PERSONAGEM ICÔNICA

Zezé Motta relembra crítica ao ganhar papel para Xica da Silva: ‘Negra, porém exuberante’

Em entrevista à CARAS Brasil, a atriz Zezé Motta relembra papel que a fez alcançar fama mundial e destaca nota em jornal que chamou sua atenção

Thaíse Ramos e Valença Sotero

por Thaíse Ramos e Valença Sotero

Publicado em 25/08/2024, às 14h13

Zezé Motta alcançou fama mundial ao interpretar a escrava Chica da Silva (1732-1796) - Reprodução/Instagram

Com 56 anos de carreira, a atriz, cantora e ativista Zezé Motta (80) fez história como mulher negra que conquistou seu espaço na televisão e no cinema. Dentre seus inúmeros papéis, se destaca Xica da Silva, a protagonista do filme de 1976 de mesmo nome, dirigido por Cacá Diegues (84). Em entrevista à CARAS Brasil, a artista relembra emoção ao ser escolhida para dar vida a personagem, que, segundo ela, foi um divisor de águas em sua vida e carreira. A veterana ainda destaca uma nota que leu em um jornal na época, anunciado que ela tinha sido a escolhida, que chamou sua atenção: “Negra, porém exuberante”.

Zezé alcançou fama mundial ao interpretar a escrava Chica da Silva (1732-1796), mulher escravizada e alforriada que ascendeu social e politicamente na Minas Gerais do século 18. O papel foi muito importante em todos os sentidos, porque na época não era comum ver protagonistas negras em grandes produções. A partir de então, a atriz caiu nas graças do público e fez mais de 40 filmes e 30 novelas, além de participar de peças e musicais.

“Me lembro quando fiz o teste para Xica da Silva (...) Foi uma angústia, porque fiz o teste, fui para a Bahia fazer um outro filme, A Força de Xangô (1978), com o Iberê Cavalcanti, e ficava lá na expectativa, sabe? Procurando em alguma banca se tinha jornal do Rio de Janeiro, e ligando para as pessoas para saber se já tinham resultados, quem ganhou, porque o Cacá Diegues testou várias artistas, bailarinas, atrizes, modelos; e ele chegou a dizer que se não encontrasse a artista que achava que se encaixava na Xica da Silva que ele tinha na cabeça, se não encontrasse essa pessoa, iria desistir do projeto”, conta.

“E aí foi incrível ter passado nesse teste. Fiz o teste, fui para a Bahia na expectativa, e chegou uma hora que eu falei: Não, calma, uma hora vai vir o resultado. E no dia que cheguei da Bahia, 30 dias depois, mais ou menos, eu estava almoçando, o telefone tocou, o convencional (risos). Fui atender - Lembro que estava almoçando, devia estar só, para ter parado de almoçar e atender o telefone. Aí, falei: Boa tarde! A pessoa falou: ‘Boa tarde, Xica da Silva!’. Quase tive um treco, perdi a fome (risos)”, continua.

A artista revela que estava tão eufórica, que resolveu ligar para os amigos para espalhar a boa notícia. “Você não acredita, lembrei agora. Parei de almoçar, e saí ligando para todos os amigos, dizendo que eu tinha ganhado o papel; só que já tinha saído uma nota, não sei onde, e as pessoas tentando me ligar para dar os parabéns, e meu telefone ocupado, ligando para todo mundo (risos). Isso porque não tinha a menor ideia que ia mudar minha vida, esse personagem; que sempre digo que foi um divisor de águas”, ressalta.

Por conta do erotismo da personagem, Zezé se tornou um símbolo sexual. Ao ser questionada sobre isso, a veterana relembra uma nota, publicada em um jornal na época, que chamou muito a sua atenção. “Voltando ao teste, quando saiu quem ia fazer o personagem, saiu uma notinha: ‘A atriz que ganhou para interpretar Xica da Silva é uma negra feia, porém exuberante’. E tinha uma foto minha, e eu falei: Gente, estou me achando tão bonita nessa foto. Não é toda hora que a gente se acha bonita, né? Depende do dia. Mas eu estava olhando a foto e: Nossa, mas estou bonita aqui, que história é essa, que estão dizendo que sou feia? (risos). Muito louco tudo isso”, aponta.

E continua: “Então, quando realmente ganhei o papel, fiz o filme e ganhei todos os prêmios de cinema da época, foi aquele boom, aquele estouro no mundo, foi um sucesso no mundo. Eu recebia telefonema da China, de tudo quanto era parte do mundo, principalmente de brasileiros, para ter o meu telefone (risos). Principalmente brasileiros, (que falavam): ‘Nossa, está estourando a boca do balão, a fila (do cinema) está indo na esquina. Então, foi realmente um acontecimento na minha vida. Caramba! Estão dizendo que sou bonita agora? Que bom! (risos)”.

Zezé confessa que nesta época ainda não tinha noção de militância. “A militância não estava, mas existia uma preocupação, um desconforto e uma consciência de que tinha alguma coisa errada nesse País; tão miscigenado e ter esse preconceito? Muito triste, porque tem preconceito demais aqui. É com baixinho, é com gordinho, é com negro, com as mulheres”, finaliza.

 

Thaíse Ramos e Valença Sotero

Thaíse Ramos é repórter do núcleo de pautas especiais do Grupo Perfil. Formada em Jornalismo, integrou as equipes de entretenimento do Estadão e Gshow e atuou ao lado do colunista Leo Dias. Ama música, cinema, moda e beleza. Instagram: @thaiseramoss

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