À frente da ONG Selo Amor Espresso, Fernanda muda vidas desde a fazenda até sua cafeteria, aliando Agro, sustentabilidade e impacto social
Descendente de agricultores italianos, Fernanda Samaia Sabará, 31 anos, lidera uma "revolução" no cenário cafeeiro. Sua ligação com o agro vem de seu tataravô, imigrante vindo após a Segunda Guerra Mundial, que plantou as primeiras sementes do grão em Brotas, no interior de São Paulo. Mais do que dar continuidade a essa tradição, Fernanda trouxe inovação. Além de auxiliar o pai a gerir a fazenda de café especial, ela fundou a ONG Selo Amor Espresso, que já capacitou 68 mulheres como baristas, unindo sustentabilidade, responsabilidade social e café - servido em sua própria cafeteria, na cidade de São Paulo.
Foi enquanto estudava psicologia na Universidade da Califórnia, em Los Angeles, que Fernanda, ao trabalhar em projetos sociais, conectou-se profundamente com a causa feminina. Entre a faculdade e a aplicação de seu mestrado sobre mulheres que sofreram grandes traumas, Fernanda trabalhou na Valley Economic Development Center, uma organização sem fins lucrativos parceira de grandes bancos, que ajuda pequenos empreendedores a começar o próprio negócio através de microcréditos e aulas técnicas. Seu papel era, principalmente, conversar com mulheres e entender se aquele crédito seria benéfico ou não para elas, com base na análise de suas situações familiares e psicológicas. Através dessa experiência, ela moldou sua visão sobre a importância da autonomia financeira e gestão emocional para a independência feminina.
De volta ao Brasil em 2019, Fernanda, junto à amiga Maria Alexandra Suaiden, 34 anos, fundou a ONG Selo Amor Expresso, combinando treinamento técnico e apoio emocional para capacitar mulheres. A iniciativa é uma maneira prática de aproximar sua formação profissional com os negócios agrícolas de sua família. Isso porque a ONG oferece cursos de formação de baristas, visando proporcionar autonomia financeira e transformação de vidas por meio do café. Além disso, ela gera um selo às cafeterias parceiras, que empregam as mulheres formadas e que destinam uma porcentagem de seus lucros para o projeto social, como a famosa cafeteria Pati Piva.
“Muitas vezes, por estar em uma situação de extrema vulnerabilidade, a mulher faz um curso técnico; porém, não está pronta para, sozinha, transformar essa capacitação em autonomia financeira e emprego. A ONG surge nesse contexto para agregar em mais essa jornada. Hoje, das 68 mulheres formadas, já conseguimos empregar 54”, explica.
As atividades começaram dentro da Favela Conjunto Parque Novo Mundo, zona norte de São Paulo. Porém, com o rápido crescimento, surgiu a necessidade de uma sede própria e de fácil acesso, para viabilizar o atendimento de mulheres vindas de diversas regiões, não mais apenas daquela comunidade.
Foi então que, em 2022, a missão de Fernanda expandiu-se com a criação da cafeteria Amor Expresso, junto ao irmão Rodrigo Samaia, 34 anos, e de mais uma sócia, Maria Júlia Andrade, 27 anos. Localizado no bairro Jardins (SP), o empreendimento é a chave para o fechamento do ciclo de propósito da empresária. Afinal, além de comercializar o café especial e sustentável de sua fazenda familiar e de parceiros, a cafeteria também direciona uma porcentagem das vendas de volta ao projeto social e emprega as mulheres formadas pela ONG. Assim, Fernanda personifica a sinergia entre o agro e a inovação social, transformando vidas.
O batismo da cafeteria como "Amor Espresso" representa a essência de seu trabalho e também resultou na mudança do nome da fazenda de seu pai: antes Fazenda Santa Luzia, hoje Fazenda Amor Espresso. Lá, a atuação de Fernanda foi fundamental, sendo a força propulsora por trás da transição da fazenda de café tradicional para café especial - sua especialidade. Na plantação, ela orienta seu pai para o uso de técnicas sustentáveis, entendendo que a Agrofloresta pode beneficiar tanto a natureza, quanto a qualidade do grão. Também abriu a própria torrefação, acompanhando então todas as etapas da produção do café, do terroá à xícara.
“Eu tinha morado 11 anos longe da minha família. Quando voltei, queria estar conectada com eles de alguma forma e acabei estudando sobre o mundo do café. Vi que o café especial tem muito espaço para o crescimento no Brasil e incentivei a transição da nossa fazenda em Brotas, onde conseguimos produzir um café de alta qualidade e garantir a rastreabilidade do grão servido nas bebidas da cafeteria Amor Espresso”, afirma Fernanda, que em breve inaugurará uma segunda unidade no bairro de Pinheiros, em São Paulo.
O café ocupa um lugar muito especial na vida da empresária e de toda a sua família. Ela e seu marido Filipe Sabará, 40 anos, não abrem mão de preparar o próprio café todos os dias. Inclusive, quando viajam, eles carregam consigo seus grãos, para não perderem o hábito, independentemente do destino. Ela afirma que o momento do café virou seu principal ato de autocuidado e a demonstração de afeto e serviço com a sua família. Para ela, a bebida carrega o poder de conectar gerações e, mesmo com o passar do tempo, se mantém vivo nas mesas dos brasileiros, principalmente na sua.