ENTREVISTA

Isabel Guéron reflete sobre adaptação de seu livro para solo teatral: 'Público é seu cúmplice'

Em entrevista à CARAS Brasil, Isabel Guéron, autora de Entressafra, comenta sobre a estreia de espetáculo homônimo ao livro

Bárbara Aguiar, sob a supervisão de Arthur Pazin
A atriz e escritora Isabel Guéron - Divulgação/Manuel Águas

Isabel Guéron iniciou a carreira no meio artístico ainda jovem, aos 15 anos, e de lá para cá encarou trabalhos na televisão, teatro e cinema, além de se aventurar na escrita, experiência que lhe rendeu um mergulho profundo no que significa ser artista ao desmistificar a profissão glamourizada. Em entrevista à CARAS Brasil, a autora e atriz reflete sobre a adaptação de seu livro, Entressafra, para o solo teatral homônimo que estreia na próxima quinta-feira, 9, no Rio de Janeiro: "Público é seu cúmplice", destaca.

Do papel ao palco

Isabel encontrou nos contos e crônicas de Entressafra, lançado em 2021, a semente para sua estreia como dramaturga e atriz solo. O processo criativo começou ainda na organização do livro: “Imprimi e espalhei as folhas no chão e fui trocando de lugar e dizendo os textos em voz alta. Nessa hora, eu já pensei que poderia fazer uma peça", relembra.

A proposta ganhou vida com o apoio da ONG Finoca Almeida Cunha (Finac) e a direção de Cristina Moura, que aceitou o convite com entusiasmo. “Propus trabalhar em cima do meu próprio conteúdo literário, elas toparam e comecei a pesquisa dramatúrgica junto com a Cristina, já levantando as cenas”, conta Isabel, que iniciou a apresentação do espetáculo em espaços alternativos.

"Fiz numa escola estadual, na turma de Artes Cênicas da PUC, num grupo de alunas de teatro da terceira idade; foi um processo muito rico de troca enquanto adaptava o texto para o palco", conta.

Conexão entre escritora e atriz

Para Isabel, se abrir na escrita e debater os desafios da carreira de atriz foi um processo, mas reencontrar suas próprias reflexões ao ensaiar para o solo a tocou profundamente. “Quando escrevi os contos e as crônicas, eu não estava pensando na peça. Escrever, para mim, é um ato solitário, onde as palavras fluem sem muita censura, um jeito de organizar meus pensamentos e as coisas que quero dizer. E a escrita é honesta mesmo quando a gente inventa”, comenta sobre a liberdade de pôr os sentimentos em palavras.

"Na peça foi mais difícil, eu entrei em contato de novo com os sentimentos todos daqueles escritos, chorei e me diverti muito ensaiando", destaca a atriz, que acrescenta uma diferença à nova experiência: "Como atriz o maior desafio é estar sozinha em cena. A contracena é uma coisa ótima de viver. Mas acho que o processo de ensaio já me ensinou o prazer que existe também nesse espaço de criação. A sensação que tenho é que no espetáculo solo o público é seu cúmplice”.

Identificação como pontos-chave

Entressafra aborda questões profundas, mas encontra humor nos pequenos absurdos do cotidiano. “Vejo humor nas situações mais inusitadas, na vida sou assim. E o ser humano é cheio de incertezas; profissionais, sociais, afetivas. A peça fala de questões profundas a partir de fatos cotidianos, uma ida ao oftalmologista, uma viagem de metrô, uma festa. Então, o público se identifica. Tô apostando no humor e na identificação”, afirma Isabel, rindo.

Com mais de 30 anos de carreira, Isabel vê a vida como inspiração para continuar escrevendo, criando e atuando: “A vida é matéria-prima importante de um artista, então a maturidade traz outras qualidades, outros pontos de vista, mais livros que li, mais experiências que tive, surpresas, perdas. Tudo cola na gente. Vejo uma atriz velha em cena e acho muito emocionante, quanta coisa tem ali”.

Mesmo com os desafios do mercado artístico — que Isabel sente na pele e usa como gás para suas reflexões —, ela se mantém resiliente e adaptável. “Ao mesmo tempo que tem que aprofundar, no sentido de que a atuação é um ofício que precisa de formação e conhecimento, precisa também criar alternativas de sobrevivência. Jogar nas onze", aconselha.

"Sou atriz, já fiz assistência de direção, já preparei atores e trabalho muito como narradora de audiolivros. Essa nova geração tem muito para me aconselhar também. Eles se produzem, criam conteúdo, fazem dinheiro com redes sociais. Tive que me esforçar muito para empreender, e mesmo assim não acho prazeroso", desabafa, mas destaca que não consegue encontrar a felicidade longe de seu trabalho. "Quando não chamam, eu mesma faço", conclui.

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Bárbara Aguiar, sob a supervisão de Arthur Pazin

Bárbara Aguiar é jornalista em formação pela Escola de Comunicações e Artes da USP. Amante de atividades culturais e entretenimento, ela escreve para a Caras, Contigo! e atua como diretora de Comunicação Visual na Jornalismo Júnior da ECA/USP.

Teatro Isabel Guéron Entressafra

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