Quando completou 40 anos, Diane von Furstenberg disse que era a hora de se tornar um mito. Perto de completar 70, e quase quatro décadas depois de criar o icônico vestido-envelope, ela afirma que ainda não alcançou esse status. “Não acho que sou um mito porque ainda estou trabalhando! Cada novo dia é uma oportunidade para definir meu legado”, diz em entrevista exclusiva ao CARAS Fashion. Sempre antenada, Diane não perde oportunidades de se renovar e surpreender. Em seu desfile na Semana de Nova York, em setembro de 2012, por exemplo, o Google Glass – óculos high-tech que possuem câmera e conexão com a internet – usado pelas modelos roubou a cena.
A própria designer e o fundador do Google, Sergey Brin, também entraram na passarela utilizando o dispositivo. “Moda e tecnologia são muito próximas”, diz Diane. “As duas são reflexos da sociedade e seu comportamento”. Para completar a brincadeira, dias depois da apresentação, um vídeo com imagens gravadas com os óculos durante o desfile e no backstage foi publicado na internet.
Filha de pai romeno e mãe sobrevivente dos campos de concentração, Diane nasceu em Bruxelas, na Bélgica. Estudou em colégios na Suíça, Inglaterra e Espanha. E foi durante um período de férias nos Alpes Suíços que conheceu o príncipe Eduard Egon von und zu Fürstenberg, seu futuro marido. Em 1969, casou-se grávida e foi morar em Nova York. Nos Estados Unidos, mesmo sem precisar trabalhar, buscou sua independência abrindo sua própria marca.
E se a origem nobre do marido abriu portas, nenhuma delas teria permanecido aberta após o fim do casamento, em 1973, se não fosse pelo seu trabalho. Apesar da separação, ela manteve o sobrenome do ex e, hoje, divide seu tempo entre um império fashion, que vende suas criações em mais de 70 países, e a rotina de ser mãe de dois filhos e avó de três netos. A seguir, ela relembra sua trajetória e afirma que o mundo será melhor quando as mulheres descobrirem seu próprio poder.
Em seu desfile de primavera-verão 2013, você e suas modelos usaram o Google Glass. Como foi a experiência?
Foi extraordinário. A filmagem permitiu que as pessoas sentissem o show pelos olhos dos envolvidos no processo. Eu, as modelos, a passarela. O vídeo ficou incrível, porque a câmera realmente mostrou o ritmo das modelos, as luzes fortes e como é estar ali naquele momento.
Esse seu desfile foi definido como “despretensiosamente glamouroso”. Esse é o seu estilo também, uma princesa rebelde?
Bem, tecnicamente, não sou mais uma princesa. Mas continuo rebelde. A DVF é bem glamourosa, mas também fácil. A Palazzo, minha última coleção, foi inspirada na minha vida de princesa do jet set nos anos 1970. Podíamos viajar por todo o mundo e jantar em lugares superaristocráticos, mas depois trocar as roupas mais formais por um vestido curtinho e ir para o clube. Esse desfile capturou bem esse contraste entre a princesa e a cigana.
Quando você tinha 28 anos, a revista Newsweek a chamou de “a mulher mais vendável na moda desde Coco Chanel”. Na época você tinha vendido 5 milhões de vestidos-envelope. Hoje esse número é bem maior.
Eu não tinha ideia que o vestido se tornaria um fenômeno. Ele realmente começou com o tecido – o jérsei de seda que destacava o corpo em uma saia e uma camisa. E pensei que era tão bonito que fiz um vestido. Aquele vestido acabou por representar tudo o que as mulheres queriam naquele momento — liberdade, independência, força, confiança e se sentir como mulher.
Você apoia a Vital Voices, ONG que ajuda líderes mulheres pelo mundo e criou o DVF Awards para premiar e dar subsídios às mulheres de destaque em suas comunidades. Por quê?
Por causa da minha mãe, eu cresci consciente da força de uma mulher e ela me ensinou desde cedo que o medo não é uma opção. Nunca me esqueci disso. Também nunca encontrei uma mulher que não fosse forte, mas encontrei várias que não conheciam sua força. Então, na minha vida, eu trabalhei para capacitar mulheres por meio da moda, da filantropia e da orientação. Preparar mulheres é muito importante. Todos nós sabemos que sociedades que investem na mulher social, política e economicamente são propensas a promover os direitos humanos em geral. Então, capacitar uma mulher é capacitar o mundo.
Nos anos 1980 você vendeu a empresa e ficou fora do mercado por 15 anos. Qual o segredo para voltar?
Aprendi muito da primeira vez e voltei mais forte e mais certa do que queria. Construí uma empresa inspirada por mulheres de todo mundo e trabalho para inspirar todas elas.
Em 1998, você publicou o livro Diane: A Signature Life. Hoje, quais páginas acrescentaria nessa história?
Não gostaria de acrescentar páginas naquele livro porque ele conta a história que era significativa naquele momento. Mas há mais histórias da minha vida agora. Tenho aprendido mais sobre construir um negócio e balancear o trabalho com uma família em crescimento. Então eu poderia falar sobre isso. Como pessoa, todos os dias você está crescendo e aprendendo.
A sua marca acompanhou as suas mudanças pessoais?
A marca é um reflexo dos meus valores e ela nasceu do meu desejo de ser uma mulher forte e independente. Minha empresa me permitiu ser a mulher que eu queria ser – eu me tornei essa mulher. Agora, minha empresa é um caminho para permitir a outras mulheres que elas se tornem a mulher que querem ser!
Você é uma mulher antenada e sempre faz novas parcerias dentro e fora da moda. Qual a razão disso?
A moda tem um poder tremendo. Ela fala muito sobre uma pessoa, um tempo, um lugar. A moda é uma forma de expressão e o que “está na moda” vai muito além de um vestido ou uma cor... É tudo.
Você, aparentemente, sempre gostou de trabalhar com mulheres, mas até hoje os diretores criativos da DVF costumam ser homens.
Acredito que seja uma coincidência que até hoje os diretores criativos da DVF tenham sido homens, porque não se trata apenas disso. Na verdade, é sobre achar alguém para dividir uma visão e fazer acontecer!
Quando você fez 40 anos, disse que era o momento de se tornar um mito. Atualmente, Diane von Furstenberg é um mito?
Não acho que eu sou um mito porque ainda estou trabalhando! Cada novo dia é uma oportunidade para definir meu legado. Sempre tento honrar o passado, viver no presente e sonhar para o futuro.
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