Foi-se o tempo em que era malvisto o homem que dependia da mulher

Paulo Sternick Publicado em 19/02/2014, às 17h37 - Atualizado em 10/05/2019, às 11h20

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A pior atitude diante dos tempos em que vivemos é reagir com preconceito. Claro, podemos — e devemos — ter princípios íntimos e basta o exercício deles para que sirvam de referência para os outros. Mas isso não implica impô-los nem usá-los a serviço da intolerância. A realidade anda desarmando a noção tradicional sobre homens, mulheres, cabelos, roupas, comportamentos, amores. Isso nos obriga a flexibilizar os espíritos, no mínimo para a tolerância: cada vez mais nos surpreendem com diferenças e formas inesperadas com que os humanos se organizam na esfera da vida, do amor, do trabalho e da diversão.

Fomos acostumados, por exemplo, a pensar que são os homens que mantêm as mulheres, fruto de suposta maior competência na luta pela sobrevivência, imposta por sua força e pelos arranjos da sociedade. Ainda hoje, na média, os homens ganham mais do que as mulheres. Mas também é verdade que as mulheres são capazes de manter sua independência, fruto da competência, ou de sustentar o casal, ou ainda de ajudar o parceiro a prover o lar, propiciando melhores condições de vida.

Hoje há muitos casos em que os homens acabam dependendo da mulher. A voz do povo — mas não a voz de Deus — exclamaria indignada: “Gigolô!”. O povo pode er cruel no julgamento, tolo nas decisões, manipulado em seu voto. Pois nem sempre o homem que depende da mulher, ou o que ganha menos do que ela, é um aproveitador, um oportunista que a explora. Ela pode ter sido agraciada com mais sorte do que ele, ou com mais competência, ou simplesmente pode ter uma profissão na qual a remuneração é maior do que a dele. Ela pode ser uma executiva, por exemplo, e ele um professor.

Mas os dois se amam, ele colabora solidária e criativamente em muitas tarefas, ela se beneficia de sua inteligência, ele tem uma postura prestativa e sempre disposto a iniciativas que ajudam a vida do casal, fugindo do estigma de ser um cara encostado e parasitário. O casal dialoga sobre esse ponto, assume a diferença e cresce com a união ancorada na firme parceria que surge da cumplicidade amorosa. Dessa maneira, nem ela se sente roubada, nem ele um “gigolô”.

Não estão nem aí com bobagens psicossociológicas, como as pesquisas que foram feitas pela socióloga americana Christin Munsch, candidata ao doutorado na Universidade de Cornnell, nos Estados Unidos, que sustenta a tese de que as mulheres que ganham mais dinheiro do que o marido têm maior chance de serem traídas por eles, que se “vingariam” reafirmando, desse jeito, sua masculinidade. Pois, em nosso exemplo saudável, o casal não teria derrapado na armadilha do lugar-comum, jamais os pombinhos usariam a disparidade econômica como motivo de ataque em brigas ou conflitos. Pacto de gente civilizada.

Mas nem sempre as coisas funcionam desse modo. A começar pelo caso do maridão — não apenas sustentado pela parceira como também um sujeito folgado, infantil, fixado na saia da mãe — que escapa, tal como peixe ensaboado, das responsabilidades e tarefas assim que elas pintam. Ele encara como “direito natural” ser mantido pela mulher, quase uma indenização pelo fato de estar com ela, ao suportá-la: um “preço justo” por sua “superior” companhia, a lhe conceder sexo e afeição. Ninguém merece!

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