Viagem interior e descobertas no clima da temporada Caras/Neve
Mais introspectiva do que extrovertida, calada do que falante. Tímida, fechada, preguiçosa. Analisando sua própria personalidade, Deborah Secco (32) se identifica bem mais com o inverno do que com o verão. Totalmente ambientada ao clima da temporada CARAS/Neve, em Villa La Angostura, Argentina, a atriz conta que precisou de uma certa frieza de espírito para se descobrir. E não foi simples. “Muita gente estranha, até me desconhece, mas hoje só faço o que gosto e aprendi a falar não”, celebra. Entre os planos, começa a gravar a segunda temporada da série Louco por Elas, estuda vários convites para o cinema e quer realizar um sonho de infância: ser mãe. “Tenho uma relação cada vez mais saudável, madura e consistente”, diz, referindo-se ao ex-jogador Roger Flores (33), com quem está casada há seis anos.
– Por que inverno?
– Acho que sempre fui. Na análise descobri, nasci com a função de querer agradar. Tinha uma irmã doente, Ana Luisa, faleceu na infância. Fui a filha que veio depois, para trazer alegria. Então, para isso, me adequava às situações. Queriam alguém alegre e feliz, fui essa pessoa. Com o tempo, apreendi, não tinha que parecer o que não era para que gostassem de mim.
– E como se encontrou?
– Autoanálise. Passei a fazer coisas de que realmente gosto e vi que ninguém tem que agradar a todo mundo. Deixei até de usar roupas que não traduzem mais a pessoa que sou porque estavam na moda. Muita gente vai estranhar? Vai. Outro dia, uma amiga que não via há anos falou que estou irreconhecível na forma de vestir, ser, falar. Então, poucas pessoas me conhecem. E assim quero que continue.
– E qual o próximo sonho?
– Minha analista falava sempre: se você não tem expectativa, não tem frustração. Tenho muitos anseios, crescer profissionalmente, aprender, fazer mais cinema, teatro, personagens que me desafiem. Mas, objetivamente, já realizei tudo. A ansiedade da conquista, acabou. Assim, consigo dar mais valor às pequenas coisas, a cada trabalho que aparece, não é mais necessidade, é acréscimo. Mesmo financeiramente, o que tenho é muito mais do que sonhei. Então, cada coisa nova é para ser curtida ao máximo, não mais obrigação.
– E virar mãe na vida real?
– Filho, Deus manda. Às vezes, a gente quer muito e não consegue ou não pode. Fico muito apreensiva em estabelecer um prazo, criar expectativa. Na hora certa, virá, rezo muito para que eu possa ter filhos, para que eles venham com saúde, engrandecer ainda mais minha vida. É só o que falta. Espero que seja em breve, não queria ser mãe velha, mas também a pressão, às vezes, faz mal. Vira obsessão.
– Você começou a vida profissional muito cedo, perdeu algo?
– Se tivesse que fazer um balanço, repetiria tudo. Sou feliz com minhas conquistas. Mas há um exemplo próximo, minha irmã, Bárbara, e as diferenças são gritantes. Tenho pouquíssimos amigos; ela tem muitos, do colégio, da faculdade, toda semana sai para jantar com eles. Sinto falta dessa vida social mais ativa. Mas não tenho. Faz parte da minha história. Hoje aceito. Sou assim, preguiçosa para manter contato. Gosto da solidão, minha fuga criativa. Preciso da reclusão para construir, entrar em universos diferentes dos meus. Quando meus poucos amigos precisam de mim, largo tudo e vou estar com eles. Eles sabem que os amo profundamente e me sinto amada profundamente, mas com uma distância e um vazio. Não ter essa capacidade de ser presente é o que mais me frustra como pessoa.
– E isso não pode ser mudado?
– Estou começando a achar que não dá mais, certas coisas na gente não são mutáveis. Da mesma forma que não posso mudar o outro, não posso me mudar. Minha essência é essa. Mas estou cada vez mais feliz assim.
– Solidão para você então não é sinônimo de tristeza?
– Muito pelo contrário. Minha solidão é necessária, é dos momentos de maior prazer, preciso dela para criar. Ficar só não é triste.
– Como recebeu a notícia de que o Roger parou de jogar?
– Nunca vi lado bom em casamento à distância. É ruim, cansativo, a saudade dói. A gente não casa para ficar longe. Mas ele precisava achar que a hora havia chegado. Era meu maior sonho. Foram seis anos de lá para cá, distâncias foram maiores ou menores, mas a gente nunca pôde ficar efetivamente junto, construir uma base, nossa casa. Sempre existiram as nossas casas. Isso era horrível. Ter uma vida normal é um desejo forte que começo a realizar.
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