Que é uma fofura ver uma criança toda arrumadinha, esbanjando charme com roupas cheias de personalidade, isso ninguém nega. Agora, depois dos sites com fotos de streetstyle popularizarem os hipsters (jovens e adultos que gostam de lançar novas modas), é a vez dos minihipsters, a versão infantil dessa tendência. O fashionista do momento é Alonso Mateo, de 5 anos. O garoto compartilha para 2,5 mil seguidores no Instagram seu “look do dia”, quase sempre composto por peças de grifes como Tom Ford, Diesel e Dior, por exemplo. "Eu amo roupas, tênis e óculos de sol. Gosto de me vestir como meu pai", disse em entrevista ao The Cut, da New York Magazine. A mãe de Alonso, Luisa Fernanda Espinosa, que é estilista, garante que o filho é responsável por compor o visual.
Mas se todo mundo suspira ao ver um bebê bem vestido, os excessos em relação à moda e à vaidade podem ser prejudiciais ao desenvolvimento dos pequenos. O assunto é polêmico. E complexo. Afinal, o ser humano é complicado. Ao contrário de uma rosa, que nasce e morre rosa, o desenvolvimento da criança tem a ver com a sociedade e depende da relação que ela constrói com o mundo em que vive.
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Existem algumas atividades centrais que orientam o desenvolvimento das crianças de acordo com faixas etárias específicas. Dos 3 aos 6 anos, por exemplo, é o jogo de papéis. “Eles sabem que são crianças e que estão inseridos no mundo adulto, mas não têm condições de serem, de fato, adultos”, diz Ângelo Antônio Abrantes, professor de psicologia da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, UNESP. Então, é mais do que normal, e saudável, que a criança queira imitar os pais. A menina quer passar a maquiagem da mãe, usar o sapato de salto, o menino quer usar a gravata, carregar a pasta. “E essa imaginação não é uma forma de alienação, mas sim um instrumento para entender melhor a realidade”, afirma Abrantes. “A criança, quando se coloca no lugar do outro, passa a entendê-lo, e se descentraliza”, acrescenta.
Mas brincar é uma coisa. Viver aquilo é outra. Vestir as crianças de adulto precocemente não é bom. “A vaidade na criança tem que estar associada, num primeiro momento, ao autocuidado, e não ao culto da beleza”, diz Regiane Glashan, terapeuta familiar e de casal. “colocar a roupa da mãe e passar gloss é legal enquanto for lúdico, mas deixa de ser quando vira um adorno para ser a mais bonita”, completa Regiane. Exceções são a criança possa brincar de ser adulto, de ser princesa, mas isso não deve ser constante na vida dela. É saudável ser estiloso quando isso é uma espécie de treino para a vida adulta, uma brincadeira. Mas deixa de ser quando se coloca de lado as necessidades infantis por um ideal consumista dos pais. O patológico é a frequência, a falta de opção.
O "problema" é que a criança virou um mercado. Grandes marcas de luxo criaram coleções infantis e apareceram os salões de beleza para os pequenos. Muitos pais deixam de comprar para eles próprios para comprar para os filhos. O desejo de consumir não nasce com a criança, mas vai sendo construído com o tempo e tem muito a ver com os pais. Eles, além de serem os modelos, são as pessoas que estabelecem os limites. Se o pai não se preocupa com a comida, só come hambúrguer e batata frita, a criança deve seguir esse caminho. Se a mãe é fútil, a mesma coisa. Agora, se eles se alimentam bem e são vaidosos de uma forma normal, a tendência é que os pequenos também queiram se cuidar.
E é importante permitir que a criança faça, até certo ponto, suas próprias escolhas. Numa loja, por exemplo, a mãe pode separar duas ou três peças e perguntar o que o pequeno prefere. A princípio, ela já conhece o jeitinho e as preferências dele. E, assim, a criança também não fica perdida num mundo de possibilidades. “A questão da autonomia é relevante”, pondera Abrantes. “Se você quer formar uma pessoa autônoma, não pode decidir tudo por ela, é preciso deixar que ela vá tomando decisões, mas sem deixar solto”, explica. Aos poucos, ela vai abotoar a blusa, amarrar o sapato, escolher o que vestir. Mas é bacana conversar com ela sobre certas formalidades, sobre o que cai bem em determinadas ocasiões, explicar que no parque a roupa é diferente da usada na festinha. “Dar liberdade total não significa autonomia, porque ela pode se tornar uma vítima do consumismo, por exemplo”, diz o psicólogo.
Não se trata de nunca usar roupas especiais ou maquiagem. De jamais ir ao salão de beleza. Tudo isso também faz parte do mundo mágico das crianças. Mas é importante que elas usem coisas que as deixem confortáveis para brincar, se sujar, e serem, como de fato são, crianças. Elas precisam voltar para a realidade. Entre os 6 e os 10 anos, por exemplo, o que deve orientar o desenvolvimento dos pequenos é o estudo, o acesso ao conhecimento formal, científico. A moda até vai continuar presente, claro, mas não pode organizar a vida deles. Assim como para nós, a moda deve ser uma diversão, um prazer. Não um vício. Realmente, é uma delícia ver bebês bem arrumados. Mas bom senso e uma pitada de estilo já são suficientes para encantar qualquer um.
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