ENTREVISTA

Sued Nunes destaca influência negra e ancestral na música brasileira: 'Nasceu de tradições'

Em entrevista à CARAS Brasil, a cantora Sued Nunes fala sobre inspirações para o novo álbum e recepção do seu trabalho pelo Brasil

Bárbara Aguiar, sob a supervisão de Arthur Pazin
A cantora Sued Nunes - Divulgação

Sued Nunes, cantora baiana que tem conquistado fãs com suas composições e arranjos originais e profundos, se prepara para retornar a São Paulo, onde fará um show inédito no próximo final de semana, nos dias 18 e 19, com canções de seu novo álbum, Segunda-feira. Em entrevista à CARAS Brasil, a artista destaca influência negra e ancestral na música brasileira: "Nasceu de tradições", declara.

Os caminhos da música

Sued conta que Segunda-feira reflete temas de recomeço e renascimento, como uma metáfora para o ciclo de transformação pelo qual a cantora está passando em sua carreira. "Quando a música por conta da repercussão me fez conhecer outras ruas, novos cotidianos, tive que me atentar a observar tanto por ser novidade, como por sobrevivência", explica a baiana, destacando o quanto a vivência de novos cotidianos fez com que sua arte se tornasse um reflexo mais profundo e pessoal.

A energia de Exu, um dos orixás mais representativos do candomblé, é um pilar para o trabalho musical de Sued. Ela compartilha que, para trazer essa figura em sua musicalidade, não foi preciso fazer uma tradução de sua energia, mas narrar como viu a manifestação dele em detalhes de sua vida.

"É difícil traduzir Exu, tanto que quando a colonização chegou até os nossos ancestrais, ele foi demonizado também por isso: tão amplo, imprevisível e indecifrável. O processo parou de ser tão desafiador quando entendi que não precisava traduzir, precisava contar onde na minha vida eu o via", reflete.

Essa compreensão a atingiu e se aliou ao processo de se descobrir nos caminhos que a música a colocou, e é nesse conceito que se baseia Segunda-feira: "O conceito passeia pelo momento em que eu peço ao dono das ruas proteção para vivê-las enquanto narro situações em que esses novos lugares me colocaram".

Encontro entre tradição e musicalidade

A relação entre a tradição e a inovação é uma das marcas da carreira de Sued. Para ela, muito do que é consumido em solo nacional tem raízes profundas na tradição. "O funk", explica, "bebe de uma clave de tambor; o axé music deve aos blocos afros, aos batuques de candomblé".

"São traços originais dando vida à realidade e experimentações de cada tempo. É a tradição
também passando pelo agora", diz. A cantora, que passou de violão a beats, busca trazer em suas composições um equilíbrio entre o sagrado e o contemporâneo, sempre com uma visão clara de sua ancestralidade e fé.

Sued afirma que não esconde suas inspirações e imprime na música tudo o que a guiou durante a criação, um movimento que a coloca como alvo de um mercado que consome a cultura negra, mas não credita e dá o protagonismo justo aos artistas que a representam. "Tento trazer pra minha música de maneira consciente e exposta de onde coleto o fazer e trago pra minha história", explica.

Desafios da carreira

Direta ao afirmar que já sofreu com a indústria por ser uma mulher negra, baiana e de axé, Sued tece críticas ao mercado musical: "Quando é nossa vez de criar a partir do nosso lugar, vira político, racializado, a produção vai para nichos específicos, é regional, tradicional, de axé".

"Os palcos querem quem você é quando buscam a temática, a cor, o sagrado, o novembro, a campanha perfeita, o festival mais politizado. A minha carreira é esse eterno desafio", desabafa, mas se mantém firme em sua trajetória.

Novos rumos

Dona de uma carreira que ganha cada dia mais reconhecimento em todo o Brasil através da identificação pelo público, Sued almeja chegar mais longe. "Sinto que tem sido orgânica a difusão da minha música fora da Bahia, a comunidade que se sente tocada pelo propósito do meu trabalho tem dado conta de espalhar aquilo que eu sou e a forma como são tocadas pelas canções".

Em uma fase de maturidade artística, ela busca expandir, também, suas fronteiras criativas: "Se cada projeto meu seguir o fluxo das fases e experiências da minha vida, acho que tem muita coisa pra vir. Não gosto da ideia de ficar petrificada numa estética só porque as pessoas curtem", declara.

Com alguns lados pouco explorados musicalmente, a artista possui o desejo de mostrar ao público outros caminhos de sua musicalidade: "Sinto que ainda não expus tanto meu lado afetivo, a minha métrica de quando recitava poesia nas ruas, ainda quero propor feats imprevisíveis e outros gêneros musicais que fizeram parte do que eu ouvi ao longo da vida", conclui.

Leia também: Beto Marden encara desafio de levar reflexões de Renato Russo para os palcos: 'Temas muito atuais'

Bárbara Aguiar, sob a supervisão de Arthur Pazin

Bárbara Aguiar é jornalista em formação pela Escola de Comunicações e Artes da USP. Amante de atividades culturais e entretenimento, ela escreve para a Caras, Contigo! e atua como diretora de Comunicação Visual na Jornalismo Júnior da ECA/USP.

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