Cinema

A força e a autenticidade de Cannes

Momentos icônicos do festival de cinema, que será reformulado

Tainá Goulart Publicado em 22/05/2020, às 11h00 - Atualizado às 16h34

Em 1956, Sophia Loren Brigitte Bardot; em 1966, Sophia Loren; em 1953, Brigitte Bardot - Getty Images

Durante cerca de duas semanas no mês de maio, uma pequena cidade no litoral sul da França muda por completo a rotina. Dos banhistas tranquilos e que passam o dia desfrutando das belas praias da Riviera Francesa, o local entra em um estado de euforia, com milhares de turistas de todos os continentes interessados em apenas uma coisa: o Festival International du Film ou Festival de Cinema de Cannes, um dos mais importantes do mundo. Concebido em 1939 pelo então ministro da Educação e das Belas Artes, Jean Zay (1904–1944), e realmente executado em 1946, por conta da Segunda Guerra Mundial, o evento construiu ao longo do tempo uma trajetória de relevância artística e comercial dentro da indústria cinematográfica. “Cannes meio que mudou a minha vida. Vim aqui primeiro com o meu filme Cães de Aluguel, como pequeno cineasta independente, e depois dei a volta ao mundo”, disse Quentin Tarantino (57), no ano passado, em entrevista após a exibição do longa Era uma Vez em... Hollywood. O diretor americano recebeu a Palma de Ouro, o prêmio principal da competição, das mãos do veterano Clint Eastwood (89), por Pulp Fiction, em 1994.

No entanto, por conta do isolamento social obrigatório, para ajudar no combate à pandemia do coronavírus, o evento terá um novo momento em sua história. Segundo os organizadores da edição, ele não será realizado em sua forma original, porém, eles ainda estão estudando algumas opções. “Cannes acontece com a adesão de estrelas, público, imprensa e espectadores. Não foi possível, por conta dos problemas de saúde. O evento tem de apresentar sempre a sua melhor face”, disse Thierry Frémaux
(59), diretor do festival.

As ruas da cidade vão voltar, provavelmente em 2021, a se encher de entusiastas da sétima arte e, claro, de fãs esperançosos e ansiosos pelas passagens dos seus ídolos no tapete vermelho do Palais des Festivals, lugar onde as grandes cerimônias são realizadas. Nas famosas escadarias, muitos ícones do cinema já passaram por lá, como Marilyn Monroe (1926–1962), uma das homenageadas da edição de 2012; Helen Mirren (74), cuja aparição em 2019 causou entusiasmo do público por conta do cabelo rosa; Julie Walters (70) e Sophia Loren (85), uma das figuras mais emblemáticas e recorrentes do festival. A atriz italiana, aliás, tem uma longa história com o festival francês. Além da Palma de Ouro de Melhor Atriz pelo filme Duas Mulheres, de 1960, ela foi presidente do júri da competição oficial em 1966 e apresentou oito filmes em diferentes sessões desde 1955. Na 67ª edição, em 2014, ela foi homenageada e ainda lançou um curta-metragem, A Voz Humana, feito pelo próprio filho, Edoardo Ponti (47), fruto do casamento com o produtor Carlo Ponti (2012–2007). “Sou uma pessoa muito feliz pela vida que tive e que ainda mantenho ativa. Estar em Cannes é realmente uma vitória. Esse momento significa que você sempre pode começar algo novo e eu tenho muita vontade de continuar trabalhando com o meu filho e em outras produções. A vida é realmente linda e tentar ser melhor a cada dia faz parte desta beleza”, revelou Sophia, durante a première. Ela também foi ‘assistida’ pelo público em Matrimônio à Italiana, de 1964, no Cannes Classics, que apresenta filmes antigos e obrasprimas em cópias restauradas.

Apesar de a presença feminina ser intensa, passando pelas atrizes Catherine Deneuve (76), Elizabeth Taylor (1932–2011), Natalie Wood (1938–1981), Bella Darvi (1928-1971) e até a cantora Madonna (61), apenas uma mulher ganhou o prêmio máximo da seleção oficial, a cineasta Jane Campion (66), em 1993, pelo longa O Piano. “Podemos, sim, dizer que há sexismo dentro da indústria do cinema. Agora, sendo presidente do júri da 67a edição, o meu trabalho é fazer com que todas as vozes sejam ouvidas. É um olhar sobre as pessoas que estão fazendo os filmes e acho que as mulheres estão realmente fazendo coisas muito boas”, contou ela, a décima mulher a presidir o júri da competição oficial. A icônica Brigitte Bardot (85) marcou seu nome no festival de diversas formas, inclusive acabou popularizando o uso dos biquínis por suas aparições no balneário, sem contar os looks poderosos no tapete vermelho, que causavam tumulto entre os fotógrafos e jornalistas. “Até os santos venderiam suas almas para poder ver a Bardot dançar”, chegou a dizer a filósofa e escritora francesa Simone de Beauvoir (1908–1986).

Além da seleção oficial, com cerca de 22 filmes concorrendo à láurea, ainda há mais três competições que acontecem paralelamente: Um Certo Olhar, que apresenta filmes de vanguarda; a Semana dos Realizadores, com cineastas em início de carreira, vindos do cenário independente, sendo a grande porta de entrada para o festival em si; e a Semana da Crítica, voltada para os críticos de cinema e a imprensa especializada, sendo mais de 5000 jornalistas do mundo todo disputando credenciais para 300 lugares das salas de cinema. Há também as  produções que são exibidas sem estar na corrida pela honraria, como no caso de Mad Max: Estrada da Fúria, de 2015, protagonizado pelos atores Tom Hardy (42) e Charlize Theron (44), e Rocketman, filme biográfico do cantor Elton John (73), no ano passado, estrelado por Taron Egerton (30). “Se estou aqui, onde gravei o clipe de I’m Still Standing, lançando o filme sobre a minha vida, eu só posso dizer que sou muito sortudo e que a resiliência se tornou minha companheira”, disse Elton, sobre o vídeo gravado em Carlton Beach, em Cannes, em 1983.

O Brasil já conquistou a Palma de Ouro, com O Pagador de Promessas, em 1962, recebida por Anselmo Duarte (1920–2009). Além disso, produções brasileiras já foram indicadas 38 vezes à premiação principal, como Terra em Transe e O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro, ambos de Glauber Rocha (1939–1981), Aquarius, com Sônia Braga (69), e, mais recentemente, Bacurau, também estrelado pela atriz brasileira e dirigido por Kleber Mendonça Filho (51) e Juliano Dornelles (40).

Até o momento, o Mercado do Filme de Cannes, limitado aos agentes e negociadores e que movimenta cifras astronômicas dentro da indústria, é o único dos acontecimentos a ser mantido e será virtual, em junho.

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