Criança agressiva ou mimada: como evitar que seu filho se torne uma Honey Boo Boo

A miss mirim Honey Boo Boo é exemplo de criança mimada e mandona. Dar limites é a melhor forma de preparar seu filho para lidar com as frustações da vida e, assim, ser um adulto melhor. Mas se a criança é quem manda na sua casa, saiba como virar o jogo

Ana Paula de Andrade Publicado em 15/03/2013, às 18h40 - Atualizado em 10/05/2019, às 11h20

A estrela mirim Honey Boo Boo é exemplo de criança mimada, que não recebe limites dos pais - Foto-Montagem

Que criança precisa de limites, todo mundo sabe - ou deveria saber. Mas o que se observa ultimamente é que quem manda em casa não são mais os pais, e sim os filhos. “Hoje o mundo não é comandado pelas mulheres, como muitos acreditam, mas pelas crianças”, garante Marcia Neder, psicanalista e pós-doutora em Psicologia Clínica pela PUC-SP. O assunto virou tese de pós-doutorado de Marcia e se transformou no livro “Déspotas Mirins - O Poder nas Novas Famílias”.


Os exemplos de pequenos ditadores se espalham por diversos países, como é o caso da miss mirim Honey Boo Boo. A garota é estrela de um reality show nos Estados Unidos e ganha em média US$ 50 mil dólares por episódio, o que a tornou ‘a chefe’ da família. Seu comportamento espevitado mostra que os pais não fazem questão de dar limites ou regrar a vida da menina de apenas 7 anos, que está no ranking das celebridades mais bem pagas de 2012 publicado pela revista americana Parade.


Para a psicanalista,  os ‘pequenos tiranos’ são produto não apenas de uma educação equivocada dos pais, mas de um contexto social que coloca a criança como o ‘centro do universo’, o que ela batizou de ‘pedocracia’. Basta lembrar que muitas mulheres abdicam do trabalho e da vida social para estar ao lado do bebê, uma atitude que nem sempre é benéfica, nem para a mãe, nem para a criança.  “A sociedade como um todo nega o lado sombrio da criança, mas ela também tem sentimentos destrutivos como ciúme e raiva, e os pais precisam ensiná-la a lidar com isso de forma saudável”, diz.


E por que impor limites é tão difícil? A resposta é complexa, mas o fato é que educar dá trabalho e há pais que simplesmente não estão disponíveis para a tarefa. Alguns preferem atender prontamente à exigência do filho para que ele pare de fazer birra ou de chorar. Outro fator que dificulta dar limites é a extrema necessidade que os pais têm de serem amados incondicionalmente pelos filhos. “Os pais não devem buscar a aprovação das crianças”, diz a psicanalista. “Muitos têm medo de ser ‘chatos’, mas esse é o papel dos pais. Eles devem, sim, mostrar ao filho quem é que manda”, aconselha.


Outros dois fatores são determinantes para criar um ‘pequeno ditador’: a culpa e a vaidade. “Geralmente, pais que trabalham fora se sentem mal quando dizem não à criança, motivados pela culpa de não estarem sempre presentes”, diz Marcia. “E há ainda aqueles que sentem um certo orgulho e se envaidecem por terem um filho de ‘gênio forte’, confundindo personalidade com rebeldia. E isso acaba estimulando o comportamento mandão do filho”, alerta.
É comum ver pais de pequenos ditadores afirmando que são rígidos com as crianças. E alegam que, “às vezes” são obrigados a atender às reivindicações do filho por ele ter vontade própria. Simplesmente não conseguem se enxergar no papel de pais permissivos. A psicanalista diz que é preciso negociar com a criança e respeitar sua opinião até certo ponto. E antes de negociar, ela recomenda avaliar se o pequeno não está tentando manipular os adultos.“Quem deve dar a palavra final são sempre os pais”, lembra.


Recusar comida, não querer dormir, se negar a ir à escola e bater são formas de a criança testar os limites. “Os adultos não podem aceitar agressão. Segure a mão da criança e fale com firmeza, ensinando por que é errado bater”, diz Marcia. Os chiliques nos shoppings, supermercados e outros lugares públicos são mais um dilema que os pais dos pequenos ditadores enfrentam com frequência. “Costumo dizer que criança não dá show sem plateia. Então isole-a em um ambiente seguro e diga: ‘você está com raiva, assim que se acalmar, conversamos’ e deixe-a sozinha”, orienta.


Marcia lembra que educar não se resume a simplesmente dizer ‘não’. A primeira regra para impor limites é manter a palavra. “Voltar atrás em uma decisão enfraquece a autoridade paterna porque a criança nunca vai levar o ‘não’ a sério”, afirma. E tanto a mãe quanto o pai devem resistir à tentação de entrar numa disputa para ver ‘de quem o filho gosta mais’. “Há situações, por exemplo, em que a mãe proíbe algo e a criança, esperta, pede para o pai, que permite. Aí a mãe vira a chata e o pai, o amigo”, diz a psicanalista. Os pais precisam entender que os limites libertam a criança e não a traumatizam. “As crianças interpretam a falta de regras e de rotina como abandono e se sentem extremamente inseguras e desprotegidas. É daí que vem o trauma, que se estende à vida adulta”, conclui Marcia.

Assista ao vídeo onde Honey Boo Boo agride os pais:

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