Em entrevista à revista CARAS, Guthierry Sotero recorda decisão de trocar o Ministério Público pela arte e reflete sobre responsabilidade na vida
No meio do caminho surgiu a arte! Foi assim que Guthierry Sotero (22) trocou o Direito pela atuação e pela música. E ele não se arrepende. Depois de se destacar como Vini, personagem que cresceu em Vai na Fé, o ator volta ao ar na também global No Rancho Fundo.
Consciente de viver outros tempos no audiovisual — ainda bem! —, o carioca celebra o fato de sua caminhada não ter sido tão difícil quanto a de seus ancestrais e luta para continuar abrindo novos caminhos para as próximas gerações.
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"As pessoas capinaram bastante para que eu pudesse chegar aqui. Que a gente possa continuar capinando e seja uma trajetória tranquila e leve para todo mundo", diz o artista, em papo exclusivo com CARAS no hotel LSH – Lifestyle Laghetto Collection, no Rio.
Antes da TV, você fazia estágio no Ministério Público e pensou em ser desembargador. O que te fez mudar de ideia?
Aos 16 anos comecei a estagiar no Ministério Público na área administrativa e acabei me apaixonando pelo Direito. Passei até no curso na UERJ, mas no mesmo momento eu também passei no teste para fazer Malhação Transformação, que seria em 2020. Fiquei bem dividido, mas a arte falou mais alto. No início, fiquei com pé atrás, pensando se deveria ter feito isso, mas hoje sou muito agradecido por essa escolha. Eu fiz a escolha certa.
Então você começou a ter responsabilidade cedo...
Tanto na profissão — de fazer essas escolhas — quanto na vida particular e na minha família, de ter a responsabilidade, desde cedo, de ser o homem da casa. Querendo ou não, é um peso que tenho de ter começado a ser o responsável, o homem da casa, ainda tão novo, e também pelo fato de, hoje, ser o cara que ainda mora na favela, moro na Nova Holanda, na Maré, mas que conseguiu alçar voos. Essa demanda para mim é muito importante ao mesmo tempo que ela é pesada, por ser essa referência para os meus amigos, para as crianças. Lembro que, no dia em que passei para No Rancho Fundo, recebi a ligação e depois fui treinar, para espairecer um pouco. No caminho, o irmão de um amigo, que tem 9 anos, me perguntou quando eu ia aparecer na novela de novo. Pensei: 'Caramba, acabei de receber a ligação'.
Sua mãe te criou sozinha? Consegue ajudá-la agora?
Minha mãe teve quatro filhos. A mais velha, Ingrid, hoje tem 30 anos e é casada há 15, então ela saiu de casa cedo. Já os meus irmãos mais novos, a Maria Clara e o Pedro Henrique, moram com o pai. Fui o único que vivi a vida inteira com a minha mãe. Meus pais se separaram quando eu tinha 9 meses, não pude conviver com esse lance de paternidade e maternidade juntas. Hoje, ajudá-la é uma das minhas maiores vitórias na vida, poder dar uma casa para minha mãe, poder trazer coisas para ela que eu não pude ter... meio que estou curando traumas de infância. Para mim é gratificante.
Antes do Direito e da atuação veio a música, não é?
Música é minha paixão, eu sempre gostei de ouvir Racionais MC's e comecei a acompanhar as batalhas de rap. Mas sempre fui muito tímido, então essas batalhas não davam para mim, porque até hoje fico muito nervoso e travo na hora. Comecei a compor, a escrever algumas poesias, só que, pelo fato de ser muito tímido, eu ficava com receio do que as pessoas iam achar e demorei três anos para lançar a poesia. Pensei: é o meu sonho e se não correr atrás ninguém vai fazer isso por mim. Acabei gravando um vídeo com a ajuda de amigos.
E onde a arte entra nisso?
Após três meses, o Felipe Aguiar, um pesquisador de elenco da Globo, achou meu vídeo no Instagram e me mandou mensagem falando para eu fazer um cadastro na emissora. Achei que era mentira, algum trote, demorei para responder, mas deu tudo certo. Penso em voltar com a música, porque é algo que me alimenta muito. Tenho vários vídeos no YouTube, no Instagram e tenho carinho pelas minhas músicas que estão no Spotify. Se Deus quiser, este ano lanço meu EP.
Foi fazer teatro para perder a timidez?
Sim. Eu fui a uma batalha de slam, estava muito travado, cheguei à final e perdi. As meninas que competiram comigo eram muito performáticas e eu não entendia, achava que era só falar a poesia, mas no final duas pessoas me falaram que meus textos eram muito bons, mas eu precisava me soltar mais, fazer teatro... Fui para o teatro para me soltar no palco em apresentações musicais, mas o teatro me pegou e acabou se tornou minha paixão.
Como é sair do subúrbio carioca para o sertão da novela?
O meu maior medo era o sotaque, porque sou carioca da gema, falo chiando e o sotaque da novela é completamente diferente e reverbera no corpo, no jeito de agir. Colei muito com atores do elenco que são do Nordeste e essa relação com eles me ajudou a ter mais leveza. Além disso, fiz terapia, para não ficar me cobrando sem necessidade.
Entrou na terapia por causa da novela?
Comecei antes das temporadas de Malhação que caíram. Cheguei a negar projeto para fazer Malhação e aí caiu, meu mundo desabou, foi uma frustração. Mas outras oportunidades vieram, você está fazendo sucesso na TV, na internet e o público até comemora quando tem cenas suas sem camisa! Eu me divirto com isso, mas sou tímido, não sei receber elogio. Fico: 'Poxa, obrigado'.
Dão em cima de você nas redes sociais, pessoalmente?
Dão em cima, sem contar os nudes. Recebo de homem, de mulher e sou curioso. Se a pessoa me manda mensagem, vejo. Não costumo responder, mas vejo [risos].
Sempre se achou bonito?
Eu me acho bonito, a única insegurança por muito tempo foi a altura, porque sou baixinho. O meu sorriso também, porque fiquei com o aparelho por oito anos, agora meu sorriso está lindo, a galera até pensa que tenho lente [risos].
Você está solteiro?
Estou solteiro e com o meu coração apertado.
Quer construir uma família?
Pretendo ter família, dois filhos. Na cabeça vou ser pai com 28 anos, mas antes vou estar bem, com a vida bem estabilizada!
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