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O drama do veterano Stênio Garcia

Ator é demitido após 47 anos na Globo e sete anos sem ser escalado

Bianca Portugal Publicado em 13/04/2020, às 18h00 - Atualizado em 18/04/2020, às 20h38

Em casa, na zona oeste do Rio, Stênio e Marilene se protegem do coronavírus e dividem as dores da nova fase do ator - Cadu Pilotto

Após 47 anos na Rede Globo, quase 70 anos de carreira e com 87 anos de idade, o ator Stênio Garcia está oficialmente fora da televisão. “No dia 4 de março, minha mulher recebeu um áudio do departamento de Recursos Humanos da Globo pedindo para conversar. Eu sou tão burro que achei que era para me dar um aumento porque entraria em alguma nova produção, mas era para avisar que eu estava demitido e que meu último salário seria depositado dia 31 de março, a não ser que eu fosse escalado para alguma produção até o dia anterior, assim havia entendido. Já que não poderia gravar porque não está havendo gravação   nenhuma, achei que bastava estar escalado”, contou ele, referindo-se à sua eleita, Marilene Saade (51). Diante da situação, Stênio decidiu fazer um vídeo apelando para os autores confirmarem seu nome em alguma produção. Mas, depois, ele descobriu que não bastava estar reservado. Precisava estar gravando. Com isso, o aviso prévio já foi depositado. Só falta assinar os papéis. “Acho que isso só não aconteceu ainda porque está tudo parado. Estou em choque. Já passei muito mal por causa dessa notícia. Ainda mais ser demitido em meio a uma pandemia de coronavírus que parou o mundo. Em um momento onde ninguém consegue trabalho em lugar nenhum”, desabafou o ator. 

O desligamento foi o último ato de uma história que, para Stênio, começou há sete anos. Após fazer a novela Salve Jorge, que acabou  em 2013, ele pediu à direção da emissora autorização para passar três meses em Nova York estudando. Desde que retornou, nunca mais foi escalado. “Entrei na Globo em 1973. Nunca deixei de trabalhar.  Cheguei a fazer duas produções ao mesmo tempo, Carga Pesada e Hoje É Dia de Maria, cheguei a ter três férias vencidas, quando isso era possível, cheguei a trabalhar com dengue hemorrágica em O Clone porque eu quis assim. Eu amo o que faço. Meu trabalho sempre esteve à frente até mesmo da minha saúde. É meu combustível, não apenas financeiro. Quero morrer trabalhando, mas houve mudanças na direção da emissora e me colocaram na geladeira. Só que demorei para entender isso, que poderia ser um problema pessoal”, contou ele, que passou o ano de 2014 todo aguardando ser chamado, em vão. Em 2015, vazou uma foto do ator nu, ao lado de sua mulher. Chegaram a cogitar que ele não estaria sendo chamado para trabalhar por conta da foto. “Já não estava sendo escalado bem antes. Agora é oficial, mas fui demitido em 2013”, explicou ele.

Nesse período fora do ar, Stênio desenvolveu micro isquemias transitórias, que não deixaram sequelas, e sofre com pressão alta e alguns episódios recentes de vômitos, cuja causa ainda não foi diagnosticada. “Sem contar a depressão. Via todos os meus colegas da mesma idade trabalhando. Só eu que não estava. Nunca parei de trabalhar, ganhei vários prêmios e estava sendo tratado como um cachorro morto. Fiquei muito deprimido”, desabafou ele.

Vivendo por sete anos apenas com o salário-base, Stênio também viu suas reservas financeiras acabarem. “Sempre fui arrimo de família. Comecei a trabalhar aos 6 anos em Mimoso do Sul, no Espírito Santo, onde nasci, pegando areia do rio para vender para fazerem cimento. Já vendi doce em trem, fui office boy... E sempre dando quase tudo para a minha família. Tinha meu dinheiro guardado para o fim da vida. Não moro em condomínio de luxo, não tenho uma vida cara, mas com todos os médicos e remédios que tenho usado, acabou. E quando assinar a demissão definitivamente, não tenho mais quase nada de FGTS porque retirei quando me aposentei. Fazia parte dessa reserva que acabou. Esses últimos sete anos têm sido torturantes”, disse. “Mas tenho uma imensa gratidão pelos 40 anos que trabalhei na Globo. Digo 40 porque os últimos sete não trabalhei. Eu era um dos atores preferidos do Dr. Roberto Marinho. Nunca tive problemas com a emissora ou com a família  Marinho. Só gratidão e um profundo amor. Nunca vou brigar com a Globo ou processar. Mas quem vai pagar por esses danos? Sofri assédio artístico, moral, financeiro e de saúde”, completou. 

A demissão ainda ocorreu em meio à pandemia de coronavírus, o que tem apavorado Stênio, inserido no grupo de risco por sua idade e condição de saúde, e Mari. Ela já teve SARA, Síndrome de Angústia Respiratória do Adulto, e quase morreu. “Vi de perto o que Marilene sofreu por não poder respirar. Sei que, com minha idade e minhas condições físicas, se pegar Covid-19, morro. Não saio de casa para nada. Aproveito para fazer um apelo a todos. Imploro para que ninguém saia de casa pela vida de cada um e pela sua própria vida.

Revista Stênio Garcia

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