ENTREVISTA

Renan Monteiro, de Renascer, comemora mudanças em sua vida: 'Tenho mais a agradecer'

Em entrevista à Revista CARAS, Renan Monteiro encontra semelhanças com José Augusto, seu personagem em Renascer, e comenta relação com o público

O ator Renan Monteiro - Foto: Marcio Farias

A vida de Renan Monteiro (38) daria um filme ou uma novela. Aos 7 anos, ele começou a atuar no grupo Nós do Morro, do Vidigal, no Rio, onde se formou ator e professor. Aos 16, passou a morar sozinho; aos 18, perdeu a mãe biológica, Maria Rita; já aos 25, conheceu o pai biológico, Ricardo; e
aos 29, conheceu a mãe adotiva, Dhu Moraes (71).

Em algumas situações, sua vida pessoal se cruza com a de José Augusto, seu personagem na novela global Renascer. "Tudo que a gente passa na vida vai servindo como material para, em algum momento, colocarmos para fora. Acho que essa sensibilidade é da minha vida e o teatro sempre foi minha cura", avalia o artista, em papo exclusivo com CARAS no Museu do Pontal, no Rio de Janeiro.

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O carioca sempre acreditou que a arte tem poder de transformação e agora tem a oportunidade de fazer o público refletir sobre o tema da transfobia com a história de amor entre seu personagem e Buba, vivida por Gabriela Medeiros (22). "Sigo emprestando meu corpo e minha voz para a gente curar por onde quer que passe", afirma.


O José Augusto tem te ajudado a se descontruir?
Eu já vinha me desconstruindo há um tempo e acho que isso está contribuindo para o personagem, porque esse Augusto ainda é um fragmento de um Augusto machista, porque é um remake, então ele carrega alguns traços. Já o Renan cresceu no teatro, abraça todo mundo! Desde pequeno, eu convivi com todo tipo de gente e isso foi me moldando para que tipo de ser humano eu seria. Acho que quando alguém me escolhe para fazer um personagem é porque algo aqui dentro foi enxergado. Fui me conectando com as leituras e algo que me ajudou na construção do Augusto é que ele tem mania de querer curar o mundo e minha vida inteira aprendi que a arte cura.

Sua trama aborda a transfobia. Qual é a importância de falar do tema no horário nobre?
É uma missão. A arte tem esse poder de transformar, de colocar um foco de luz em um assunto tão necessário como esse, ainda mais no Brasil, que é o País que mais mata pessoas LGBTQIAPN+. Colocar isso na sala da família brasileira é muito importante. É doido porque tem gente que acha que a novela é de época, mas na verdade se passa em 2024. Então, é muito triste ver que ainda existe preconceito e é importante frisar, assim como na novela, que transfobia é crime. Ser porta-voz disso, de um personagem tão sensível, é um privilégio. Talvez ele seja a pessoa do futuro, talvez daqui a dez, 15 anos a gente não tenha mais que ficar falando sobre isso.

Que diferença faz se ele está com uma mulher cis ou trans? O importante é ele estar feliz...
Acho que o amor é plural. O melhor sentimento da vida é amar e cada um ama à sua maneira e a gente tem que respeitar.

E você ama, né?
Eu amo, lógico! Eu estou namorando há seis anos a Sarah, minha companheira, minha parceira. A Sarah é reservada, não é artista, mas ela entende meu trabalho e torce muito por mim.

Assim como o Augusto, você perdeu a sua mãe cedo.
Pois é, perdi minha mãe biológica. Ela era uma imigrante nordestina que veio para o Rio em busca de oportunidades. Ela não teve chance de estudar, teve muitos filhos e sempre dizia que eu tinha que estudar. Quando resolvi fazer teatro, ela não me criticou e isso foi muito legal. Ganhei uma bolsa para estudar na Inglaterra e, quando voltei para o Brasil, fiz uma peça que foi a única a que ela assistiu na vida; depois fez a passagem. O teatro foi minha cura durante muito tempo, inclusive diante da perda. E, mais à frente, eu sou presenteado com uma outra mãe, que é a Dhu Moraes, que fez a minha mãe em uma novela. Ela não pôde ter filhos biológicos, mas sabia que a vida, de alguma forma, iria presenteá-la e ela tem dois filhos adotados, o Rodrigo e eu. Tem quase dez anos que a gente não se desgruda, é mãe e filho mesmo.

E também tem a história com seu pai biológico, que você só foi conhecer adulto...
Minha vida parece um roteiro de filme! Conheci meu pai biológico aos 25 anos e é uma relação que foi construída. A gente é amigo, se fala, mas foi muito doida essa experiência de conhecer meu pai assim. E não foi muito diferente também de receber essa nova mãe, porque é estranho, eu tinha um buraco difícil de ser preenchido na vida. Eu já sabia da existência desse pai, embora não o conhecesse, e esse buraco está sendo preenchido com essa relação. E depois que a minha mãe biológica se foi, eu também tive esse espaço que está sendo preenchido pela minha nova mãe. Na verdade, tenho muito mais a agradecer do que lamentar, porque eu perdi e ganhei. Eu não tive, mas agora tenho. Eu tinha que ser artista, não tem jeito.

Você começou ainda criança no Nós do Morro, onde fez aula de teatro com o Marcello Melo Jr. e foi professor do Juan Paiva, seus irmãos na trama. O que sente ao ver aonde vocês chegaram?
Isso é muito legal, principalmente para quem vem de periferia, sendo preto. A gente é sempre muito marginalizado e poder estar em uma novela das 9, fazendo personagens com assuntos tão relevantes é muito legal. Acho que é motivo de orgulho para os nossos mestres que fundaram o Nós do Morro e eu tenho isso comigo, porque me formei e comecei a dar aula lá. Por mais que eu tenha amigos de anos na novela, quando a gente se olha no olho é diferente, o Marcello cresceu comigo, o Juan eu vi crescer, são memórias afetivas. A gente já passou por cada uma, mas sempre com o pé no chão. Fui subindo um degrau de cada vez e, se não rolar nada por um tempo, também está tudo certo, vou continuar estudando, fazendo os meus projetos. Se rolar algo na sequência será maravilhoso. Nunca deixei de ser artista e nem sempre estive em destaque na TV, mas sempre estive em destaque na minha vida, dando aula, compondo, escrevendo, produzindo e é assim que vou continuar. 

Foto: Marcio Farias
Foto: Marcio Farias
Foto: Marcio Farias
Foto: Marcio Farias
Foto: Marcio Farias
Foto: Marcio Farias
Foto: Marcio Farias
Foto: Marcio Farias

 

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Fernanda Chaves é repórter da revista CARAS e da Contigo! Novelas. É formada em jornalismo e já passou pela revista Minha Novela e pela Mattoni Comunicação. Escreve sobre celebridades, TV, novelas e reality show.

Renascer Renan Monteiro José Augusto

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