A história de
Reginaldo Faria (72), o Eleutério da novela global
Paraíso, se confunde com a do cinema nacional. Exercendo as funções de ator, diretor e produtor, ele esteve presente em cerca de 50 filmes desde sua estreia como assistente de câmera, em
Rico Ri à Toa, de 1957. Pelo conjunto da obra de sucessos como
Assalto Ao Trem Pagador e
Pra Frente Brasil, Reginaldo foi homenageado na 37a edição do Festival de Cinema de Gramado com o Troféu Oscarito.
"Na infância, me impressionei com a obra do Oscarito, com o que fazia. Via nele o talento de grandes atores. Tinha vontade de ser igual, mas nunca consegui. Minha linha era outra. Nunca pensei que um dia fosse ganhar o prêmio. Agora, o troféu vai selar esse sentimento", reflete Reginaldo, na Villa de CARAS, sobre a reverência em Gramado, onde já havia sido eleito Melhor Ator por
Lúcio Flávio,
O Passageiro da Agonia e
A Menina do Lado, em 1978 e 1986.
No Palácio dos Festivais, o homenageado foi aplaudido de pé por fãs, amigos e familiares, como a mulher,
Vânia Dotto (52), os filhos, o diretor
Régis (40), o ator
Marcelo (37), com a psicóloga
Kátia Achcar (60), e o ator
Candé Faria (24), com a advogada
Telca Malheiros (50), e o irmão e cineasta
Roberto Farias (77).
"É legal quando o reconhecimento vem em vida. Meu pai merece, tem história", disse Régis.
"Me orgulho por ele ser reverenciado pela trajetória no cinema. Com ele, aprendi sobre a simplicidade, a tranquilidade na hora de atuar, a integridade familiar, ser justo e honesto", acrescenta Marcelo, em turnê pelo país com a peça
Dona Flor e Seus Dois Maridos, ao lado de Candé e da namorada do irmão,
Daniely Stenzel (34).
"Ele é o pai que todo filho pede a Deus, um batalhador, um cara que começou lá em baixo e conseguiu crescer em uma profissão instável. É um exemplo", completa Candé, que deve atuar pela primeira vez com o pai na versão cinematográfica da peça
Em Nome do Filho.
- Reginaldo, você participou de vários filmes nas décadas de 60, 70 e 80. Por que vem atuando pouco nos últimos anos?
Reginaldo - Nunca abandonei o cinema, ele é que me abandonou. As leis que o protegem nem sempre nos protegem. Mas dentro do coração, continuo amando o cinema.
Agüenta Coração, o último filme que dirigi, foi em 1985. Desde então, atuei apenas em longas dos outros. Ficaria feliz em voltar a fazer um meu. Estou agora com um projeto com a TGD Filmes, grupo de cinema gaúcho. Vou dirigir, coproduzir e fazer uma participação como ator.
- Há cerca de cinco anos, você quase morreu, de parada cardíaca. A experiência mudou sua vida?
Reginaldo - Tenho um desprendimento maior. Não me apego mais a certos valores, antes seria capaz até de entrar em discussão por determinado objeto ou posse. Hoje, o maior apego é à vida. É tão bonita, oferece coisas boas que às vezes não sabemos aproveitar.
- Ficou alguma sequela?
Reginaldo - A restrição é pertinente com a idade. Não posso mais, por exemplo, subir uma escada correndo. Pelo que tive, preciso me controlar. Mas minhas atividades físicas são livres. Faço natação, esteira, musculação, yoga e relaxamento muscular. E a alimentação, procuro comer sem gordura, muitos legumes, verduras, sucos...
- A questão da idade e o envelhecimento incomodam?
Reginaldo -O corpo envelhece, a mente não. E se tenho ruga, ela veio comigo e vai se acrescentando. Nunca fiz plástica. Não preciso. Envelhecer é processo natural, você nasce, cresce, amadurece, envelhece e morre. Faz parte. Se fosse me desesperar com isso, iria enlouquecer.
- Vocês estão juntos há quatro anos. Como é recomeçar o amor nessa idade?
Reginaldo- Temos uma vivência grande, não nos chocamos por questões de relações amorosas infantis. Nós já sabemos onde está o erro e o acerto. Isso é realmente o mais forte e importante: reciprocidade, carinho e compreensão. É o que nos mantém em pé.
Vânia - Reginaldo me chamou atenção pela simplicidade. É generoso, com bagagem cultural e pessoal. Apesar do glamour da profissão, não é deslumbrado. E é um pai maravilhoso, agrega. Vim também com a proposta de somar. É o amor que une a todos, assim como o dele por minhas filhas. Quando existe esse aconchego, aceitação de todas as partes, é maravilhoso.
- Reginaldo é romântico?
Vânia- Sou romântica e ele acabou entrando na minha. Manda flores no dia dos namorados, no aniversário... Quanto mais os anos passam, a relação amadurece, o sentimento fica maior. Temos cumplicidade, carinho e respeito. Esse é o segredo.
- Como é o dia-a-dia de vocês?
Reginaldo- Gostamos de ficar em casa vendo filme, com um bom vinho, e viajar. Vamos sempre para um sítio montanhoso em Nova Friburgo, cidade em que nasci.
- Costuma reunir os filhos?
Reginaldo- Nossa profissão é complicada, mas, na medida do possível, fazemos isso. Vejo mais o Candé, ele mora comigo.
- Tem vontade de ser avô?
Reginaldo- É difícil definir, parece até o tipo de homem tradicional, careta, o velhinho que fica em casa de pijama com o netinho no colo. É um retrato meio démodé para mim. Talvez até babe de paixão, mas por enquanto não sei.