ENTREVISTA

Nívea Maria e Zezeh Barbosa desafiam limites sociais em filme sobre envelhecimento e amizade

Em entrevista à CARAS Brasil, as diretoras Marcela Mariz e Renata Di Carmo relevam detalhes de 'Senhoras', longa estrelado por Nívea Maria e Zezeh Barbosa

Bárbara Aguiar, sob a supervisão de Arthur Pazin

por Bárbara Aguiar, sob a supervisão de Arthur Pazin

bvieira@perfilbr.com.br

Publicado em 04/12/2024, às 11h30 - Atualizado às 14h24

Elenco e diretoras de 'Senhoras', longa protagonizado por Nívea Maria e Zezeh Barbosa - Divulgação

Protagonizado pelas consagradas atrizes Nívea Maria (77) e Zezeh Barbosa (61), o longa Senhoras, produzido e dirigido por Marcela Mariz e Renata Di Carmo, celebra o envelhecimento feminino e critica o etarismo imposto às mulheres pela sociedade. Em entrevista à CARAS Brasil, as diretoras compartilham inspirações e revelam detalhes sobre como as protagonistas, Fátima (Nívea Maria) e Yolanda (Zezeh Barbosa), desafiam limites sociais com a amizade.

Com duas gigantes da interpretação em cena, o filme dá espaço para o realismo ao trazer atrizes maduras para interpretar papéis que condizem com suas idades. Senhoras narra a história de duas mulheres acima de 70 anos que encontram na amizade um refúgio e uma redescoberta de suas liberdades.

Retrato da vida madura

Ambientado no icônico bairro de Copacabana, o filme é um convite para repensar os estigmas em torno do envelhecimento: “Queríamos criar um projeto que abordasse o envelhecimento de uma maneira positiva, leve e poética. Também pensamos em fazer uma história ambientada em Copacabana, um bairro icônico do Rio de Janeiro, conhecido por sua população com mais de 60 anos”, afirma Marcela Mariz.

As diretoras revelam que as personagens principais foram inspiradas em experiências pessoais e histórias reais. Marcela cita a convivência com sua mãe e sua avó, que enfrentou a perda de memória devido à demência, como um dos pontos centrais para a construção das protagonistas. Renata destaca que a relação com a perda e a memória também está profundamente presente em sua vivência pessoal:

Fátima e Yolanda têm um pouquinho de nós duas, muito das mulheres que nos cercam e também do meu pai. A relação com a perda e com a memória, o esvair dela, é algo que me intriga e me emociona, algo que dói”, conta Renata.

No enredo, que traz elementos comuns às mulheres em diversas fases da vida, as duas senhoras no centro da narrativa se apoiam na amizade uma da outra para transcender o preconceito e limites impostos pela sociedade.

Um brinde à liberdade

O longa, é claro, não poderia deixar de versar sobre o etarismo e outras pressões enfrentadas por mulheres que encaram o envelhecimento. “Muitas vezes, o envelhecimento feminino é associado à perda de relevância ou independência, mas acreditamos que essa fase da vida pode ser cheia de possibilidades e novas descobertas”, pontua Marcela.

Essa crítica está presente tanto nos diálogos quanto nas escolhas visuais do filme. Com maquiagem natural e uma cinematografia que privilegia o realismo, a produção busca mostrar o envelhecimento do corpo feminino de forma honesta e bela, sem esconder as marcas do tempo. "É preciso ver beleza em amadurecer. Há muita crueldade nesse tema quando o assunto é o feminino", declara Renata.

Encontro de gerações

Sobre a dinâmica entre Nívea Maria e Zezeh Barbosa, Marcela e Renata só tem elogios. A dupla, segundo as diretoras, foi escolhida a dedo para participar do longa e o resultado não poderia ser melhor. "Elas foram convidadas e está sendo uma honra tê-las conosco. A convivência entre elas tem sido generosa, respeitosa e de admiração. É gostoso vê-las contracenar e ver como tanto a relação das personagens, como a das atrizes, vai se desenhando", afirma Renata.

Além de Nívea e Zezeh, o elenco também conta com atores mais jovens, o que promove uma dinâmica entre gerações no set e na história. Lucas Penteado (28) e Enzo Celulari (27) são responsáveis por trazer o contrapeso dos muitos anos de carreira das estrelas da narrativa.

Marcela destaca que "a troca entre gerações trouxe uma energia muito especial para o filme, não só no aspecto criativo, mas também na forma como o próprio tema do envelhecimento e das amizades intergeracionais se reflete na história”. Além do encontro nos bastidores, a amizade intergeracional é celebrada no enredo do filme:

"Yolanda possui amigos mais jovens que acabam se tornando amigos de Fátima também. Isso se dá naturalmente e se torna algo positivo. Acredito nisso, que a coexistência é enriquecedora e deveria ser estimulada. Nossa sociedade não valoriza os seus mais velhos e supervaloriza a juventude, quando entender as especificidades de cada fase e naturalizar essa relação me parece mais inteligente e menos nocivo para ambos", compartilha Renata.

Desafios do cinema independente

Mesmo com um elenco repleto de nomes de peso, Senhoras está longe de ser uma produção mainstream. Um dos principais desafios para seguir com o longa, como declaram as diretoras, foi a limitação de recursos quando se lança um projeto de forma independente.

Renata desabafa sobre o árduo processo até que o projeto de fato se tornasse possível: “Você precisa de mil estratégias para conseguir dar conta de todas as necessidades, de parceiros que acreditem no filme e de encontrar profissionais que queiram contar essa história. Você quer realizar bem e sabe que, quando o filme for para a tela, pouca gente vai lembrar de levar em conta o quanto de grana você teve para levantar aquela obra”.

Mesmo com um caminho complicado, elas conseguiram entregar uma mensagem com potencial transformador. “Esperamos criar uma ponte entre as gerações e convidar o público a olhar para o envelhecimento de uma forma mais humana e empática. Queremos que Senhoras desperte a compreensão de que o envelhecimento é parte da vida, e que ele deve ser encarado com dignidade, respeito e alegria”, diz Marcela.

Renata almeja que o filme transforme mais do que a visão da sociedade sobre o envelhecimento, mas também sobre o que significa ser uma mulher — segundo ela, um desafio diário, principalmente quando se tem personalidade e desejo de se impor em locais considerados distantes do papel tradicional feminino. “Deixem as mulheres viverem e sorrirem. Se o filme ajudar com isso e as discussões que vierem a surgir a partir dele conseguirem fomentar uma reflexão por um comportamento menos machista, cretino e perverso com nossas existências, ficarei contente”, conclui.

Leia também: Alice Marcone almeja papéis sem rótulos para pessoas trans: 'Antes de mulher trans, sou humana'

Bárbara Aguiar, sob a supervisão de Arthur Pazin

Bárbara Aguiar é jornalista em formação pela Escola de Comunicações e Artes da USP. Amante de atividades culturais e entretenimento, ela escreve para a Caras, Contigo! e atua como diretora de Comunicação Visual na Jornalismo Júnior da ECA/USP.

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