Em entrevista exclusiva à Revista CARAS, Marina Lima revela não estar preocupada com julgamentos
Radicada em São Paulo há quase 14 anos, Marina Lima (68) volta ao Rio de Janeiro para se apresentar no Tim Music Noites Cariocas. “Adoro cantar no Rio, parece que nunca fui embora”, avalia a cantora, em entrevista exclusiva à CARAS. Prestes a encerrar a turnê Nas Ondas de Marina, a artista fala dos próximos passos na música, da série sobre sua carreira na Netflix e ainda reflete sobre maturidade e a vida de solteira. “A vida é feita de fases mesmo e acho que com um tiquinho de equilíbrio, descobrimos um jeito de levá-la”, diz.
– Você já anunciou a nova turnê, a Rota 69. É em comemoração a sua próxima idade?
– É, não deixa de ser... faço 69 anos em setembro. Mas o Rota 69 será sobre o meu percurso. Tenho viajado nos últimos três anos com o Nas Ondas da Marina e esse novo show se chamará Rota. Daí já começa a diferença.
– Como você tem encarado o passar do tempo?
– Devo confessar que gosto. Sabe por que? Porque já vivi todos os anos anteriores. Já vivi minha adolescência, meus 20, 30, 40, 50… E não fiquei presa nessas idades. A verdade é que eu sou muito curiosa com as coisas que a vida me mostra ou propõe. Só comecei a dominar mesmo a minha vida depois dos 60 anos.
– Ganhou mais liberdade?
– Muito mais. Com o tempo, a gente vai se sentindo mais segura e até merecedora de nossas escolhas. E com bem menos preocupação do julgamento alheio.
– Após o fim de seu casamento, você contou que, hoje, entende que não precisa estar em uma relação para estar bem. Como tem passado essa fase solteira?
– Precisamos estar bem até para não ficar num relacionamento e ficar bem... Minha fase solteira tem variado bastante. Ora dando fora, ora bola, ora feliz com meu trabalho, ora querendo mudar para Shangri-La. A vida é feita de fases mesmo, acho que com um tiquinho de equilíbrio, descobrimos um jeito de levá-la. Estou gostando do andamento da minha, ela está me levando na direção que queria.
– Como uma romântica, pretende seguir assim ou está aberta para o inesperado?
– Acho que todo mundo é romântico (risos). Infelizmente. Estou sempre querendo aprender com as oportunidades que a vida me traz. Algumas novas, desconhecidas, outras que são, particularmente para mim, atemporais. Acho que o segredo é saber escolher bem as batalhas que você quer travar… e ter a coragem para amar, trabalhar e conviver.
– Você sempre foi um símbolo de liberdade feminina, inspirou muitas mulheres, foi uma das primeiras artistas a falar abertamente sobre sua sexualidade e a defender a causa LGBTQIAPN+. Pagou algum preço por isso?
– Não… O maior preço que paguei foi o de ser mulher. Isso já criava uma tensão e a desigualdade se estabelecia de cara, ali. Hoje mudou, está caminhando para um lugar mais justo, mas ainda não está tudo dominado. Sinto orgulho das mulheres, da população LGBTQIAPN+ e dos pretos também. Toda a nossa maioria, porque somos maioria mesmo, está levando adiante lindamente essa luta.
– O sucesso te assustou no início da carreira. Como lida com ele nos dias de hoje?
– Com clarividência. Aprendi muito nesses anos todos. O sucesso me olha, eu olho para ele e vamos conversando e criando nosso pacto.
– Várias gerações curtem suas músicas, algumas canções ganharam novas versões. Como vê seu trabalho atravessando o tempo?
– Devo dizer que estou bem feliz. A minha música, os discos, minha obra, sempre buscou soar livre, contemporânea. O que me interessa é tentar descrever o meu tempo. E o meu tempo é um tempo que não é datado. É um tempo de pausas, acelerações, freadas bruscas… É o tempo da vida. Acho que a conexão vem daí.
– Vai ter mesmo a série da Netflix sobre a sua carreira? O que você pode nos adiantar sobre essa produção?
– Vai ter, sim. Já tem a diretora, a atriz protagonista, um roteiro… Acho que cinema, séries, são processos bem mais demorados, mais longos do que música. Mas vai sair.
– Em um trecho do documentário Uma Garota Chamada Marina, você disse: “Tinha um alicerce de tudo que construí, as pessoas sabiam quem eu era, mas não sabiam quem eu queria ser agora”. Quem você quer ser agora, quase aos 69?
– Eu quero descobrir o que há de libertador agora, nesse processo e idade em que me encontro. Quem sabe eu não surfo essa onda? Mas eu estou de olho mesmo é no Rota 69. Esse show vai pegar fogo. E lá vou eu de novo, feliz, diga-se de passagem, em busca de um novo Apogeu.
FOTOS: Candé Salles
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