Baseado nos mitos Huni Kuin, obra tem lançamento mundial em português, espanhol, inglês e hãtxa kuin
Mukani é uma menina indígena de nove anos, que apresenta bravura e muito mistério envolto em mágica. Originária da etnia Huni Kuin, ela possui o poder de se comunicar com animais, plantas e os espíritos encantados Yuxibu, sendo a única pessoa capaz de ajudar o povo de sua aldeia contra o plano de desmatamento do Mr. Txakabu, o Senhor do Mal.
Essa é a história do livro Mukani Descobre Sua Força, criada e escrita por Renata Tolli, com colaboração da antropóloga Virginia Gandres, que atua na área há mais de 30 anos, e do professor e doutor Joaquim Maná Huni Kuī, um dos únicos indígenas no Brasil com PhD em linguística, que participa como conselheiro. As imagens ficaram a cargo dos artistas Vinícius Galhardo (capa e ilustrações) e Acelino Huni Kuī (figuras Hãtxa Kuin).
Em entrevista, os três contam um pouco da mensagem que querem passar com esta obra.
“A mensagem seria, basicamente, o poder do resgate cultural. Para uma sociedade ser mais justa, definitivamente, deve haver inclusão”, comenta Renata. “Eu acredito que ter uma heroína indígena e, principalmente, ser uma menina, já quebra um pouco aquela moldura estática. Mukani é legítima, ela traz o respeito à vida”, completa Virgínia.
“Ela é um dos espíritos, porque ela se comunica com os animais, com as plantas, tem uma vocação de proteger a floresta. Então é o momento das novas gerações entenderem isso, e fazer acontecer na vida real”, conclui Maná.
A obra é apresentada aos leitores em duas versões trilíngues: espanhol, hãtxa kuin e inglês; e português, hãtxa kuin e inglês. “É uma experiência bastante interessante, com o livro saindo em três línguas. Quem for ler em cada uma delas, vai saber que tem uma história ali. Então, o interessante, é uma personagem da nova geração ser poliglota. A ideia de lançar desta forma, é mostrar que todos os povos têm a sua própria história”, explica Joaquim.
Além de transmitir este pensamento, há um sentimento de luta constante. “Uma coisa que queríamos celebrar muito, são esses 522 anos de resistência. Mesmo depois desta grande invasão, onde todos falam português, onde haviam mais de 260 povos, em que a maior parte foi dizimado. Então esse livro mostra o poder de resistência”, revela a autora.
Para dar ainda mais vida a este mundo, está sendo preparada uma trilha musical inspirada nele, com grandes nomes do heavy metal brasileiro. “Tanto a literatura quanto a música exploram o nosso imaginativo, o teu universo voa como um pássaro, e você cria mil situações, ambientes, esferas do sentimento com estas duas artes”, conta Virgínia.
Hoje os jovens já estão se engajando em novas formas de transmitir a sua cultura adiante. “Os mais novos estão criando suas próprias alternativas: os festivais. Os povos estão com a expectativa de trazer o público para mostrar quem eles são. É um espaço que está ensinando a eles para manter o conhecimento que ainda resta, um local de aprendizado. Agora vários povos estão tentando fazer isso”, finaliza o doutor Joaquim Maná Huni Kuī.
Veja o vídeo completo da entrevista abaixo:
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