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Você não deve levar muito a sério eventuais mentirinhas de seu amor

Célia Horta Publicado em 12/04/2006, às 17h01

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Célia Horta
Célia Horta
Muitas brigas de casais são desencadeadas por mentiras. Não vou tratar das grandes aqui, que envolvem traições, por exemplo. Refiro-me às mentirinhas do dia-a-dia, que costumam incomodar o parceiro. Ao mentir, a pessoa desperta desconfiança; em alguns casos, demora para recuperar a credibilidade. A mentira se torna, então, estopim de brigas desgastantes para o casal. Alguns são radicais quando tratam do assunto: "Não suporto mentiras. Para mim, quem conta pequenas mentiras não merece confiança, pois mente também nas questões fundamentais." Não é bem assim. Penso que há muitas formas de mentir, como também graus distintos de mentiras. E, se costumam causar brigas, vale a pena conhecer melhor o "mentiroso" antes de criticá-lo. Para entender a questão e buscar harmonia, é importante desfazer alguns mitos. Ouvimos desde cedo que é feio mentir. Mas o fato é que também cedo aprendemos a usar o recurso. A criança vai descobrindo que a mentira pode ajudá-la a preservar-se. É ingênua a mãe que diz ao filho que mentira tem perna curta. Ele sabe que, na prática, só uma ou outra é descoberta. Em muitas situações, até se dá bem quando mente, evitando broncas ou punições paternas. Para sermos verdadeiros, temos de admitir que o grande mentiroso talvez seja quem diz que nunca mentiu. A maioria, senão todos, mente, por exemplo, para não magoar alguém. Também inventa histórias para fazer surpresa ao amado ou amada. De outro lado, às vezes se é obrigado a usar de "falsidade" para ser cordial. É a chamada "mentirinha social". Muitos, ainda, pregam peças nos amigos no dia 1º de abril. É o uso lúdico da mentira. E por aí vai. E quanto aos casais? Por que alguém mentiria ao parceiro? Será que a mentira pode ser inofensiva? Quando é prejudicial? A resposta é: depende não só do tipo, como também da freqüência e das motivações de quem as usa. Deixemos de lado os casos graves de mentirosos compulsivos, que mentem pois não conseguem parar de fazê-lo. Mitomania é uma doença, destrói relações e precisa de tratamento. Mas tais casos são minoria. O que mais existe e nos interessa aqui é a mentirinha boba, mas que abala os casais. Não pretendo defender nem estimular os mentirosos, mas a verdade é que mentir de vez em quando não constitui problema. Há casos em que a pessoa faz de tudo para parecer mais interessante e tornar-se mais atraente para o parceiro. Conta um conto e aumenta um ponto; exagera nas histórias para ficar mais engraçada ou dramática; diz ter lido um livro sobre o qual jamais ouviu falar. Isso revela insegurança e baixa auto-estima de quem não se sente capaz de agradar alguém. Outras vezes, entre os casais, a mentira pode ser uma forma - ainda que haja risco de ser descoberta- de apaziguar o parceiro ávido por discussões. Isso mesmo. Há os que dizem que uma mentirinha pode ser pacificadora. Quando o marido é questionado se sentiu atração pela nova funcionária, jura que não. Claro, conhece a mulher. Sabe que ela tenta começar uma briga e quer evitá-lo. Essa mentirinha "pacifista" também é muito usada se o marido ciumento insiste em ruminar situações do passado, em que sua mulher supostamente esteve envolvida com alguém. Aí não tem jeito. O ser humano tenta proteger-se para evitar atritos. Por isso, se as mentirinhas de seu parceiro o incomodam, converse, diga o que sente. Também observe se a sua reação raivosa diante de uma verdade não funciona como reforço negativo quando ele (ou ela) está sendo sincero (ou sincera). Reações raivosas podem estimular a mentira. Mas tome cuidado para não perseguir a verdade o tempo todo. Isso também desgasta o casal. Pense que as pessoas têm segredos que devem ser respeitados. Você se lembra da infância, quando algum amigo inventava de iniciar o famigerado jogo da verdade? Via de regra, a brincadeira acabava em choro.