Amor: aceitar as diferenças é importante na relação

Alberto Lima Publicado em 22/01/2014, às 16h25 - Atualizado em 10/05/2019, às 11h20

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Com que olhos vejo a pessoa que amo? Com que olhos sou visto por ela? Essas perguntas podem parecer estranhas, mas faz enorme diferença o lugar a partir do qual o outro é percebido. Pode determinar o grau de generosidade e altruísmo ou o teor de egocentrismo e até mesmo de perversão do “amor” que se acredita exercer.

“Vejo meu bem com seus olhos e é com meus olhos que meu bem me vê”, diz a letra de Meu Namorado, canção composta por Edu Lobo (70) e Chico Buarque (69) em 1982 para o espetáculo O Grande Circo Místico. A modalidade de olhar contida nos versos dessa canção talvez seja a melhor expressão possível daquilo que se conhece como empatia: a capacidade de se colocar na perspectiva do outro para compreendê-lo à luz de seu universo de significados.

O contrário disso seria submeter o outro a um crivo estranho a ele, fazendo-o encaixar-se numa espécie de leito de Procrusto. No mito grego, o brutal criminoso era um salteador, que capturava os viajantes a pretexto de lhes oferecer abrigo. Dispunha de um único leito em sua estalagem e, cruelmente, obrigava os hóspedes a se adaptarem ao leito à força. Os mais altos tinham parte das pernas e os pés amputados; os mais baixos eram estirados até que ocupassem todo o espaço do leito. Esse personagem mitológico simboliza a intolerância humana para com seus semelhantes. E onde está a intolerância não se pode encontrar o amor.

Ver meu bem com seus olhos só se torna possível em razão de eu colocar em suspenso os meus, aquietá-los sem anulá-los. Apenas procuro me transportar para a perspectiva da pessoa amada e olhar para ela a partir desse lugar. Se a vejo apenas com meus olhos, posso sobrecarregá-la com as minhas suposições, fantasias, projeções representativas de minha realidade subjetiva, mas dificilmente capazes de encontrar a realidade da pessoa que acredito amar. Seria mais provável que, utilizando-me apenas de meus olhos, eu encontrasse minha própria imagem refletida no espelho da amada. A objetividade necessária para, com meus olhos, eu ver o outro em sua alteridade, de fato, só se adquire com muita maturidade e com sólido autoconhecimento.

O amor pressupõe igualmente o autoconhecimento e o conhecimento do outro. Na ausência desses dois quesitos, não se constituirá. O autoconhecimento faz que eu consiga depositar sobre mim mesmo um olhar isento. Porém, em grande parte, dependerá de que meu bem me veja com meus olhos e me apresente a mim mesmo. O conhecimento do outro requer o exercício da empatia: é necessário desapegar de meus próprios referenciais para ir ao alcance da pessoa amada, tendo-a como a melhor referência possível para o encontro com ela.

O problema de se usar só os próprios olhos para olhar para o outro está em que, quando ainda imaturos, tenderemos a estranhar as diferenças do outro, em vez de as admirarmos. “Narciso acha feio o que não é espelho”, explica outro poeta, o baiano Caetano Veloso (71), em Sampa. O olhar que estranha enche de julgamentos o coração de quem acredita ver. E julgar é a melhor forma de se turvar a visão.

Mas, caso minha amada ou meu amado e eu tenhamos conseguido desenvolver a difícil habilidade de olhar um para o outro sem julgamentos, talvez tenhamos nos aproximado mais, e melhor, de viver um verdadeiro amor.

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