegura diante de tudo. Hoje, me vejo em um contexto que me dá mais esperança. Uma narrativa que contempla a realidade do Brasil. Sinto que a novela é uma conquista não só para mim, mas para toda a classe artística”, completa.

– Como vê esse momento de protagonismo negro nas novelas e produções brasileiras?
– Vivenciei na pele todas as dificuldades e conflitos quando se é uma atriz negra, consciente, em uma novela que entra em choque com o que a gente quer falar. Tive experiências dolorosas. Faço parte de uma geração que reivindicou bastante. Hoje, é gratificante perceber que conseguimos dar passos mais consistentes. Ainda tem muita coisa que falta, muito retrocesso. Precisamos parar com essa mania do brasileiro de dar um passo para frente e dois para trás. Precisamos seguir em frente na luta contra o racismo.

– Como essa luta contra o racismo te impactou?
– É como um trabalho que eu sinto que preciso fazer, mas que eu gostaria que se encerrasse. Gostaria de chegar a um trabalho e ter a tranquilidade que uma atriz branca tem. Saber que ela não vai sofrer desgaste ou constrangimento, viver o conflito de não estar fazendo algo que ela acredita, se sentindo diminuída pela sua etnia. Ao longo dos anos, tive que discutir a questão do cabelo, por exemplo. Sabia que iam querer diminuir o volume, mas fui conquistando esse diálogo. O valor de uma personagem não está em tirar os traços étnicos de mim. Teve uma novela, em 2019, que isso foi uma questão. Ouvi que para a minha personagem estar em um nível melhor, ela precisava se adequar a certos padrões estéticos. E ouvir isso é assustador e doloroso. Sabemos que não adianta maquiar e mostrar o corpo negro supostamente adequado. Temos que mostrar o corpo negro como ele é. E ele é visto por brancos como um corpo que não é elegante, não é bonito. É uma realidade que ainda precisa mudar.

– Hoje, sua personagem usa um penteado afro poderoso. Como é a reação do público?
– Há um tempo, era proporcional às pessoas que criticavam, falavam ‘Que cabelo horrível!’, ‘Que mulher horrível!’, e as pessoas elogiando, exaltando como aquela personagem as representava, como conseguiam se ver. No dia a dia, já é importante ver uma pessoa na rua, sorrir, se identificar com ela. Imagina em um veículo de comunicação. De alguma maneira, a TV transmite a ideia do que é bom, interessante, do que é bom ser visto. É um poder enorme. Queremos que as pessoas consigam identificar suas histórias, seus conflitos, transformar sua própria vida também.

– Como é a Juliana mãe e que mundo espera deixar para a sua filha, Yolanda, de 5 anos?
– Sou coruja, muito ligada fisicamente, sinto muita saudade dela. Ela está em um nova fase, o pai com uma casa nova, está curtindo. Sou uma mãe muito carinhosa. Minha filha é muito parceira e compreensiva. Deixo ela perceber as coisas que estou falando. Não sou uma mãe que mima. Fortaleço ela quando deixo ela perceber que a vida vai limitar os desejos e as coisas que ela gostaria de fazer. Eu espero que ela não se limite, mas saiba lidar com os limites que a vida vai impor a ela. O amor é aquele que impõe limites para fortalecer o crescimento da pessoa. A relação de confiança vai se construindo aí. Esse governo que acabou de sair é um indicativo do mundo que a gente vive. Pode ser muito cruel, nocivo. E nós estamos inseridos nesse mundo, ele é parte do nosso cotidiano. Entra governo, sai governo, o desrespeito segue presente. Desejo que ela esteja atenta e fortalecida ao enfrentamento disso. Não dá para se alienar. Quero que ela saiba que é parte integrante dessas transformações todas.

– Neste ano, você também brilhou na Dança dos Famosos. Como foi a experiência?
– Eu não curto muito competição. Mas queria estar lá, queria dançar tudo. Meu comprometimento era intenso. Mobilizou minha vida. Foi muito intenso, uma experiência que me lançou ao encontro de algo pelo qual sou apaixonada. O saldo foi positivo. Tem uma estrutura toda do programa que é questionável, eles sabem. Mas tem uma coisa muito bonita que é saber que estou chegando à casa das pessoas com a dança e vibrar pelos colegas nos bastidores. Entender que uma competição pode ser algo muito saudável e que a gente tem que batalhar, sim, pelo que a gente sabe que consegue realizar.

– O que você espera dessa nova fase após as transformações recentes na sua vida?
– Uma coisa interessante que está acontecendo neste ano: estou celebrando uma trajetória que talvez não tenha sido como planejei ou desejei, mas foi de muito sucesso e desafios vencidos. Este ano de 2023 está me trazendo esperança e entusiasmo. Eu tive a sensação de que não seria ouvida, mas conquistei respeito e credibilidade. Este ano, estou sonhando muito e colhendo outros sonhos e realizações na minha vida.

FOTOS: MARCELO SANTIAGO PAEZ, MAKE: TITTO VIDAL, STYLING: CARLA GARAN

Juliana Alves entrevista Revista CARAS Juliana Alves

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