Isabelle Tuchband e Verena Matzen viajam juntas e se inspiram na Espanha

Isabelle ainda relembrou do pai, Emile Tuchband, e do amigo Paco de Lucia enquanto passeava por Sevilha

CARAS Digital Publicado em 17/07/2014, às 12h03 - Atualizado em 10/05/2019, às 11h20

Isabelle Tuchband e Verena Matzen - César Alves

Irmãs de alma, colegas de profissão, parceiras na vida há 25 anos — ou mais, já não sabem — as artistas plásticas Isabelle Tuchband (46) e Verena Matzen (48), curiosamente, não poderiam ser mais diferentes. Despachada e intensa, Isabelle tem sangue quente, de gitana, cigana, em espanhol, como gosta de dizer. Suave e introspectiva, Verena cativa pelo humor fino. Em comum, o amor pela arte, pelos filhos — Isabelle é mãe de Max (9); Verena, de Konstantin (10) e Luna Paolina (7) —, pela Cabala e pela Espanha, que visitam com frequência. Sevilha, em particular, as encanta, especialmente a Isabelle. “Tenho alma andaluza e estudei e dancei o flamenco quase profissionalmente. Comecei com Ana Esmeralda, grande mestra espanhola que mora em SP e que me trouxe, inclusive, para cursos em Sevilha. Até que meu pai disse: ‘Minha filha, ou você pinta ou dança’”, fala, citando a maior influência da carreira, o pintor francês Emile Tuchband (1933–2006). “Meu pai era o máximo. E de uma generosidade sem par. Se elogiavam sua obra ele dizia: ‘Boa mesmo é a minha filha’. Imagine!”, lembra ela, entre risos e lágrimas furtivas. “Foi emocionante rever Sevilha, onde já vim várias vezes, e Santiago de Compostela, onde estivemos juntas em 2000. Você sente a energia do granito usado para erguer essa cidade, essa catedral. Isso, com certeza, ‘vai’ para meus próximos quadros. A natureza, cavalos, minha paixão, e viagens me inspiram. Desta vez, ‘percebi’ as maravilhosas tapeçarias do Palácio de Pedro I, em Sevilha, e vi novos detalhes nas capelas internas da Catedral de Santiago”, diz Verena, que fez questão de andar um pouco, para sentir o clima, pelo místico Caminho de Santiago. Famosa pelos traços e cores vivas que compõem telas habitadas por ciganas — a sua icônica série Sevillanas —, e imagens de mulheres fortes, Isabelle também se extasiou com o tour, que incluiu León, onde visitaram, na Basílica de San Isidoro, uma das taças creditadas como o Santo Graal, e o exclusivo hotel-vinícola Abadía Retuerta. “Tenho origem francesa e amo Paris, mas a Espanha cerca a minha vida e é inegável na minha arte. Foi lindo também voltar aqui logo após a perda de Paco”, completa Isabelle, referindo-se ao amigo de longa data, o guitarrista e compositor Paco de Lucía, morto em fevereiro, aos 66 anos, de infarto. “Eu e Pulga éramos muito próximas dele e ainda estamos sofrendo. Ele nos incentivou na carreira. Sinto sua presença aqui”, fala ela, repetindo o apelido com o qual ela e Verena se tratam, criado no período em que moraram em Paris, nos fim dos anos 1980, após estudarem Artes Plásticas, em São Paulo.

Argentina criada no Brasil desde a infância, Verena começou ainda adolescente a desenvolver um estilo que passa pelo Expressionismo, Abstracionismo e Simbolismo. “Os cavalos, que amo, não aparecem muito na minha obra. Já as flores e as plantas, sim”, destaca ela, que, fiel à formação de amazona que teve, pratica salto e hipismo duas vezes por semana. Já Isabelle, amante das cores vivas, nas telas, na casa e no guarda roupa, começou com a cerâmica, o que a destacou no mercado e chegou às telas como parte de um processo que ela define como natural. “Meu pai me ensinou que o artista plástico pode fazer o que quiser, mas tem de ter a base clássica, que é a escultura, as aulas de desenho, o retratar modelos vivos. É como na dança”, atesta Isabelle, que fez questão de comprar um autêntico traje sevilhano em uma das lojas mais tradicionais da cidade. “Juro que é confortável! Eu poderia dormir e acordar assim, com este vestido, flores e pentes”, dispara, com seu humor peculiar. Reconhecidas no circuito de arte nacional e do exterior — já expuseram em países como França, Líbano e Espanha, onde devem armar nova mostra, em 2015 — elas criaram, em 1989, em SP, o Atelier Cité, onde produziam e vendiam suas obras e as de Emile. “Foi uma fase que nos trouxe visibilidade. Estávamos nos Jardins, reuníamos amigos lá. Era animado”, lembra Verena. Hoje, elas dividem um espaço maior e mais intimista, um ateliê de vidro no jardim da casa de Isabelle. A vibração criativa, no entanto, é a mesma.“Gosto de servir. E minha arte faz isso, alegra as pessoas”, define Isabelle, que, como Verena, com critério, gosta de levar seu trabalho a um público maior e mais eclético. “Isso inclui, por exemplo, um painel meu que decora a estação de Metrô Santa Cruz, em São Paulo”, destaca Isabelle. Ainda em Sevilha, um endereço as impressionou: a Casa de Salinas. Desde o início do século XX residência da família de mesmo nome, o palacete é uma joia arquitetônica do século XVI que pode ser visitado mediante agendamento. Em um dos pátios internos, ornado com mosaico romano do século II, Isabelle encantou-se pela imagem de N.S. dos Remédios. “Tudo aqui respira arte, história e energia mística”, define ela, que, ecumênica, tem na Cabala sua fonte de renovação. “Verena e eu frequentamos há anos o Kabbalah Centre, em SP, fundado pelo saudoso Rav Berg”, afirma Isabelle, fã ainda de Karen Berg, viúva do mestre e a principal líder cabalista feminina hoje. Entre passeios pelas igrejas e museus das cidades, elas provaram o melhor da culinária e vinhos, de cada local, incluindo endereços tradicionais como a Bodega Regia, em León, e modernos, como a Casa Marcelo, em Santiago. “Os pratos da Abadía também foram inesquecíveis”, diz Verena. Em Sevilha,
aplaudiram no Museo del Baile Flamenco Cristina Hoyos eletrizante apresentação e foram recebidas pela bailarina Mónica Hidalgo, estrela do show. Dali, saíram cantarolando uma Alegria, um dos ritmos do flamenco, ecoando pelas ruas sevilhanas o amor pela Espanha que lhes nutre o espírito.
 

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