Entrevista

Bruna Lombardi reflete sobre a chegada dos 70 anos: 'Eu sempre tive o espírito livre'

Aos 70 anos, Bruna Lombardi quebra paradigmas do tempo, responde sobre o que é beleza e celebra o casamento de mais de 40 anos com Carlos Alberto Riccelli

Por Tamara Gaspar Publicado em 04/08/2022, às 09h00

Bruna Lombardi - FOTOS: Carlos Alberto Riccelli e Kim Riccelli

Ela integra o rol das grandes atrizes da dramaturgia nacional, com trabalhos nas telinhas, no teatro e na sétima arte. É escritora, produtora, apresentadora, roteirista e, mais recentemente, abraçou a missão de influenciadora digital. Para completar, ainda é considerada uma das mulheres mais bonitas do Brasil, cuja beleza desafia o tempo e a lógica. Parece pouco? Não para Bruna Lom­bardi! Linda, cheia de vitalidade e irradiando amor, a estrela acaba de completar 70 anos e garante: “Não existe fórmula secreta. Para mim, a beleza está ligada ao autoconhecimento e à maneira como você está no mundo e ao seu entusiasmo. Isso não tem idade”, dispara ela, em resposta à pergunta que mais lhe tem sido feita ao longo de sua trajetória artística. Mas, afinal, de onde vem toda a segurança com que Bruna encara as marcas trazidas pelo tempo e as cobranças da sociedade? “Eu sempre tive o espírito livre por natureza, um espírito indomável. Antigamente, muitas mulheres negavam sua beleza para serem respeitadas, para não serem estereotipadas como lindas e burras. A gente tem que ser respeitada independentemente da aparência, e o grande trunfo da mulher é ela poder ser ela mesma, com plenitude e liberdade”, explica ela, em seu lar paulistano.

Por falar em liberdade, foi defendendo a sua que Bruna conseguiu alcançar objetivos e se posicionar como mulher. “As cobranças existiam em relação às coisas que eu queria ser. Comecei a fotografar, trabalhar como atriz, produzir e ainda publicava os meus livros... Não acreditavam que eu poderia fazer tudo aquilo. Jamais fariam esses questionamentos para um homem! Me acostumei com isso logo de cara, mas sabia que estava sendo honesta, buscando minha verdade e sendo devota ao que fazia. Digo que viver é uma grande aventura, tem que se jogar e, quando fazemos isso com paixão, não tem crítica que nos abale”, recorda ela, que usa as redes para inspirar mulheres a recuperarem a autoestima.

Casada há mais de 40 anos com o ator e diretor Carlos Alberto Riccelli (76), com quem tem Kim (41), Bruna faz do amor uma força motriz. “Nós temos uma troca de energia que chega a ser misteriosa! Com ele eu sou uma pessoa melhor. Tenho sorte de ter encontrado uma pessoa que abraça minhas ideias, minha imaginação, minhas loucuras. Ele é um ser humano maravilhoso, gentil e um cidadão exemplar”, elenca ela, sem nunca perder o olhar apaixonado. “Se todos os homens fossem iguais a ele, acho que as mulheres seriam mais felizes”, brinca a atriz.

– O que é beleza para você?
– Sempre me perguntaram muito sobre esse tema, mas nunca quis fazer dele algo superficial ou leviano. Temos que entender a beleza da diversidade, porque todos têm a sua. Não dá para se encaixar em um único padrão, não dá para tentar ser aquilo que não somos, porque não há beleza que se sustente assim. Se você coloca todas as suas fichas na beleza, vai dançar rápido, assim que chegarem as primeiras rugas. É preciso distribuir suas fichas em tudo aquilo que te traga felicidade e bem-estar.

– Sempre teve tranquilidade diante das cobranças?
– Lógico que existe uma evolução natural, mas desde criança sempre fui muito observadora e esse mundo artístico era natural para mim, pois vim de uma família de atores e  de diretores. Eu também comecei a escrever e ter contato com a literatura muito cedo, isso me fez ter um olhar para a humanidade e me ajudou em meu caminho. Essa postura, por exemplo, me fez declinar de muitos trabalhos, porque percebi que eles iam contra os meus valores e princípios. Nunca tive o desejo de ser famosa, a fama só veio em decorrência do trabalho. Hoje, porém, vejo que a fama está na moda.

– Ser mulher é um desafio?
– Acho que as coisas têm melhorado, pois existe uma maior consciência coletiva sobre o tema e nós conversamos mais sobre isso. No passado, a gente já tinha mulheres com enorme potencial na política ou na ciência, por exemplo, que eram obrigadas a se encolher por não serem aceitas na sociedade. Não se podia votar, eleger, publicar livros... Hoje, não só evoluímos nessas questões, como temos lugar de fala, lutamos contra os preconceitos, contra relacionamentos tóxicos, abusos e temos o nosso posicionamento.

– Sente-se pioneira na luta em prol do espaço da mulher?
– Acredito que outras vieram antes de mim, uma abrindo caminho para a outra e formando uma corrente do bem. Não acredito em competição. Ela só serve para nos enfraquecer, por isso, acho que temos que conhecer umas às outras, compartilhar problemas e soluções. Só a união vai dar força para avançarmos e conquistarmos tudo o que queremos e merecemos.

– Esse trabalho de união você leva para suas redes sociais...
– Recebo mensagens lindas, de mulheres que estavam deprimidas, ansiosas, temos um diálogo permanente. Sempre fui uma pessoa grata pela vida e estou em um momento de retribuir tudo isso. A Rede Felicidade, comunidade interativa que criei, faz isso: ajuda a transformar as pessoas.

– O que é liberdade para você?
– Essa palavra sempre teve papel importante na minha vida. A minha maior herança, aquilo que vou deixar para meu filho, é a liberdade e você a conquista com conhecimento, algo que ninguém nunca poderá tirar de você. Há coisas que parecem clichês, mas são verdades: a nossa liberdade termina onde começa a do outro. Eu, por exemplo, nunca fiz cirurgias plásticas, mas não tenho nada contra, se vai fazer bem para a pessoa, dou força. Liberdade é isso, é poder!

– O que diria para a Bruna de 40, 50 anos atrás?
– Recebo muito material de fãs  que colecionam entrevistas, fotos e revistas antigas. Percebo que tudo o que eu dizia no passado poderia dizer hoje. Lógico que, com o tempo, nossa alma e nossa visão de mundo expandem, mas meus princípios são muito intrínsecos.

– Com a chegada dos 70 anos, o que deseja nesse novo ciclo?
– Gostaria de ver um País mais feliz, com mais igualdade, justiça, sem fome, as pessoas precisam ter uma vida digna. Em um País tão rico como o nosso, é impossível ter pessoas sem poder se alimentar. É preciso não ter corrupção e pensar no coletivo, pois vivemos um momento delicado, o Brasil se tornou um país transtornado.

– O que é empoderar-se? 
– Às vezes, as mulheres se encolhem e deixam de se posicionar, de dizer o que sentem, desistem dos sonhos e isso é encolhimento por medo. O medo é nosso maior inimigo, nos limita. É preciso descobrir seu poder e estar no caminho do desenvolvimento para ser tudo o que você quiser. 

FOTOS: Carlos Alberto Riccelli e Kim Riccelli

Bruna Lombardi Carlos Alberto Riccelli Bruna Lombardi

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