Confira destinos para apreciar os encantos naturais, culturais e gastronômicos da rota maranhense
O Maranhão talvez seja o estado brasileiro que apresenta a maior diversidade de ecossistemas do Nordeste. A capital do estado São Luís reúne atrativos culturais, naturais e históricos e apresenta uma gastronomia ímpar, que mescla receitas de negros, indígenas e europeus. Além da capital São Luís, outras cidades compõem a região metropolitana: Raposa, São José de Ribamar e Paço do Lumiar. Alcântara tem muito a oferecer em termos de passeios e atrações naturais, históricas e culturais.
Na primeira vez em que estive em São Luís fiquei apaixonado pela gastronomia, história, cultura e beleza das praias, dos rios e dos majestosos mangues. As praias da orla estão totalmente saneadas e a cidade oferece hotéis modernos, ótimos restaurantes e um trabalho intenso para valorizar o turismo sustentável, o que tem proporcionado avanços grandiosos.
A primeira experiência de roteiro foi realizar um passeio náutico na praia de Raposa, onde conferimos o cultivo do marisco, além de conviver com a exuberância do maior manguezal do planeta, terminando nosso passeio nas chamadas “Fronhas Maranhenses”, considerada um pequeno exemplar dos Lençóis, em plena região metropolitana de São Luís. A praia de Acari foi onde aportamos. Ela é praticamente deserta, tem enormes dunas, o banho de mar é quentinho e a base da economia local é a pesca artesanal do camarão.
A cidade de Raposa fica na parte litorânea da Ilha de São Luís, a menos de 30 km do centro histórico.
70% da área do município é formada por enormes manguezais. Neles, aves do Alasca e do Canadá fogem do rigoroso inverno e vem se reproduzir e se alimentar de sururu, sarnambi e várias espécies de caranguejos.
Raposa é uma das mais antigas vilas de pescadores do estado. Grande parte da população ainda reside em palafitas e as mulheres ajudam na renda da família, cultivando a arte do artesanato de rendas de bilro, tradição trazida dos Açores. O Corredor de Rendas é uma rua com mais de 20 lojinhas que comercializam produtos exclusivos dessa arte milenar.
Depois de passear de barco, comprar as rendas e experimentar o marisco fresquinho numa fazenda local,
coordenada pelo Sr. Juvêncio, chegou a hora do almoço. Minha dica é o Restaurante Natureza. Lá experimentamos o arroz de cuxá e pratos à base de peixes, além do delicioso vatapá maranhense.
Fundada pelos franceses em 1612, entre os rios Anil e Bacanga, como projeto do governo francês em estabelecer nas Américas a França Equinocial, São Luís homenageia ao mesmo tempo o rei francês à época da fundação, Luís XIII, e o patrono da França, o rei medieval Luís IX. Foi logo tomada pelos portugueses em 1615. Também tomada no século XVII pelos holandeses, foi novamente invadida e reconquistada em definitivo pelos portugueses em 1645, marcando a época da ocupação na região norte, até então ignorada pela Coroa Portuguesa.
Para os tupinambás, principal povo indígena local, a região se chamava Upaon Açu (Ilha Grande). Esta abrigava cerca de 30 etnias indígenas no século XVII, totalizando cerca de 250 mil pessoas. A maioria dos povos desapareceu em razão da escravidão, das doenças, da apropriação de suas terras e da imposição cultural europeia que destruiu as bases culturais desses povos. Hoje são 35 mil indígenas no Maranhão, de 8 etnias e mais 3 em processo de afirmação cultural, lutando para que sua história, sua língua e seus costumes não se percam.
A escravidão de povos africanos se deu com mais intensidade no final do século XVIII, considerada tardia
em relação ao restante do Brasil. Vinham principalmente de Costa do Marfim (os “mina”), Angola e Guiné-Bissau, para trabalharem nas lavouras de arroz e algodão. A entrada de escravizados africanos foi tão expressiva que, no início do século XIX, a população negra já representava 55% dos moradores do Maranhão.
Com a ocupação extremamente rarefeita, a fuga dos escravizados contribuiu para a formação de diversos quilombos, que se estabeleceram ao redor da maioria das fazendas do estado. Muitos grupos remanescentes desses quilombolas reivindicam suas terras originais como maneira de preservar seus costumes e tradições.
Vale visitar em Alcântara a comunidade de Itamatatiua e conferir o trabalho artesanal das ceramistas locais. A mistura de povos é a responsável pela riqueza das manifestações culturais maranhenses, como o bumba-meu-boi, o tambor de crioula, o cacuriá (dança presente nos festejos do Divino Espírito Santo) e as tradicionais festas juninas, patrimônios imateriais brasileiros.
São José de Ribamar é bucólica e tranquila. Fica a 32 quilômetros de São Luís e tem vários atrativos, como: praias, comidas deliciosas à base de frutos do mar (destaque para o tradicional peixe-pedra frito) e
histórias que exploram a figura do santo padroeiro São José. Segundo a lenda, a igreja da cidade teria desabado duas vezes até ser construída de frente para o mar, como era o desejo do Santo. Em setembro, uma grande festa em homenagem ao padroeiro acontece no período da lua cheia, atraindo milhares de fiéis à cidade.
O Museu dos Ex-Votos guarda objetos pagos em promessas. A Gruta de Lourdes é uma réplica da gruta existente na França; foi construída em 1957. As Praias do Caúra, Panaquatira e Boa Viagem são desertas e com belas paisagens naturais. Boas para banhos e prática de esporte. O Carnaval do Lava-Pratos acontece quando o carnaval termina em todo o Brasil, e começa em São José de Ribamar. O tradicional evento ocorre no domingo seguinte ao da folia oficial. Agremiações carnavalescas e milhares de foliões invadem a pequena cidade balneária e tudo vira uma grande festa.
Passear no Centro Histórico de São Luís e conhecer a história de cada beco e dos muitos casarões antigos é uma experiência encantadora. Além de propiciar uma viagem no tempo, o passeio nos traz a certeza da beleza e do charme dos mais de 4 mil casarões, distribuídos por mais de 220 hectares, tombados como Patrimônio Mundial da Humanidade pela Unesco desde 1997. Os casarões seculares, em sua maioria, revestidos de azulejos portugueses pintados à mão, compõem um dos mais importantes conjuntos arquitetônicos da América Latina.
Formado pelos bairros da Praia Grande e Desterro, a região concentra hoje museus, centros de cultura,
teatros, cinema, bares, restaurantes, feiras e uma infinidade de lojas de artesanato. Estão ali também praças, becos, fontes, escadarias, ladeiras e algumas das mais belas ruas da parte histórica da cidade, como as Ruas Portugal e do Giz e o Largo do Comércio.
O Palácio dos Leões, sede do governo estadual, a Catedral da Sé, os palácios Episcopal, La Ravardiére e Cristo Rei, o Teatro Arthur Azevedo, entre muitos outros, são um prato cheio para quem adora se perder na história dos anos de ouro. Construídos pelos senhores que comandavam a produção de algodão na
região, os solares e sobrados representam o apogeu econômico da cidade.
Neste belíssimo cenário, a culinária também é atração. Não tem como não se deixar seduzir pelos sabores regionais do imperdível arroz de cuxá, da caldeirada de camarão e frutos do mar, dos sucos de bacuri e cupuaçu, além do tradicional doce de buriti. Foram tantos os temperos e influências de europeus, indígenas, africanos e outros povos, que a culinária maranhense só poderia dar no que deu: uma conjunção exuberante, inigualável de sabores e receitas.
Na hora de comer, confira o Buffet do Restaurante do Senac, um dos mais saborosos da cidade. Quem preferir variar, pode experimentar o ateliê gastronômico da Casa de Juja ou os dois consagrados restaurantes da orla, o Feijão de Corda e Cabana do Sol.
A área do Centro Histórico é fechada para o trânsito de veículos. A Praia Grande é perfeita para passeios a pé. Use tênis e sapatos baixos. Os pisos das ruas são de paralelepípedos. Recomenda-se usar roupas leves, protetor solar e estar sempre hidratado.
O roteiro pode começar pelo Palácio dos Leões. Com três mil metros quadrados de área construída, com o primor da arquitetura neoclássica, fica em frente à Baía de São Marcos e serve de residência oficial e sede do Governo do Maranhão. Tem esse nome devido aos leões de bronze que guardam suas entradas.
Erguido sobre o que um dia foi o Forte de São Luís, ganhou forma de palácio em 1776, quando o Governador Joaquim de Mello e Povoas remodelou a construção com materiais aproveitados da extinta casa dos jesuítas em Alcântara. Completamente restaurado, merece uma visita.
A Rua Portugal é uma das principais ruas do Centro Histórico de São Luís, onde se concentravam os estabelecimentos comerciais mais importantes da época de sua construção. Ainda hoje mantém suas raízes, pois possui diversas lojas e comércio ativo. É um polo onde se encontram o Museu de Artes Visuais e a Casa de Nhozinho (Museu que homenageia o artesão maranhense Antônio Bruno Pinto Nogueira que, ao longo da vida, confeccionou brinquedos e figuras do folclore em buriti).
O Largo do Comércio é típico de uma cidade colonial. Muito da história ludovicense aconteceu aqui. Durante os séculos XVIII e XIX, este logradouro da Praia Grande era utilizado para o comércio e hoje abriga bares, restaurantes, lojas e quiosques turísticos. Já o Museu de Arte Sacra está situado num solar com fachada de azulejos, onde residiu o Barão de Grajaú. Seu acervo pertence à Arquidiocese de São Luís, é composto por peças dos séculos XVIII e XIX em estilos rococó e neoclássico.
Com uma escadaria de 35 degraus, o Beco Catarina Mina tem pedras de lioz, datadas do século XVII. Tem esse nome em homenagem à Catarina Rosa Pereira de Jesus, uma bela mulher da região da Costa da Mina, na África, de onde vieram parte dos grupos escravizados para o Maranhão. Mantinha uma loja no local e fez fortuna graças ao seu trabalho. Comprou sua alforria e de vários amigos, e transformou-se em senhora de escravos, passando a ser vista pela cidade seguida por um cortejo de mulheres caprichosamente vestidas.
Vale ainda visitar o bairro de Maracanã e vivenciar a rota da Juçara e ir ver o barracão do Boi local. Outra dica interessante é se aventurar no passeio de barco pela Bahia de São Marcos (operado pela Brittur Turismo) e visitar o espetacular Estaleiro Escola. Antes de concluir visite o Sítio Piranhenga para relembrar a época dura e sofrível da escravidão.
Além do Centro Histórico repleto de casarões e calmaria, as praias de São Luís são um espetáculo à parte. O Maranhão possui um litoral com cerca de 640 km de extensão, o que o torna o segundo maior do Brasil, ou seja, tudo conspira para uma das melhores experiências de sol e praia. A maioria delas tem larga faixa de areia, mangues, dunas, vegetação rasteira e orlas urbanizadas. São dezenas de opções de bares e quiosques.
As águas da ilha são propícias aos esportes náuticos como surfe, kitesurf, windsurf e voos de ultraleve. As mais visitadas são: Praia da Guia, Praia da Ponta, Praia de São Marcos (Marcela), Praia do Calhau, Praia do Caolho a Praia do Olho D´Água – Praia tradicional e uma das mais bonitas de São Luís fica a 10 Km do centro, possui faixa larga de areia branca e fina e dunas que chegam a atingir mais de 10 metros de altura, morros e falésias e a Praia do Meio com areias amareladas e batidas, ondas fortes no verão, quando a água fica mais clara. Propícia para prática de windsurf e voos de ultraleve.
Alcântara foi a primeira cidade maranhense tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional, em 1948, como cidade-monumento. Cercada por praias e ilhas desertas, a serena e tranquila, Alcântara pode se orgulhar de ser também a mais importante cidade histórica da Amazônia. Seu casario colonial preservado e imponente e o silêncio de suas ruínas guardam reminiscências de um passado
glorioso, um tempo de riqueza, de famílias nobres e numerosa população escrava.
Os atrativos começam logo na descida do barco, no Porto do Jacaré e subindo a ladeira de mesmo nome, que conduz ao coração da cidade: o largo onde se encontram as ruínas da Igreja da Matriz, a antiga cadeia e o pelourinho, ícones máximos das sociedades coloniais e escravagistas brasileiras, as igrejas coloniais, as fontes e os museus.
Todo o centro antigo pode ser visitado a pé. Tão importante quanto apreciar os monumentos é ouvir dos moradores ou guias turísticos locais as histórias que tornam Alcântara ainda mais encantadora. Por todo o centro histórico da cidade, o calçamento é de pedra e algumas ladeiras, como a do Jacaré, exigem fôlego. Além disso, o sol e o calor normalmente são intensos, o que sugere o uso de protetor solar, óculos escuros, tênis e roupas leves.
Chegar à Praça da Matriz de Alcântara significa adentrar ao coração da cidade. Muito mais que sua arquitetura diferenciada, a praça, cercada por elegantes construções coloniais, representa o local dos acontecimentos sociais da cidade, algo como a Plaza Mayor das cidades hispânicas.
Nesse espaço, onde ainda hoje pode ser visto o pelourinho utilizado nos tempos da escravidão, se concentram atividades vitais e representativas do sistema democrático alcantarense, como a Prefeitura e Câmara dos Vereadores, Cartório, Museus e Fórum Municipal.
Outro local interessante é a Casa do Divino que é abrigada num Casarão em estilo colonial com balcões
de sacada de ferro, portais emoldurados com pedra de lioz e azulejos. O local, também chamado de museu, é reservado para a guarda de objetos ligados ao Divino Espírito Santo, a tradicional e mais importante festa religiosa da cidade. Vestimentas, instrumentos, estandartes, altar e joias estão expostos para apreciação dos visitantes.
A Casa de Câmara e cadeia deve datar do final do século XVIII. Atual Prefeitura Municipal e Câmara de Vereadores de Alcântara chegou a abrigar a Penitenciária Estadual até meados do século XX. Uma das construções mais surpreendentes da cidade, encontra-se isolada, com merecido destaque, no conjunto da Praça Matriz. Abrigando antigas celas no seu andar inferior e uma das mais belas vistas da Ilha do Livramento.
Parte da história de Alcântara fica no Museu Histórico e Artístico. Nele são retratados o modo de vida dos seus moradores e da religiosidade da sua gente. Esse museu ilustra a opulência da cidade quando esta era habitada por barões.
Instalado em um casarão colonial do século XIX, revestido de azulejos portugueses na fachada, o Museu de Alcântara tem um acervo precioso. São pinturas, peças de mobiliário, louças, objetos de adorno e de arte sacra com exemplares de santos maranhenses dos séculos XVII ao XIX, além de vitrines que expõem finas joias do tesouro de irmandades religiosas locais.
Em Alcântara, os templos católicos do período colonial formam um capítulo à parte. A começar pela Igreja de São Matias, do século XIX, que não resistiu à passagem do tempo e desabou quase que totalmente, embora suas ruínas permaneçam de pé, formando, junto ao pelourinho e casarões que a circundam, um incomum e belo cartão-postal.
Depois de passar por obras de restauração, a igreja e o convento de Nossa Senhora do Carmo, construída a partir de 1660, se destaca com seus belos painéis de azulejos, esculturas e altares. A Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos merece ser visitada.
Também conhecida como Igreja do Galo, foi construída em 1780 e benzida em 1803 quando recebeu a imagem da santa e de São Benedito, padroeiro do povo negro. No mês de agosto, acontece uma das mais importantes festas religiosas e culturais do município, a Festa de São Benedito.
Sendo os negros proibidos ou desencorajados a frequentarem as principais igrejas da cidade, eram eles obrigados a professarem sua fé na Igreja de Nossa Senhora do Rosário. Prática que, naturalmente, não existia apenas em Alcântara. A Fonte das Pedras foi construída no século XVIII para abastecimento de água. Localiza-se na Rua Pequena, e, na simplicidade de seu estilo, pode-se notar a beleza de suas linhas.
Em Alcântara vale a pena visitar a praia de Mamuna, apreciar as revoadas de guarás a partir da Ilha do Livramento e concluir a visita numa das colônias quilombolas, como a de Itamatatiua. Experimente ir ao Maranhão e aportar em São Luís. Afirmo que 10 dias é pouco para explorar tudo que a região metropolitana oferece.
Por Cláudio Lacerda Oliva
Publicado pela revista Qual Viagem
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