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Revista / INFÂNCIA

Você sabia? Ayrton Senna se divertia no volante dos carrinhos desde a infância

Com a velocidade correndo nas veias, Ayrton Senna mostrava habilidade e paixão pelos carros desde pequeno; saiba como foi a infância do piloto

Revista CARAS Publicado em 04/05/2024, às 13h00

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Na infância, o brinquedo preferido de Senna era o kart - FOTOS: NOKIO KOIKE@ASE2024 E FOTO FAMÍLIA@ASE2024
Na infância, o brinquedo preferido de Senna era o kart - FOTOS: NOKIO KOIKE@ASE2024 E FOTO FAMÍLIA@ASE2024

Na infância, a brincadeira favorita de Ayrton Senna da Silva (1960–1994) já entregava que seu destino estaria ligado às pistas. Nascido na capital paulista, ele era uma criança apaixonada por carrinhos e por tudo que estivesse relacionado ao universo das quatro rodas. “Sentava no colo do meu pai, no carro, e mandava a ver! Comecei a guiar o kart com quatro anos de idade”, contou ele, em uma entrevista.

O primeiro kart foi feito pelo pai, Milton Guirado Theodoro Da Silva (1927–2021), que produziu o brinquedo com um motor de máquina de cortar grama. Milton, aliás, foi um dos maiores incentivadores e apoiadores do ídolo. “Foi meu pai quem me colocou ali e acabei gostando da brincadeira, ele me ensinou tudo e me apoiava. Eu fui em frente! Na minha família não tinha ninguém que pilotava, fui o único louco”, brincou ele, em papo com Jô Soares (1938–2022), em 1989.

Em casa, o futuro piloto dividia as brincadeiras e traquinagens com os irmãos, Viviane (66) e Leonardo (58). “Ele não parava, tudo ele fazia com pressa. Era irriquieto, mas era educado ao mesmo tempo. Quando eu saia com ele, precisava segurar as duas mãos, senão ele derrubava tudo”, lembrou a mãe, dona Neyde Joanna Senna Da Silva (84).

Na escola, era aplicado, mas também gostava de correr contra o tempo. “Ele era um bom aluno, mas fazia a lição 10 minutos antes de ir para aula. A freira do colégio chegou a pedir para eu colocar Ayrton em um clube durante as férias, porque ele tinha muita energia. Não tinha jeito, com ele era tudo muito rápido”, emendou a mãe. Para conseguir se divertir com os amigos, ele fazia tudo que fosse possível, até pular a janela e portão de casa.

Seu desenho preferido era o Speed Racer, uma produção japonesa cujo protagonista era, claro, um piloto. Inspirado no personagem, aos nove anos, ele já sabia dirigir! Ele ainda era fã do herói do momento, o Nacional Kid, também japonês. Cauteloso, o pai deixava Senna pegar alguns carros na fazenda da família. Ele se sentava na ponta do banco e esticava os pés para alcançar os pedais. “Uma vez eu fiquei nervoso, porque o gerente da fazenda me disse que o Ayrton estava andando em um jipe e não pisava nem uma vez na fricção. É tudo no tempo”, comentou Milton, que costumava encher um caminhão com karts e levar o filho e os amigos para brincar aos finais de semana.

O local preferido para as ‘corridas’ era na parte alta do bairro Palmas do Tremembé, na zona norte paulistana, onde ele cresceu. Com o tempo, Senna foi ganhando autonomia e, aos sete anos, já levava seu kart à oficina de um amigo do pai para engraxar as rodas. Já na fazenda, Senna se divertia com a irmã, Viviane, em cima dos carros de boi: a aventura da dupla era garantida.

Foi ainda na infância que surgiu o seu primeiro apelido, Beco. Inicialmente o chamavam de Caneco, mas a prima Lilian, ainda muito pequena, não conseguia pronunciar a palavra e o chamava de Beco. O nome pegou e o acompanhou até a vida adulta, quando ganhou uma variação, Becão. Tímido e discreto, ele era torcedor do Corinthians e, apesar de gostar de futebol, nunca levou muito jeito com a bola. “Na verdade, nunca fui fanático por futebol”, chegou a confessar ele.

Segundo a família, o ritmo para lá de acelerado de Senna o fazia protagonizar inúmeros tombos e tropeços. A mãe chegou até a levá-lo ao neurologista e o diagnóstico foi tranquilizante: o menino só era acelerado! O jovem também era canhoto, fato que rendeu uma proposta inusitada de sua professora. Ela queria ensiná-lo a usar a mão direita. Dona Neyde não deu ouvidos à educadora. “Minha mãe ficava no pé do meu pai para tirar o kart de mim quando eu ia mal na escola”, confessou o ídolo. Estripulias também integravam a infância do gênio das pistas. Aos três anos, ele andava para baixo e para cima com um estilingue pendurado no pescoço. Por sorte, não mirava o objeto em ninguém. Em casa, seu fiel companheiro era o cão Ford, nome que entregava sua paixão pela velocidade.

Com os negócios da família prosperando – Milton montou uma metalúrgica e passou a ser fornecedor de indústrias automobilísticas, além de empreender na área da construção civil e como criador de gados –, Senna teve uma infância tranquila, estudou em escolas particulares, costumava viajar nas férias, mas nunca perdeu a humildade, traço que seus pais sempre fizeram questão de ensinar. “Tudo que alcancei até hoje devo à minha família e aos meus pais”, dizia o piloto, já na vida adulta.

Em uma das viagens para a casa de praia da família, em Itanhaém, no litoral de São Paulo, Senna, com apenas oito anos, voltou para a casa acompanhado de um delegado. O motivo? Ele foi flagrado dirigindo sozinho a caminhote do pai. O delegado, inclusive, chegou a achar que o carro estava se deslocando sozinho, já que Senna era muito pequeno e não era visto pela janela. O episódio, que inicialmente foi um enorme susto, com o tempo, virou sinônimo de risadas entre a família e os amigos. Aos sete anos, Senna começou a dirigir um kart profissional e sua habilidade chamava a atenção dos amigos, que ficavam de boca aberta com sua maestria ao volante. As competições, no entanto, ainda não faziam parte de sua jornada, já que a idade não permitia. O jeito era competir com os amigos!

Para além da paixão pelos carros, Senna tinha uma paixão pela vida e, desde pequeno, era acostumado a expressar gestos de carinho. “Certa vez, acho que aos 12 anos de idade, ele comprou uma rosa e foi levar à casa de dona Nídia, uma das professoras pela qual ele tinha um carinho especial. Quando nos encontramos, a professora me agradeceu, certa de que a iniciativa tinha sido minha e não do Beco. Surpresa, eu perguntei a ele porque quis dar uma flor para a sua professora. Ele me abraçou e simplesmente retrucou: foi saudade, mãe. Tive saudade da professora e comprei uma flor para ela”, falou dona Neyde. O espírito solidário também era sua marca. Certa vez, prometeu dar de presente uma bicicleta a um jovem menino e cumpriu! O garoto bateu à porta da casa, ganhou o presente e foi embora todo feliz!

FOTOS: NOKIO KOIKE@ASE2024 E FOTO FAMÍLIA@ASE2024