Em entrevista à CARAS Brasil, a tricologista Regina Carralero, especialista em transplante capilar, desmistifica o tema, que veio à tona após o tombo de Lula
Na última quinta-feira, 12, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (79) passou pelo terceiro procedimento cirúrgico desde segunda-feira, 9, quando foi internado com uma hemorragia intracraniana. A cirurgia não chamou atenção apenas por sua complexidade, mas também pela cicatriz visível na região da nuca, uma área capilar. A situação levantou uma pergunta comum entre muitas pessoas: é possível recuperar fios perdidos em áreas afetadas por cicatrizes no couro cabeludo? Em entrevista à CARAS Brasil, a tricologista Regina Carralero, especialista em transplante capilar, desmistifica o tema que veio à tona.
Cicatrizes no couro cabeludo são mais comuns do que se imagina. Além de cirurgias, elas podem surgir devido a acidentes, queimaduras ou procedimentos estéticos mal realizados. De acordo com dados da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), muitas pessoas que passam por cirurgias na região da cabeça relatam preocupações com a aparência da cicatriz e a perda de fios na área afetada. O transplante capilar é frequentemente citado como uma possível solução, mas existem muitos mitos e verdades sobre o tema que precisam ser esclarecidos.
Segundo Regina, é possível transplantar cabelos em áreas com cicatrizes. “Os avanços no transplante capilar permitem que folículos saudáveis sejam transplantados para essas áreas com cicatrizes. O sucesso depende de a cicatriz ter vascularização suficiente para nutrir os fios implantados. Se houver fluxo sanguíneo adequado, os folículos podem crescer normalmente, devolvendo vida a uma região que antes parecia perdida”, explica a tricologista, da clínica especializada em medicina capilar Pineapple Hair Brasil.
De acordo com ela, quando a cicatriz é bem avaliada e apta para o procedimento, os folículos transplantados se comportam como fariam em qualquer outra parte do couro cabeludo. “Isso acontece porque os folículos são retirados de áreas saudáveis, mantendo sua capacidade genética de crescer. Porém, o crescimento inicial pode ser um pouco mais lento devido às características da cicatrização local, mas com o tempo, o resultado tende a ser natural e duradouro”, informa.
“Os procedimentos modernos de transplante capilar, como a técnica Follicular Unit Extraction (FUE), são minimamente invasivos e praticamente indolores. A anestesia local garante o conforto do paciente, e as micro-incisões feitas para implantar os fios cicatrizam de forma discreta e quase imperceptível. Portanto, não há novas cicatrizes significativas e o pós-operatório é bastante tranquilo”, esclarece Regina.
CADA CICATRIZ É ÚNICA
Nem toda cicatriz é apta para receber um transplante, diz a especialista capilar. “Cada cicatriz é única e precisa ser avaliada por um especialista. Cicatrizes hipertróficas (elevadas) ou queloides podem apresentar dificuldades, pois afetam a circulação local e podem comprometer o crescimento dos fios. Mas nem tudo está perdido: com tratamentos prévios, como terapias para melhorar a vascularização ou a textura da cicatriz, muitas áreas podem se tornar aptas para receber o transplante", detalha.
Questionada se o transplante capilar só pode ser feito no couro cabeludo, a profissional afirma que é mito. “Os cabelos não são os únicos beneficiados! O transplante capilar pode ser realizado em outras áreas do corpo, como sobrancelhas, barba e até cicatrizes em regiões específicas. O princípio é o mesmo: folículos saudáveis são retirados de uma área doadora e implantados com precisão na região desejada”, explica.
“Em muitos casos, a raspagem completa do couro cabeludo não é necessária. Técnicas avançadas permitem que apenas a área doadora (geralmente a nuca) seja raspada. Para pequenas áreas cicatrizadas ou procedimentos em mulheres, por exemplo, técnicas que preservam o cabelo existente podem ser utilizadas, garantindo discrição durante o processo”, emenda Regina.
AS CICATRIZES PODEM TER DIVERSAS ORIGENS:
A tricologista informa que as cicatrizes podem ter diversas origens: cirurgias, acidentes, queimaduras, traumas ou até doenças de pele. “O importante é avaliar as condições da cicatriz – independentemente da causa. Com uma análise médica cuidadosa, é possível devolver a autoestima ao paciente por meio do transplante”, destaca a doutora.
De acordo com a profissional, não há uma "idade limite" rígida para o transplante capilar. O critério principal é a saúde do paciente e a qualidade da área doadora. Jovens que já apresentam perda capilar estável e adultos em idades mais avançadas podem se beneficiar do procedimento. “Em todos os casos, uma consulta médica detalhada é essencial para determinar o melhor momento para o transplante”, recomenda.
CASOS DE OUTROS FAMOSOS
A especialista capilar acredita que o caso da cicatriz de Lula trouxe uma oportunidade para ampliar o debate sobre as possibilidades do transplante capilar em áreas cicatrizadas. Porém, algumas outras celebridades brasileiras já foram casos de sucesso da cirurgia capilar em áreas com cicatrizes, como a atriz Larissa Manoela (23) que passou por um transplante capilar em 2021 para corrigir uma cicatriz no couro cabeludo causada por um acidente de cavalo que sofreu em 2016.
À época, ela ainda revelou que cobria a marca com maquiagem em trabalhos artísticos, mas sentia falta dos cabelos, quando resolveu fazer o transplante, trouxe de volta a sua autoestima.
O ator Marcos Pasquim (55) também cobriu sua cicatriz decorrente de técnicas passadas do próprio transplante capilar: na primeira vez, fez a FUT, que deixou uma cicatriz linear. Com o avanço da calvície, em 2015, ele fez uma nova cirurgia; dessa vez, com a técnica FUE que cobriu a região da cicatriz.
Uma situação parecida ocorreu com o ator Paulo Vilhena (45), que também passou por técnicas que deixaram cicatrizes, mas com o passar do tempo acompanhou a evolução do transplante capilar e passou por técnicas mais modernas que encobriram as marcas e não deixaram mais cicatrizes.
Muitos brasileiros que enfrentam situações semelhantes podem se beneficiar do procedimento, mas é fundamental buscar profissionais qualificados e entender as reais possibilidades de cada caso.
“Seja por motivos estéticos ou para recuperar a autoestima, o transplante capilar continua evoluindo, oferecendo soluções cada vez mais eficazes para quem busca melhorar a aparência de áreas afetadas por cicatrizes”, conclui a tricologista.
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