Entrevista

Christiane Torloni diz: 'Começamos a ter consciência de que somos a Amazônia'

Guardiã da floresta, a atriz Christiane Torloni atesta a urgência da preservação ambiental

por Fabricio Pellegrino Publicado em 12/06/2023, às 09h34

Christiane Torloni em ensaio fotográfico na Revista CARAS - FOTOS: GUSTAVO BETTINI

Uma epifania. Assim Christiane Torloni (66) define o primeiro mergulho que deu no Rio Negro há décadas. A partir dali, emergiu uma voz em defesa da Amazônia. De lá para cá, entre diversas iniciativas em nome da preservação da floresta, ajudou a colher cerca de 1,5 milhão de assinaturas pelo movimento Amazônia para Sempre, produziu e dirigiu o documentário Amazônia, o Despertar da Florestania e se tornou embaixadora da Fundação Amazônia Sustentável (FAS), ONG que promove conservação ambiental e melhoria na qualidade de vida dos ribeirinhos do Amazonas. Pelo ativismo, a atriz foi convidada por CARAS para liderar um grupo de atores e influenciadores em uma imersão na Amazônia por três dias. “Todos que sentem o chamado da floresta e abraçam a Amazônia como um pedaço de si se tornam embaixadores. É um convite pessoal e intrasferível. E não tem idade para receber esse chamamento. Só tem que vir par cá”, defende Chris. E a luta continua.

O próximo destino da atriz é a Ilha da Madeira, em Portugal, para participar do Fórum Internacional Amigos da Amazônia. O evento é um braço da FAS na Europa. Christiane, além de exibir seu filme no encontro, falará sobre as ações de impacto positivo na Amazônia.

– Como recebeu o convite para a imersão na floresta?
– Senti que estamos mudando. A Amazônia parece inexpugnável, longínqua, assustadora... Mas começamos a ter a consciência coletiva de que somos a Amazônia e que ela não está longe. CARAS também vem mudando. Essa atualização de conceito ligado à cidadania, à brasilidade é à florestania está funcionando.

– Como foi a sua primeira vez na Amazônia?
– A primeira vez que mergulhei no Rio Negro, no anos 1980, foi um batizado emocionante. Senti um preenchimento no coração, entendi o que faltava em mim. Uma epifania. A causa nasceu ali: é impossível se apaixonar por algo e não querer proteger, afinal, é amor. Vir à Amazônia e deixá-la conversar com você te ajuda a entender o que falta para se tornar um brasileiro integralmente.

– E aí, então, se tornou ativista?
– Nós somos responsáveis por ações de proteção e preservação. Quando começamos a agir, não nos sentimos sós e arregimentamos pessoas. A ferramenta para isso é a educação. Nossa educação é colonialista. Sou filha do colonizador e do colonizado. Tenho avós espanhóis, italianos e indígenas.

– Como foi criada?
– Fui educada com a percepção de entendimento quântico de que esses elementos todos formam nosso DNA. Como mudamos uma consciência de exploração em nome do progresso? Quando a bandeira do Brasil foi pensada era para estar escrito amor, ordem e progresso. O amor foi tirado. Tirar esse elemento da equação pode fazer com que a ordem e o progresso sejam devastadores. Ordem de quê? Progresso em nome de quê? Acima de tudo e todos? Precisamos segurar o aquecimento global para não perder o planeta. Como nós, os últimos a chegar aqui, seremos os destruidores do planeta? Meu neto diz: “sei que você é ‘guadião’ da floresta”. Como impedir que quem vem depois de nós destrua a Amazônia? Educação!

– Você é embaixadora da Fundação Amazônia Sustentável, que tem 9 miniuniversidades espalhadas pela floresta. Como funciona esse trabalho?
– São pontos de educação dentro das unidades de conservação. Temos escolas nesses lugares e nosso mestre é o Darcy Ribeiro. Ele dizia: “temos que amazonizar a educação” ou seja, trazer o conhecimento dos povos originários. Não adianta ensinar apenas Aristóteles e as lendas do Sudeste. Existe a educação dos ‘fazimentos’, e os povos originários têm conhecimento sobre todo esse ecossistema. A fundação não é paternalista. Pelo contrário, perguntamos: “o que necessitam? Vocês têm conhecimento para trabalhar os óleos da Amazônia, o que precisam para isso deslanchar? Sabem como fazer o trabalho da farinha, o que é necessário para ela chegar a outros lugares?”

– Que mudanças promoveram?
– Antes não tinha luz, diesel... Agora plantamos as fazendas de captação de luz solar, que neutralizam e têm baixo custo. As comunidades em que a Fundação chegou ganharam autonomia.

– Temos muito a aprender com os povos originários, né?
– O guia que nos acompanhou é um professor da floresta. Fizemos uma trilha e foi uma master class. Você olha para uma árvore e não vê nada, mas ele explica que ali tem água, proteína... Os nativos sabem o que comer, caçar, se abrigar... Nós não sobrevivemos nem na cidade, precisamos do seguro do carro para trocar um pneu. No universo urbano, estamos perdendo nossas habilidades.

– O que acha do ecoturismo?
– É a grande saída desse enigma. É uma forma de preservamos sem sujar e começar a restaurar os biomas degradados em nome dessa
colonização predatória.

– E a responsabilidade de participar do fórum em Portugal?
– É a mesma dos anos 1980, época das Diretas Já. O mesmo sentimento de “precisamos avançar e o tempo está passando, vamos para a rua, pegar a bandeira e gritar ‘democracia já’”. A democracia nunca será uma guerra ganha, assim como a florestania. Quando vi a floresta queimar e recebi esse chamamento, tive que levantar a bandeira de uma causa global. Tem quem queira achar outro planeta para predar quando esse acabar. Mas a Terra é a nossa joia, a nossa mãe. Nesses fóruns temos lideranças indígenas, engenheiros florestais... Discutimos possibilidades, não deveres e direitos, mas oportunidades para que possamos, nesse trabalho de rede, melhorar coisas comuns. 

FOTOS: GUSTAVO BETTINI

 

Christiane Torloni CARAS Amazônia

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