Agredir: do latim aggredere, tendo também o sentido de atacar, assaltar. Está presente o étimo “grad”, do latim gradus, passo, estágio, etapa, pelo fato de que as primeiras agressões não foram verbais: a pessoa se aproximava a passos, lentos ou rápidos, para atacar o desafeto. Se fossem rápidos, aos saltos, era assalto. Esse verbo ganhou muitos outros significados, passando do denotativo para o conotativo, para comparações como: tal paisagem agride os olhos; tal perfume agride o olfato; tal prato agride o paladar; e tal música agride o ouvido.
Charme: do latim carmen, fórmula mágica cantada, com variantes, mas de étimos vizinhos aos de cantar e encantar, pelo francês charme e pelo inglês charm, designando encanto, com o qual consolidou-se.
Epônimo: do grego epónymos, pela formação ep(i), em cima, e ónoma, nome. O português mesclou o latim nomen, nome, mas manteve o prefixo grego. Claudio Cezar Henriques (61), professor da Universidade Estácio de Sá, no livro Léxico e Semântica, explica que “há epônimos sincrônicos, os que têm vínculos referenciais ainda muito nítidos com o antropônimo que lhes deu origem”. Os exemplos são: amélia, para mulher submissa e camões, para um ovo sobre o bife. E prossegue: “E há epônimos diacrônicos, os que só podem ser assim identificados mediante uma informação histórica que contextualize sua criação a partir de um antropônimo.” É o caso de judas, para traidor; de gari, para lixeiro; e de gilete, para lâmina.
Mexer: do latim miscere, misturar, mudando de sentido porque para misturar é preciso agitar, no caso dos líquidos. Mas, por exemplo, ao mexer os ingredientes de uma comida na panela, o que se objetiva é misturá-los ou desarrumá-los no recipiente para que o fogo não queime apenas uma parte, ficando a outra crua. Com tal significado, aparece no romance do escritor e frade mineiro Frei Betto (67) Minas do Ouro, sobre a saga da família Arienim, mineira escrita de trás para a frente: “Enquanto Ambrósio Arienim mexia as panelas de pedra-sabão sobre o fogão de lenha, sua cabeça entranhava-se em confusões. Ouvia Tiradentes falar da pobreza reinante nas Minas e, no entanto, via circular pela casa conjurados que possuíam vastas extensões de terra na Comarca do Rio das Mortes. (...) O alferes inflava a língua ao esbravejar contra a opressão da Coroa portuguesa e, no entanto, possuía escravos e nada dizia quanto à libertação do jugo imposto aos negros trazidos da África. Também o padre Rolim, seu velho conhecido e notório contrabandista de diamantes, participava ali, em companhia de outros sacerdotes, da conspiração destinada a livrar as Minas do domínio lusitano.”
Paneleiro: do latim pannella, diminutivo de panna, frigideira, formou-se panela, de onde, por derivação, surgiu paneleiro, lugar onde as panelas são guardadas, quem as fabrica e em Portugal também a designação chula para homossexual. O feminino paneleira ganhou autonomia para designar a mulher cujo ofício é fazer panela de barro, qualificação passada de mãe para filha há mais de quatro séculos. Esse recipiente é essencial a alguns pratos, como a moqueca. Os ingredientes, como peixe, tomate, coentro e tintura de urucum, não correm risco de extinção, mas elas, sim, pois diminuem a cada ano, uma vez que poucas filhas estão aceitando receber os ensinamentos, embora o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) já tenha reconhecido o ofício de paneleira como bem imaterial do Brasil.
Refestelar: de festa, do latim festa, cujo masculino é festus, dia de regozijo e alegria, em espaços privados ou públicos, étimo presente também em nefastus, de mau agouro. Veio para o latim da raiz indoeuropeia “fes”, ligada a celebrações de cunho religioso e sacerdotal. O prefixo “re” e o sufixo “elar” ampliaram e intensificaram os significados, deslocandoos para o profano. Aparece conjugado no romance Era no Tempo do Rei, do escritor mineiro Ruy Castro (63), intitulando o capítulo “Em que a mulher do meirinho faz a alegria da tropa e o menino Leonardo se refestela nos seios da vizinhança.” E prossegue: “Era a infância que todas as crianças pediam a Deus, mas que só Belzebu podia oferecer. Leonardo não tinha de ir à escola, nem de fazer os deveres, nem de ir à igreja e nem mesmo de trabalhar.”
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