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Morte de rapaz após peeling de fenol causa estranheza em cirurgião plástico: ‘Primeiro’

Em entrevista à CARAS Brasil, o cirurgião plástico Carlos Conte comenta o caso do empresário Henrique Silva Chagas, em SP, e dá detalhes sobre a técnica

Thaíse Ramos

por Thaíse Ramos

Publicado em 04/06/2024, às 15h38

Henrique Silva Chagas morreu após ser submetido ao peeling de fenol - Reprodução/Instagram

A esteticista e influenciadora digital Natalia Fabiana de Freitas Antonio, que se identifica nas redes sociais como Natalia Becker, fez um peeling de fenol no empresário Henrique Silva Chagas (27) e ele acabou morrendo, após o procedimento estético. O caso aconteceu na última segunda-feira, 3, na clínica dela, a Studio Natalia Becker, no Campo Belo, Zona Sul da capital paulista. Mas o que é peeling de fenol? A CARAS Brasil conversou com o cirurgião plástico Carlos Conte, especialista na técnica, que fez alguns alertas importantes e viu com estranheza a causa da fatalidade. 

De acordo com o especialista, o peeling de fenol é um procedimento que consiste na aplicação de uma substância química extremamente irritante para a pele, promovendo a sua descamação superficial e profunda. “A ação ocorre por meio de uma queimadura química, que estimula a produção de colágeno. Com isso, se consolida como um potente redutor de rugas e linhas de expressão. O fenol tem uma formulação muito antiga, usada desde os anos 60, mas que foi aprimorada ao longo do tempo”, explica.

“Hoje em dia, a substância aplicada não tem apenas fenol, mas também um produto chamado óleo de Cróton, que é o responsável por fazer com que o peeling se aprofunde mais na pele. Além disso, um tipo de sabão chamado novisol e água destilada também compõem o produto”, emenda.

Para entender o funcionamento do peeling de fenol de forma mais fácil, precisamos entender que ele provoca uma abrasão química, que é controlada e tem como efeito a irritação da pele. “Essa inflamação irá provocar uma descamação da camada córnea, que compõe a superfície da nossa pele, e de camadas inferiores. Por isso é importante que esse procedimento seja feito por profissionais capacitados, como cirurgiões plásticos e dermatologistas, em centros cirúrgicos”, destaca Conte.

Ainda de acordo com o cirurgião, para a aplicação do peeling de fenol deve ser feito exames laboratoriais pré-operatórios e um cardiologista deve ser consultado. “Outro detalhe importante antes da realização, é a preparação da pele e do paciente, que deve ser feita com os médicos do seu próprio uso”, salienta. 

A formulação do peeling de fenoal é preparada na hora da aplicação, com concentrações padronizadas e muito bem definidas de cada componente. O procedimento é feito sob anestesia local e pode durar cerca de quatro horas. “Essa aplicação é feita por áreas com um intervalo de 10 minutos a 15 minutos, tempo suficiente para que o fenol faça efeito. O aspecto após o procedimento é o de uma queimadura para depois começar uma descamação, que vai durar de duas a três semanas”, informa.

Após aplicação, o período bastante incômodo, pois a pele fica muito ressecada, repuxando e descamando, de acordo com Conte. “Nesta fase, o paciente que realizou o procedimento não pode se expor ao sol de forma alguma, ou seja, precisa ficar dentro de casa. Além disso, o uso de analgésicos pode ser indicado nos dois primeiros dias. A pele pode ficar vermelha por cerca de dois meses e nesse período a hidratação é fundamental, precisando ser feita com a aplicação sobre a pele de duas a três vezes por dia”, diz.

RISCOS E CONTRAINDICAÇÕES

O fenol é cardiotóxico, podendo causar arritmia e até mesmo parada cardíaca. “Portanto, para fazer um peeling profundo, o paciente precisa estar monitorado, de preferência em um centro cirúrgico, com anestesista e todo o suporte necessário. Se o paciente tiver algum tipo de alteração nos rins, pode ocorrer a falência renal (quando os rins perdem suas funções)”, explica o cirurgião.

Além disso, vale lembrar que o peeling de fenol pode ser um procedimento com um tempo de recuperação mais longo e repleto de cuidados. “O paciente precisa ser muito bem informado e orientado pelo médico sobre todos os processos que envolvem sua realização”, fala.

O peeling de fenol é indicado após uma avaliação criteriosa, para tratar pessoas com cicatrizes de acne, rugas profundas, fotoenvelhecimento intenso, flacidez cutânea, entre outras situações. E é contraindicado em alguns casos. “Como pele negra, pois há chances de desenvolver manchas; Arritmias: ou seja, que tenham batimentos cardíacos irregulares; Doenças autoimunes: como artrite e lúpus, ou infecções de pele; Doenças renais ou hepáticas (no fígado); Diabetes; Pessoas mais jovens: por ser um procedimento muito agressivo, não é indicado para quem tem apenas poucas rugas”, informa o especialista.

'PROCEDIMENTO SEGURO'

De acordo com Conte, nunca ocorreu um caso de óbito por peeling de fenol comprovado. “Nunca existiu isso. Ele é um procedimento muito seguro desde que ele seja levado a sério e respeitado todos os critérios de segurança. O que aconteceu neste caso especificamente foi o estímulo cardíaco causado pela dor, e essa dor, imediatamente, vai fazer uma brádio cardíaca e essa brádio cardíaco que acabou levando ele ao óbito, a parada cardiorrespiratória”, destaca o cirurgião.

“A gente tem o peeling de fenol superficial, o médio e o profundo. O peeling de fenol médio e profundo devem ser feitos em ambiente hospitalar, com anestesista, com monitoramento cardíaco, com oxigênio, para se precisar, a gente tem todo o suporte ali. Como ele estimula muito a dor, ele pode fazer estímulo cardíaco e pode vir até um ataque cardíaco e em seguida uma parada cardíaca e realizar uma parada cardiorrespiratória. Então ele deve ser feito por médico e especialista e não deve ser feito em consultório. Isso é o mais importante. É um procedimento seguro”, emenda o especialista.

O cirurgião volta a ressaltar que não existe nenhum caso de óbito no mundo. “É o primeiro caso de óbito por peeling de fenol. Então, realmente foi uma indicação errada, indicação de fazer um peeling profundo no consultório (...) Não foram respeitadas as subunidades - de 10 em 10 minutos a 15 minutos por cada subunidade da área aplicada, para que você não tenha uma complicação e um caso fatal como esse”, ressalta.

EM ALTA

O peeling de fenol está em alta e começou a ser mais popularizado, principalmente, porque alguns anos atrás existia uma reformulação do fenol que diminui a concentração de 50% para 30%, segundo Conte. “Foi descoberto que o óleo de Cróton que fazia essa profundidade. Então, como ele passaria a ser menos cardiotóxico e menos profundo, começou a se popularizar nas outras áreas da saúde que não são médicos. Mas o que é importante a gente saber é que o peeling de fenol tem indicação”, fala.

“Então, nesse caso, este paciente era muito jovem. E, provavelmente, não tinha indicação de ser feito o fenol e, infelizmente, foi superestimado e feito. De acordo com as indicações, um peeling de fenol profundo, a gente realiza normalmente em centro cirúrgico, e não existe nenhum caso de óbito com o peeling de fenol no mundo. É dos peelings mais seguros que tem, o único problema foi que realmente é mal executado. Foi uma pessoa que era micropigmentadora e tinha uma clínica de estética sem especialidade alguma”, acrescenta.

O cirurgião plástico ainda faz um último alerta: “O grande problema das pessoas não habilitadas, é que elas acabam fazendo como se fosse uma maquiagem. A absorção dele é muito rápida e pode dar uma descarga adrenérgica. Então, é uma pena (...) Não sei como ele teve acesso a isso, pois precisa de uma prescrição médica para mandar manipular esse peeling. É uma fatalidade, infelizmente”.

Carlos Conte - Cirurgião Plástico, associado BAPS (Associação Brasileira de Cirurgia Plástica); Especialista em peeling de fenol, Lipe HD, Prótese de recuperação 24h, Sutiã Interno e Alça Muscular; É formado pela Universidade Estadual do Amazonas, tendo realizado Residência Médica em Cirurgia Geral no Hospital Ielar em São José do Rio Preto – SP e Cirurgia Plástica no Serviço de Cirurgia Plástico Dr. Ewaldo Bolivar em Santos.

O cirurgião plástico Carlos Conte - Arquivo Pessoal

 

Thaíse Ramos

Thaíse Ramos é repórter do núcleo de pautas especiais do Grupo Perfil. Formada em Jornalismo, integrou as equipes de entretenimento do Estadão e Gshow e atuou ao lado do colunista Leo Dias. Ama música, cinema, moda e beleza. Instagram: @thaiseramoss

Saúde morte São Paulo peeling de fenol

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